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Criadora de app conta como conseguiu R$ 17 mi de investimento: 'Na raça'

Ana Zucato, fundadora da fintech Noh Imagem: Tiago Queiroz/Divulgação

Caroline Marino

Colaboração para Universa, em São Paulo

04/07/2022 04h00

Novas empresas têm usado a tecnologia para abocanhar uma fatia do mercado oferecendo serviços modernos, que facilitem ao máximo a vida de clientes. Esse é o caso da Noh, uma fintech, como são chamadas as companhias de soluções tecnológicas no setor financeiro, fundada pela paulistana Ana Zucato, 33, em agosto de 2021. Com um aplicativo, a Noh permite que as pessoas automatizem a divisão de gastos, dos boletos de aluguel ao bolão da Mega-Sena. O nome, inclusive, faz um trocadilho com a palavra nó, a situação enrolada em que as pessoas se veem quando precisam dividir despesas.

Aqui, Ana conta como conseguiu enxergar uma possibilidade de negócios em meio a um mercado tão competitivo e dinâmico, e de que maneira conquistou seu espaço, atraindo, inclusive, investimento de peixes grandes, como Biz Stone, um dos fundadores do Twitter. O aporte recebido pela empresa já soma R$ 17 milhões.

"Acreditávamos que o brasileiro precisava de uma solução diferente em meios de pagamentos, e a Noh veio para descomplicar o processo de compras compartilhadas, evitando o mal-estar e a dor de cabeça de ficar cobrando depois", explica Ana. Ao lado da empreendedora estão Octavio Turra (ex-CTO do GuiaBolso) e Felipe Cabral (ex-Quinto Andar).

"Lembro de falar aos investidores: existe um negócio aqui. A dúvida é se vocês acham que sou a pessoa que vai conseguir construí-lo", diz. A rede de relacionamentos de Ana ajudou bastante nesse processo, mas ela ressalta alguns pontos que observou. "Percebi que pediam muito mais detalhes de números, projeção e tamanho de mercado do que para meus amigos homens que estavam captando na mesma época", afirma.

Além disso, ela reparou no quanto eles são mais seguros, mesmo sem muitos dados para mostrar. "Eles vão em busca de investimento mesmo sem produto, sem teste e sem números. Olhava e pensava: ou são muito bons de lábia ou estão loucos", afirma. "O que acontece é que, no geral, os homens, são muito confiantes. Eu fui de passinho em passinho. Construí, testei e aprendi até ganhar a confiança de que tinha um negócio para captar", diz. Em sua visão, o caminho que percorreu é mais vantajoso, gera negócios mais sustentáveis e que se pagam, pois foram pensados e validados antes.

"Mulheres não estão acostumadas a pedir investimentos"

Segundo Ana, outro ponto é a gestão e a cultura da empresa. "Por aqui, atuamos com muita transparência: todos sabem dos resultados, de quanto dinheiro temos e o tempo que ele vai durar até precisarmos de outro investimento", diz. Além disso, o time pode usar o cartão corporativo sem precisar aprovar uma compra e tem direito a férias ilimitadas.

"Acho que, muitas vezes, as empresas tratam os funcionários como crianças, pedindo que justifiquem tudo: quantas horas trabalhou, no que gastou, porque fez determinada coisa. Mas são todos adultos. No caso do cartão, desde o começo orientamos a usá-lo com responsabilidade pensando em pilares como: precisa mesmo gastar? O preço é justo? Estamos todos juntos", completa.

A empreendedora ainda faz questão de ressaltar a importância da parceria entre as mulheres. "Sempre tive mulheres me ajudando na carreira e quero fazer isso também. Depois do aporte, muitas me procuraram para pedir ajuda. E, na maior parte das situações, elas tinham dificuldade de ir atrás de investimentos por pura insegurança, não se tratava de negócio ruim ou de falta de experiência. Era receio de chegar em um investidor e falar: investe na minha empresa. Não estamos acostumadas a fazer isso. Meu conselho é: vai, pede. O pior que vai ouvir é não", completa.

Acredite na sua ideia

"Sempre tive em mente que os brasileiros dividem tudo: aluguel, assinatura de streaming. E as fintechs são sempre voltadas para apenas uma pessoa. Sabia que, em algum momento, apareceria uma solução para auxiliar as pessoas nessa divisão", explica. O primeiro passo foi ligar para um amigo que fazia estrutura bancária e pedir dez cartões pré-pagos para um teste. "De imediato ele disse não, que eu estava doida. Mas expliquei que queria testar algo e ele acabou mandando".

A empreendedora desenvolveu, então, um MVP (Mínimo Produto Viável), no qual o investimento inicial é mais baixo, apenas referente aos recursos necessários para testar o projeto e adaptá-lo, se for necessário. Com isso, poderia validar sua ideia. Em seis meses, o piloto processou R$ 230 mil. "Quando vi o valor, percebi que tinha, sim, um negócio na mão", afirma. Ela ressalta que o aprendizado foi todo "na raça". A partir de então, foi atrás de investimentos.

Ana é formada em administração e trabalhou em algumas startups, como Guiabolso, Intuit e o e-commerce OQVestir. Além disso, foi responsável pela operação brasileira da Truora, uma empresa colombiana que entrou no Brasil entre 2020 e 2021. "Essa atuação complementou as outras, pois, antes de empreender, eu precisava tocar um negócio de ponta a ponta, do recrutamento e seleção a vendas, marketing, cultura e questões bancárias", diz. No total, foram 12 anos de aprendizado que possibilitaram o próximo passo: abrir sua empresa. .

A montanha-russa do empreendedorismo

Ana ressalta algumas características importantes para empreender. A primeira é estar aberto a aprender. "Não sabia fazer folha de pagamento, por exemplo, mas fui em busca de como fazer. Da mesma forma, não sabia se minha ideia inicial daria certo. Mas inovar é isso: se o negócio fosse fácil de criar, não seria inovador e, sim, uma cópia de algo", diz.

A segunda habilidade é a persistência. "Empreender é uma montanha-russa e não podemos desistir na primeira dificuldade", diz. Segundo ela, é normal começar o dia com uma notícia ruim e pensar que tudo acabou e, ao final do dia, o cenário ser o oposto.

"É preciso ter paciência e saber esperar. Nada é tão ruim quanto parece, nem tão bom", ressalta. Isso leva a outra característica: a coragem de ir atrás do que precisa, de perguntar e fazer contatos. "O não você já tem, mas a maioria das pessoas têm medo de ouvi-lo e não pedem ajuda. Eu sempre pergunto à minha equipe, quando alguém diz que não conseguiu algo: mas você tentou?".

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