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Brasileira é dona da maior empresa de touros mecânicos do mundo; conheça

 Gracienne Myers, fundadora da Mechanical Bull Sales Inc., a maior em vendas de touros mecânicos do mundo - Acervo pessoal
Gracienne Myers, fundadora da Mechanical Bull Sales Inc., a maior em vendas de touros mecânicos do mundo Imagem: Acervo pessoal
Rafaela Polo e Depoimento de Gracienne Myers

De Universa, São Paulo

23/06/2022 04h00

A empresária Gracienne Myers, 49, se mudou para os Estados Unidos com 24 anos para morar com o então namorado. O relacionamento não deu certo, mas em seis meses no país ela conheceu outro homem, em outros cinco se casou com ele, seu atual marido, que é americano. Com o incentivo do companheiro, tornou-se gerente de uma das empresas dele e mudou completamente o caminho dos negócios.

O que era para ser apenas um serviço de contratação de DJs se tornou a maior empresa de touros mecânicos do mundo, a Mechanical Bull Sales Inc. Hoje, seus produtos são vendidos para 45 países e aparecem em clipes de cantores famosos, como Pitbull e Blake Shelton. Também tem como clientes gigantes da tecnologia, como o Google e a Samsung.

A seguir, Gracienne conta sua história a Universa.

"Me mudei para os Estados Unidos em 1997, a convite do meu namorado, que era americano. O relacionamento não deu certo, terminei e passei por abusos. Ele sequestrou meus documentos, fui parar em um abrigo e tive que pedir apoio policial. Depois de um tempo, conheci meu marido, também americano, que é empresário. Vendo os negócios dele, nos quais ele pediu que eu gerenciasse, vi uma oportunidade de mercado de criar uma empresa de touros mecânicos. Vinte anos depois, sou dona da maior fábrica de touros mecânicos no mundo.

 Gracienne Myers, fundadora da Mechanical Bull Sales Inc. - Divulgaçao - Divulgaçao
Gracienne vive há 25 anos nos Estados Unidos
Imagem: Divulgaçao

Mas a história não foi tão simples. Meu namorado, com quem me mudei para os EUA, morava em uma cidade muito pequena, extremamente isolada. Eu nasci no interior, então ser pequena não me incomodava, mas estávamos muito longe de tudo. Fui direto para a casa dele e não saíamos para nada. Meu visto tinha validade de seis meses e, no segundo, eu já queria ir embora.

Falava para ele que ia mudar minha passagem e ele sempre arranjava uma desculpa para que eu não fizesse isso. Depois de muita insistência, consegui convencê-lo a sair de casa. Fomos a uma danceteria na época e, como estava sem bolsa, pedi para ele guardar minha carteira, que estava com meu passaporte. No dia seguinte, pedi meus documentos de volta. Ele dizia que tinha me devolvido e eu sabia que não era verdade. Para ele, afinal, era conveniente ter uma mulher cozinhando, limpando e sem vida social.

Não sabia como funcionava a lei nos Estados Unidos, mas quando você chama a polícia para casos como o meu, passa a ter proteção da lei. Liguei para uma telefonista, que me ajudava a traduzir o que precisava e fazer as conexões com o Brasil, e pedi para que ela me ajudasse a explicar o que tinha acontecido. Logo em seguida, me levaram para um abrigo de mulheres.

Não consegui reaver meu passaporte imediatamente, isso demorou um certo tempo. Precisei da ajuda da polícia para ter meus documentos de volta.

Com documentos em mãos, resolvi voltar à mesma danceteria que tinha ido com ele, mas agora sozinha. Foi nessa ocasião que conheci meu marido. Brinco que foi amor ao toque e não à primeira vista. Tivemos uma conexão muito forte. Contei toda a minha história para ele. Afinal, se fosse para gostar de mim tinha que gostar do jeito que sou. Nos conhecemos em dezembro. Em maio estávamos casados.

