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Após relações ruins, elas deram nova chance ao amor: 'Estava do meu lado'

Um relacionamento traumático da época de faculdade não impediu Carolina de se entregar a um novo amor. Ela e Lucas se casam em 2023 - Acervo pessoal
Um relacionamento traumático da época de faculdade não impediu Carolina de se entregar a um novo amor. Ela e Lucas se casam em 2023 Imagem: Acervo pessoal

De Universa, São Paulo

17/06/2022 04h00

Nem todas as mulheres vivem experiências de conto de fadas nos relacionamentos. A dentista Carolina procurou terapia para se tornar uma mulher melhor e voltar com o parceiro antigo. Foi só com a ajuda da profissional que percebeu que, na verdade, o problema não era ela. Priscyla viveu uma relação abusiva e com cenas de ciúmes muito jovem. Segundo ela, só estudando sobre esse tipo de relacionamento recentemente, percebeu o que tinha passado. Não foi fácil, mas elas se abriram novamente para o amor e hoje vivem, sim, uma história que podia ser um livro de romance.

Universa conversou com essas mulheres para entender a jornada de superação e novos relacionamentos. Spoiler: a marcha nupcial é a música de fundo.

'O que eu buscava estava bem ao meu lado sem eu nem me dar conta'

A dentista Carolina conheceu Lucas três meses após seu término, mas eles só começaram a namorar depois de dois anos  - Acervo pessoal  - Acervo pessoal
A dentista Carolina conheceu Lucas três meses após seu término, mas eles só começaram a namorar depois de dois anos
Imagem: Acervo pessoal

"Em 2016, um amigo me apresentou um rapaz do seu trabalho. Ele achava que a gente ia se dar bem. Ficamos juntos um ano e um mês. No começo, era tudo maravilhoso. Como eu estava no último ano da universidade, ele incentivava eu ir às festas, me apoiava e era compreensivo. Dizia que eu tinha que participar mesmo. Eu achava isso bem legal. Mas depois de três meses isso começou a mudar. Ele não gritava e nem brigava comigo, mas ficava cozinhando minha mente. Dizia que eu tinha que fazer um teste: não ir a uma cervejada para ver como na segunda-feira ninguém ia falar comigo. Eu tinha carro e ajudava a levar as pessoas e a carregar o que precisava. Quando eu não ia, as pessoas se chateavam e realmente não falavam comigo. E aí começou a fazer sentido o que ele dizia. Afinal, eu tinha 21 anos e ele 28. Ele tinha mais experiência. Comecei a acreditar que tudo o que ele dizia era verdade.

Passei a me fechar dentro do relacionamento e quando percebi tinha virado as costas para todos os meus amigos.

Se as coisas fossem do jeito que ele queria, ele era um bom parceiro. Mas se saiam do equilíbrio, não.

Um dia no parque, ele estava correndo e eu não. Então resolvi mexer com um cachorro. O dono chegou, estava sem camisa, e ficou conversando comigo. Quando ele viu, surtou. Começou a gritar, a me chamar de nomes baixos, falando que eu queria dar mole para o cara. No dia seguinte, quando acordei, tinham flores e pedidos de desculpas, dizendo que ele se excedeu. Mas as explicações de ele ter se alterado eram sempre por culpa minha. Por eu ter feito isso ou aquilo.

Ele queria que eu fosse uma pessoa que não era. Queria que eu usasse salto, quando na verdade eu preferia tênis. Então ele mandava entregar um salto na minha casa de presente, e eu o achava o melhor namorado do mundo. Foi só na terapia que percebi que essa era uma maneira de me controlar.

Foi ele que terminou comigo e não foi fácil. Tivemos uma discussão normal em um churrasco e eu falei que ia para casa. Ele me disse que se eu fosse, não era para eu voltar nunca mais. Eu estava chorando muito e acabei pegando no sono. Quando acordei, ele tinha me bloqueado do WhatsApp e me deletado de todas as redes sociais. Eu não tinha nem como falar com ele. Fui procurar terapia achando que o problema era eu e que precisava ser uma pessoa melhor para voltar com ele. Eu não sabia que isso era um relacionamento abusivo. Em 2016 não se falava tanto disso. Foi com terapia que fui percebendo e decidi que não queria mais voltar com ele.

Fiquei dois anos solteira, mas conheci meu noivo três meses depois do término desse meu relacionamento no crossfit. Me matriculei com o incentivo de um amigo para voltar a me exercitar. Nessa época, para eu namorar, a pessoa precisaria cumprir um set list: gostar do meu jeito, das mesmas coisas que eu, não se importar com as minhas roupas, gostar de sair, dos meus amigos? Mas é impossível você agradar o outro por completo. Se em um date um cara falasse 'não gosto de azul', se eu gostasse, já descartava. Fui me fechando. Era difícil admitir que eu não tinha mais segurança sobre mim. O medo era tanto de ser questionada que preferi me fechar.

