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Empresa de casamentos pede falência e medo domina dezenas de noivos em SP

Expectativa e realidade? Cerimônia realizada em junho teve decoração iniciada apenas 1h30 antes de cerimônia e resultado foi aquém do anunciado Imagem: Arquivo pessoal

Luccas Lucena

De Universa, em São Paulo

28/06/2022 04h00Atualizada em 28/06/2022 09h56

Dezenas de noivas do estado de São Paulo se dividem entre lembranças de frustração e a aflição de que podem viver um constrangimento que custa caro e compromete um dos dias mais esperados por elas: o dia do casamento. Diversos relatos se multiplicam sobre decorações feitas às pressas, até mesmo durante a cerimônia, com arranjos completamente diferentes do acordado e dificuldade de contato com os fornecedores.

No centro da questão está uma empresa de decoração para casamentos com seis anos de mercado: a Florearte, sediada em Vinhedo (SP), que enfrenta uma crise interna entre as sócias do negócio e constantes denúncias de que estaria praticando estelionato, além de ter dívidas na ordem de R$ 540 mil a cerca de 70 fornecedores. Na última sexta-feira (24), a empresa deu entrada em um pedido de falência.

Segundo fontes consultadas por Universa, ao menos 40 casais já estão em processo de pedido de ressarcimento e rescisão de contratos com a empresa. Na última sexta-feira (24), a empresa entrou com pedido de autofalência, alegando no processo que "não consegue mais remunerar os empregados, nem pagar os fornecedores e prestadores de serviços".

Além disso, afirma não conseguir "exercer o seu objeto social", não possui mais capacidade de geração de lucro e não há "horizonte para a superação da crise econômico-financeira" — em outras palavras, a Florearte alega não conseguir honrar os acordos e não tem prazo para voltar a fazê-lo.

Durante a pandemia, segundo documentos obtidos por Universa, a empresa fechou 2020 com prejuízo de R$ 406 mil, que saltou para pouco mais de R$ 1 milhão em 2021. Por outro lado, dezenas de noivas ficam aflitas por terem contratos para eventos até o fim de 2023.

Em uma publicação no Instagram, a empresa anunciou há 14 semanas que já quase não possui mais datas disponíveis para abril e outubro de 2023 - época de pico nos casamentos e o formulário de solicitação de orçamento foi fechado.

Empresa deixou de receber pedidos de orçamento 14 semanas após anunciar que agendas de 2023 estavam quase esgotadas Imagem: Reprodução/Instagram

Lucila Rodrigues, advogada que representa alguns dos casais, afirmou que já foi procurada por 40 noivas que firmaram contrato com a Florearte e que, por enquanto, tem informações de que a empresa não está mais atendendo.

"Tem casamentos marcados já para os próximos dias, que os noivos estão desesperados. Me parece, a princípio, que seria interessante uma ação coletiva. Não dá para as pessoas cumprirem o contrato se não receberem aquilo que foi acordado", afirmou Lucila, acrescentando que o "sumiço" de atendimento por parte da empresa pode ser passível de ressarcimento por danos morais. "Tenho noiva que gastou quase R$ 30 mil na decoração".

Frustrações e angústias

Juntos há nove anos, Jéssica Fioco e Lucas Akio planejavam o casamento desde 2018, quando contrataram a Florearte. Eles precisaram adiar a celebração de maio de 2020 para junho deste ano por causa da pandemia — e, por isso, pagaram reajustes, investindo R$ 23 mil na decoração. Para a surpresa deles, a empresa não retornou mais os contatos e "sumiu" justo na semana do casamento, que ocorreu no último dia 18, às 16h, em Americana (SP).

