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Qual é o melhor jeito de contar aos filhos sobre namoro após divórcio?

Diálogo e intimidade são alguns dos pontos fundamentais ao dividir o novo status de relacionamento com os filhos, dizem especialistas - jacoblund/Getty Images/iStockphoto
Diálogo e intimidade são alguns dos pontos fundamentais ao dividir o novo status de relacionamento com os filhos, dizem especialistas Imagem: jacoblund/Getty Images/iStockphoto

Thaís Lopes Aidar e Claudia Dias

Colaboração para Universa

20/06/2022 04h00

O fim do casamento de 14 anos de Caroline Ferracini foi "inesperado e traumático", nas palavras dela. Mãe de duas garotas, ela tentou seguir a vida da melhor maneira possível e, alguns meses depois, criou perfis em aplicativos de relacionamento para ver se ainda levava jeito na paquera, algo que não fazia há muito tempo.

Foi num deles que ela conheceu James, que tinha passado pela mesma situação e também tinha duas filhas. O único "porém" era ser americano. "Depois de um mês conversando, contei para as meninas que éramos amigos. Depois de algumas semanas falando sobre ele, dando detalhes sobre como era e como me fazia me sentir bem, contei que estávamos namorando. Estava um pouco em choque, pois tinha muito medo da reação delas", descreve.

Logo depois da notícia, o namorado veio para o Brasil e casal viajou. Em seguida, foi a vez de eles viajarem com as garotas, para as devidas apresentações. "Foi muito lindo de ver. As duas o aceitaram muito bem, principalmente porque elas viam a mãe tão triste por causa do pai, que quando viram que tinha alguém que me fazia feliz, elas também ficaram felizes", relembra Carolina, 34 anos.

"Medo era de elas se sentirem trocadas"

Apesar de Laura, a mais nova (à época com 5 anos; hoje tem 6), ficar um pouco enciumada no início, logo ela e Beatriz (10 anos atualmente) já estavam curtindo a companhia de James. "O meu maior medo e receio era de elas se sentirem trocadas ou sentirem que não eram mais importantes para mim. Mas isso não aconteceu", conta Caroline, que está solteira há 2 meses.

"Ele foi uma pessoa muito boa na minha vida porque me ajudou a superar o luto do divórcio. E, por ter sido um relacionamento a distância, me ajudou a amar a minha própria companhia. Não foi fácil superar tudo, mas estou preparada par novas aventuras e novos relacionamentos. Na hora que for para aparecer um cara bacana, legal e que, principalmente, aceite minhas filhas, eu vou embarcar nessa nova jornada", comenta Caroline.

Aliás, numa pesquisa feita pelo aplicativo de relacionamentos Inner Circle, em que 26% das usuárias brasileiras têm filhos, constatou-se que 81,9% delas querem um relacionamento sério e apenas 9,1% buscam um romance casual.

Outro dado revelado pelo levantamento é que, entre os maiores desafios das mulheres na busca de um parceiro, 35,3% encaram como grande dificuldade a tarefa de contar aos filhos que arrumou alguém.

Para amar de novo, não existe receita de bolo

Revelar sobre uma nova relação nem sempre é tarefa fácil. Isso exige paciência e abordagens específicas, pois não há uma fórmula certeira de como fazer. Entretanto, alguns fatores podem - e devem - ser considerados antes de dar a notícia.

"É muito difícil colocar todos os casos de separação e novos relacionamentos num mesmo patamar porque temos que levar em consideração os relacionamentos anteriores. Será que teve uma briga na separação? O ex-casal ainda se fala? Como as famílias reagiram à notícia da separação e do novo relacionamento? Tudo isso vai interferir na forma de contar para os filhos e temos de olhar para cada caso em específico, sem generalizar", argumenta Gabriela Luxo, psicóloga, mestre e doutora em Distúrbios do Desenvolvimento.

Mesmo se houvesse a tal receita de bolo, os dois ingredientes principais seriam diálogo e intimidade, quer dizer, abertura entre mãe e filhos para conversarem sobre assuntos do gênero. Quanto mais receptividade houver, mais fácil e mais leve será conversar sobre a questão, segundo o psiquiatra Wimer Bottura, que também é psicoterapeuta, especialista em psiquiatria infantil e presidente do Comitê de Adolescência da Associação Paulista de Medicina (APM).

Mas não é preciso convocar uma reunião familiar para dar a notícia, pois tudo acontece aos poucos, naturalmente. O importante é o namorado não ser apresentado de forma abrupta ou repentina, sem um aviso prévio. Afinal, relacionamentos são processos, construções diárias e não ocorrem de um dia para o outro.

Como tornar a tarefa mais fácil

Alguns cuidados, antes, durante e depois, valem ser adotados na abordagem, segundo Gabriela Luxo e Wimer Bottura.

  • Não esconda o relacionamento, sobretudo usando desculpas para os encontros (como viagem de trabalho), porque o filho pode perceber ou descobrir e isso tende a quebrar a confiança ou gerar uma sensação de traição.
  • Pedir autorização para namorar também não é o ideal, afinal, isso coloca a criança numa posição de autoridade, em que ela deve permitir a relação. O correto é comunicar, separando muito bem as coisas para cada um ter seu papel na família.
  • Nem sempre filhos maiores entendem melhor que os mais novos. Por isso, a idade não deve ser o único fator considerado. É importante estar atenta à reação e comportamento, devendo buscar ajuda, se necessário.
  • Com crianças menores, a abordagem lúdica é a mais eficiente, facilitando o entendimento da situação.
  • Ser carinhosa e boa ouvinte nesse momento é essencial.
  • Vale também pensar na divisão do tempo entre filho(s) e o novo par.
  • Mostrar a felicidade que está sentindo é ótimo recurso. Quando a mãe se mostra feliz, o sentimento bom tende a ser contagiante.

E se der errado?

Já que não existe um roteiro exato a ser seguido, novamente é importante lembrar que cada caso é um caso - afinal, cada família é única. Portanto, é preciso se preparar, igualmente, para falhas na tentativa. Na real, é melhor ainda já pensar em como agir se algo não sair conforme a expectativa.

Por exemplo, pode haver uma reação ruim com a novidade, assim como uma manifestação negativa em conhecer a nova pessoa. Há formas de tentar contornar isso, sendo que o mais importante, nesse momento, é não pular degraus.

Logo, se a primeira tentativa não foi bem-sucedida, o ideal é tentar entender a causa disso para agir de maneira diferente da próxima vez. O que não pode acontecer é permitir que a palavra final seja da criança ou adolescente, pois isso é uma decisão que compete apenas à mãe.

Caso haja uma recusa em conhecer o parceiro ou insistência em só falar dos genitores, talvez esta situação esteja mais relacionada à separação dos pais do que ao novo relacionamento.

Nesses casos, o filho pode ter a fantasia de que há chances de reconciliação e união da família novamente. É importante explicar que, juntos ou separados, pais serão sempre pais - com ou sem novos amores.