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Procurador que espancou a chefe 'era bomba-relógio', diz autora de queixa

Procurador Demétrius Oliveira de Macedo foi suspenso da prefeitura de Registro (SP) e foi preso preventivamente na manhã de hoje - Reprodução/Redes sociais
Procurador Demétrius Oliveira de Macedo foi suspenso da prefeitura de Registro (SP) e foi preso preventivamente na manhã de hoje Imagem: Reprodução/Redes sociais

De Universa, em São Paulo

23/06/2022 22h19Atualizada em 24/06/2022 09h53

O procurador Demétrius Oliveira Macedo, 34, preso ontem após agredir a procuradora-geral do município de Registro (SP), Gabriela Samadello Monteiro de Barros, 39, já tinha sido alvo de reclamações de outras colegas de trabalho na repartição pública. Entre elas, a estagiária Thainan Tanaka, que relatou o tratamento "mal-educado" do homem oficialmente para a chefe — o que a teria motivado a pedir a abertura de processo formal contra o servidor.

Segundo a estudante, Gabriela ainda tentou conversar com Demétrius, mas foi expulsa da sala do funcionário, o que a levou a abrir um processo administrativo disciplinar contra ele, por insubordinação. Para Tanaka, o investigado "nunca escondeu" sua insatisfação em dividir o escritório com várias mulheres.

Eu convivi com ele por um ano e sempre foi meio assustador a postura que ele tinha com a gente. Ele sempre na defensiva, não queria saber de socializar, era bem frio mesmo. Era uma pessoa que desprezava todas as mulheres do setor. Inúmeras vezes eu o presenciei virando a cara para a própria chefe (Gabriela) e para as outras procuradoras. E a partir de fevereiro ele começou a implicar comigo.
Thainan Tanaka, estagiária na prefeitura de Registro (SP)

Apesar do incômodo com a postura de Demetrius, Thainan afirma que as denúncias contra o procurador eram travadas pela falta de "algo concreto". Até o dia em que o funcionário se incomodou com a forma que a estagiária o cumprimentou.

"Ele me constrangeu por causa disso, mas assim, ele estava procurando um problema, porque eu não tinha relação nenhuma com ele, nem de trabalho. Eu não sei que tipo de controle ele queria ter, mas me incomodou demais", conta ela, que decidiu relatar o episódio para a chefe.

"Por precaução, eu quis registrar isso, porque eu tinha uma intuição que isso poderia piorar (a relação), então eu quis já deixar registrado, para me respaldar. A doutora Gabi sempre foi solidária, ela viu que a convivência com ele estava me gerando ansiedade, então ela falou que ia me dar todo o apoio possível, e ela realmente deu. Assim que eu registrei a reclamação ela já correu para pedir um exame ocupacional para todos nós, para ver se tinha alguma condição psicológica acontecendo", contou.

Como o exame solicitado pela procuradora-geral atestou que Demétrius estava apto para o trabalho, Gabriela tentou conversar em particular com ele, relatando a situação com a estagiária e também uma visita "surpresa" que ele fez à sala da chefe na sexta-feira (27/5).

Em conversa enviada a Universa, Tanaka conta para a procuradora que o colega entrou abruptamente no escritório da chefe, já após o horário normal do expediente, procurando por ela e pela estagiária, que não estavam mais no local.

Gabriela parece assustada com a situação, mas garante para a funcionária que iria tomar medidas para resolver a situação, afirmando que, enquanto isso, deixaria a porta de sua sala trancada.

Ali soou um alerta na minha cabeça, de que ele queria fazer mal. Todo mundo ficou muito confuso do porque ele estava agindo assim, ele entrou depois do horário procurando a doutora Gabi. E acho que foi por Deus que ela não estava lá aquele dia. Se ela estivesse sozinha, pelo vídeo que a gente assistiu, a gente já sabe no que ia dar. Eu me sentia trabalhando ao lado de uma bomba-relógio armada, só esperando o motivo para explodir.

Tanaka conta que a situação teve uma nova escalada dias antes da agressão contra Gabriela. Quando a procuradora-geral decidiu ir até a sala de Demétrius para questionar por que ele tinha ido até seu escritório, como relatado por uma outra funcionária.

O homem não quis responder à pergunta e expulsou a chefe da sala. Ela pediu a instauração de um processo administrativo disciplinar. Gabriela e as funcionárias foram informadas com antecedência de que o procurador iria ser suspenso cautelarmente do cargo, enquanto durasse o processo, ainda recebendo o salário integral.

Na mesma ocasião, elas souberam também que ele seria notificado sobre o afastamento na segunda (20), dia da agressão. Tanaka conseguiu uma folga abonada, com medo da reação do colega. Já Gabriela acabou sendo alvo da fúria do investigado, como registrado por câmeras instaladas na repartição.

"Era muito nítido para mim que ele estava a ponto de fazer alguma coisa, porque ele nunca escondeu o descontentamento por trabalhar com um monte de mulheres, principalmente ser chefiado por uma e, infelizmente, aconteceu esse episódio lamentável. Dói em mim ver a doutora Gabi passar por isso enquanto ela estava fazendo o próprio serviço. É muito revoltante, eu a admiro muito pela coragem que ela teve", completou a estagiária.

Em entrevista a Universa, Gabriela afirmou que se sentia aliviada com a decisão da Justiça de prender preventivamente o suspeito.

Ela disse que acredita na possibilidade de seu colega não aceitar ser comandado por mulheres, já que ele vinha demonstrando descontentamento no trabalho desde 2019, quando uma mulher assumiu o cargo de chefia da Procuradoria-geral do município — cargo até então historicamente ocupado por homens.

Gabriela assumiu o cargo em 2021, sendo a segunda mulher na chefia da área.

Não tolere violência

O Ligue 190 é o número de emergência indicado para quem estiver presenciando uma situação de agressão. A Polícia Militar poderá agir imediatamente e levar o agressor a uma delegacia.

Também é possível pedir ajuda e se informar pelo número 180, do governo federal, criado para mulheres que estão passando por situações de violência. A Central de Atendimento à Mulher funciona em todo o país e também no exterior, 24 horas por dia. A ligação é gratuita.

O Ligue 180 recebe denúncias, dá orientação de especialistas e encaminhamento para serviços de proteção e auxílio psicológico. Também é possível acionar esse serviço pelo WhatsApp. Nesse caso, acesse o (61) 99656-5008.