Não sabia quase nada de inglês. Então fui ralar. Trabalhei em padaria, pizzaria, floricultura. Mas não ligava, queria muito aprender. Na padaria, por exemplo, meu turno era das 5h às 14h, estava grávida e fazia faculdade à noite, chegando em casa às 22h.

Meu marido me chamou para gerenciar a empresa de DJs que ele tinha. Ele tinha outras empresas, mas via o quanto eu batalhava e me deu a posição para cuidar. Quando um cliente não fechava comigo, eu ligava, tentava entender o motivo. Ouvi de muita gente que o serviço era caro e que eles tinham um 'amigo DJ'. Falei para meu marido que tínhamos um problema ali: as pessoas não achavam o serviço necessário. Era preciso diversificar. Foi aí que os touros mecânicos entraram na minha vida.

Decidi colocar, junto com a contratação do DJ, um touro para os clientes. Meu marido não gostou da ideia de início. Os EUA levam a segurança das pessoas muito a sério, e ter um touro mecânico em um evento, segundo ele, seria perigoso. Para minimizar o perigo, fui procurar o mais seguro do mercado. Ele comprou o touro, que custou cerca de US$ 18 mil na época. Quando ele chegou, o motor estava enferrujado, a base de controle era feita de madeira e presa com quatro parafusos bem onde controlaríamos a velocidade do brinquedo.

Comecei a trabalhar com pessoas com conhecimento técnico para alterar essa caixa de controle e deixar tudo mais seguro. Com três meses alugado o equipamento nós já tínhamos recuperado o dinheiro do investimento. Mas muitas pessoas ainda me perguntavam se eu fabricava para vender. Comecei a pensar nisso.

Foi em 2010, quando o dólar teve aquela queda e ficou com valor baixo em relação ao real, que comecei a fabricar. A logística e o atendimento ficaram muito melhor, porque eu não precisava mais esperar muito para as peças chegarem. Essa foi uma das minhas melhores decisões.

Fabricação própria

O que eu gosto dos touros mecânicos é que eles são capazes de divertir um público muito grande, de crianças a adultos. Você pode ter todos os problemas da vida, mas durante os 30 segundos que está montado no touro, não vai se lembrar de nada. A Mechanical Bull Sales Inc. é o meu bebê, mas ela demorou mais uns dois anos de aluguel de touro antes de nascer. E tive que estudar as normas e o mercado americanos.

Para poder operar um aparelho de entretenimento nos Estados Unidos, o processo foi complexo. Tive que mudar completamente a caixa de controle —a nossa, hoje, te uma tecnologia muito avançada. São 25 movimentos programados, que englobam crianças, adultos e profissionais. Existe um sensor que nota se a pessoa está de cinto ou não e, quando a pessoa cai do touro, ele para imediatamente. Em termos de segurança, é o melhor do mundo. Vendemos para todos os estados americanos e 45 países.

Certa vez, o dono da Under Armour queria alugar um touro nosso, mas quando a ideia era se tornar patrocinador do Baltimore Ravens, um time de futebol americano que tem uma ave como símbolo. Ele, na verdade, queria um pássaro mecânico.

Foi aí, mais uma vez, que senti a necessidade de criar outros tipos de animais e objetos com a tecnologia de controle que já tínhamos. Investi em tecnologia 3D e hoje conseguimos fazer réplica de tudo, com diferentes texturas.

O Google tem uma área de entretenimento para os funcionários dentro da empresa e colocaram um touro nosso nesse espaço. A Samsung fez uma campanha de marketing em que você subia no touro e via dois celulares à sua frente, para mostrar que a qualidade de imagem em movimento deles era melhor do que a da concorrência. Nessa ação, o touro ganhou uma aparência futurística.

Depois disso, a Warner Brothers se tornou nossa cliente. Mas para eles não fizemos touros. Por causa da tecnologia 3D que investimos, nos contrataram para fazer a réplica de uma estátua que apareceria em um filme. Depois fizemos réplicas de luminárias para a Netflix para um cenário que eles iam precisar. Hoje eles usam nossa empresa para tudo". Gracienne Myers, 49 anos, empresária, Pensilvânia (EUA)