Jéssica Fioco e Lucas Akio planejam casamento desde 2018 que estava previsto para maio de 2020, mas as coisas não deram muito certo Imagem: Arquivo pessoal

Mandei mensagem para a pessoa que me atendia lá e alertei sobre o horário: '12h30 e ninguém chegou ainda'. Ela me tranquilizou falando que o caminhão estava para chegar. A decoração só começou a ser montada às 14h30. Durante a cerimônia, eles estavam montando. Antes de entrar, o pessoal começou a me marcar no Instagram e não era nada do jeito que eu tinha contratado, eles economizaram em tudo.
Jéssica Fioco

Além do atraso, entre as frustrações dos noivos estavam o buquê e a decoração do teto: "O buquê de flores estava murcho, com cor amarela, e a decoração do teto não era a combinada. "O sentimento é de termos sido roubados".

Buquê foi considerado sem vitalidade e com cores fora do acordado, revoltando noiva Imagem: Arquivo pessoal

Letícia Torok, 26, e Henrique Gomes, 28, vão se casar no dia 10 de setembro em Itu (SP) e pagaram R$ 9,8 mil à Florearte, na época, por indicação de uma amiga.

"Ela me recomendou e o preço deles era muito bom em comparação aos concorrentes porque eles tinham um acervo próprio. Para a maior parte das decorações é necessário alugar o mobiliário por fora. Mas eles já têm mesa, cadeira e isso melhorava muito o custo".

Letícia Torok e Henrique Gomes já se preocupam com o casamento, que ocorrerá em setembro Imagem: Arquivo pessoal

Desde o dia 10 de junho, no entanto, o casal não teve retorno da empresa — e com os relatos ouvidos de outras noivas, ficou apreensivo. Letícia afirmou que já abriu Boletim de Ocorrência e reclamação no Procon, e que vai entrar com ação para recuperar o investimento.

Augusta Midiã, assessora de casamento, relatou que dois casamentos organizados pela empresa entre 17 e 18 de junho, nos municípios de Kratos e Ilhabela ligaram o alerta vermelho sobre a situação da Florearte. "Todos os convidados já tinham chegado durante a montagem da cerimônia. Na última hora, todos os fornecedores se juntaram para ajudar na decoração", disse a profissional, contratada para reorganizar alguns dos casamentos que seriam decorados pela empresa.

A Florearte

"Ela", a quem algumas noivas se referem é a sócia Ana Caroline Gerola Menegassi. Em entrevista a Universa, a segunda sócia da Florearte, Sara Regina Francelino Alencar, diz que, desde janeiro, está afastada da empresa e que Ana Caroline administra sozinha os contratos da empresa, com sede em Vinhedo (SP).

Eu exerci o direito legal de me retirar da Florearte. Desde então fui proibida de pisar na empresa e cortaram todo meu acesso a informações de projetos e financeiros. A Carol se recusa a proceder com a baixa da minha saída da sociedade e está se evadindo da mesma forma que está fugindo de clientes e fornecedores. Ela se apossou de tudo e iniciou uma gestão unilateral da empresa, me privando do acesso até mesmo ao acervo. Devido à situação, ingressei com uma ação judicial que está em trâmite há mais de 3 meses, aguardando a decisão do juiz de me liberar do contrato.

Procurada por e-mail e telefone, a sócia Ana Caroline Gerola Menegassi Maia não respondeu aos contatos da reportagem. Sua equipe disse apenas que ela vem recebendo ameaças pessoais, e que, em breve, soltará um comunicado oficial. No perfil da empresa no Instagram, ela se manifestou e disse que "diferentemente do que está sendo dito, não fugi com o dinheiro, não saí do país" e que "gostaria muito de poder esclarecer tudo o mais rápido possível".

No processo do pedido de falência, feito na última sexta-feira (24), Ana Caroline se diz vítima de boicote pela antiga sócia. "Verdadeiro boicote ao negócio da qual fazia parte, abriu em seu nome uma nova sociedade, para atuar no mesmo segmento da requerente, e, antes mesmo da conclusão da apuração dos haveres sociais, já estava 'operando' no mercado e no mesmo seguimento de atividade", diz o documento.

Segundo o Portal de Transparência, Ana Caroline e Sara seguem oficialmente sócias da Florearte. Sara também é apontada como proprietária de uma segunda empresa que realiza casamentos.

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