Eu e meu noivo nos tornamos amigos desde o começo. Éramos parceiros. A gente saia junto, eu ficava com uns caras e ele com outras mulheres. Para rolar algo entre nós, passou quase dois anos. Ficamos no Carnaval de 2018 e na hora achei que fosse um erro, que nossa relação ficaria estranha. Mas não: em setembro começamos a namorar.

Percebi que aquilo que eu buscava estava bem ao meu lado sem eu nem me dar conta. Em setembro completamos quatro anos juntos e com ele tudo fluiu de forma muito natural. Os anos foram passando, decidimos comprar um apartamento, até enxergamos como um investimento para ambos. Se decidíssemos terminar, a gente dividia e cada um ia ser feliz. Não tinha pressão. No Dia dos Namorados do ano passado ele me pediu em casamento. Estamos noivos e vamos nos casar no ano que vem", Carolina Muniz, 27 anos, dentista

'Fui descobrir que tinha vivido um relacionamento abusivo depois de anos'

Priscyla Costa desocbriu só depois de anos após o término que viveu um relacionamento abusivo. Hoje, é casada há 11 anos e muito apaixonada pelo marido - Acervo pessoal  - Acervo pessoal
Priscyla Costa desocbriu só depois de anos após o término que viveu um relacionamento abusivo. Hoje, é casada há 11 anos e muito apaixonada pelo marido
Imagem: Acervo pessoal

"Comecei a namorar um homem 15 anos mais velho que eu quando eu tinha 18 anos. Ainda estava na faculdade. Ele era bastante abusivo e ciumento. Até de ligação do meu chefe ele tinha ciúme. Da minha família, das minhas amigas. Se eu estivesse olhando pro nada e, no meio desse caminho tivesse um homem parado, já era motivo de ele achar que eu estava paquerando o outro. E não era só uma cena, ele me colocava em uma situação de violência verbal com isso. Ele tinha ciúmes das minhas roupas. se eu usasse decote era porque queria provocar outros homens? Era tanto que eu fui parando de falar com as pessoas. Até financeiramente eu era abusada. Eu fui efetivada no meu estágio no meio da faculdade e morava com meus pais, então meu dinheiro era meu. Ele tinha uma profissão técnica e se mantinha, então tinha menos dinheiro que eu. Sutilmente eu era induzida a pagar as coisas pra ele. Cheguei a entrar no cheque especial.

Nossa vida sexual também não era saudável. Ele foi o primeiro homem com quem fiz sexo, e sabia disso. E me obrigava a transar até quando eu não queria. Ele me dizia. 'Se você me ama e diz que quer ficar comigo, por que não quer fazer sexo?'. Eu tomava pílula e ele se recusava a usar camisinha, Tive candidíase de repetição e nunca melhorava. Só mais tarde descobri que isso estava relacionado ao sexo e ao fato de ele ter relações com outras pessoas. Por isso eu não sarava.

E mesmo com todo o mal provocado, fiquei nesse relacionamento por seis anos. Com o tempo eu fui amadurecendo e comecei a fazer terapia enquanto ainda estava com ele. Aí passei a entender o que era aqui. Em uma determinada situação, ele terminou comigo e fiquei arrasada. Tinha uma dependência emocional ali. Insisti muito para voltar. Mas no período que eu estava sozinha, comecei a me sentir livre e perceber o que tinha acabado.

Mesmo mal, resolvi voltar a viver minha vida e sair com outras pessoas. Comecei a entender que a vida não estava atrelada a ele. Ele descobriu e pediu para voltarmos. Fomos ao shopping conversar sobre a relação e, na hora de entrarmos na escada rolante, ele trombou comigo para poder passar na minha frente, mostrando mais uma vez que não tinha educação. Nessa hora caiu a minha ficha e veio na minha cabeça tudo o que eu já tinha vivido. Desci a escada na contramão e fui embora. Deixei ele lá. Não foi fácil colocar um fim na relação.

Até recentemente eu achava que tinha namorado um cara ciumento e inseguro e, 'coitado', que por isso ele descontava tudo em mim. Eu achava que ele era a vítima.

Alguns meses após o término conheci uma pessoa que hoje é meu marido. E claro que entramos em comparações e comecei a perceber o que não era normal. Meu marido não tem crise de ciúmes, ele nunca me expôs em relação a isso. Temos uma relação saudável do ponto de vista emocional, financeiro e sexual. Nunca tive nenhuma chantagem para ter sexo, nunca fiquei doente, mesmo depois que paramos de usar preservativos jutnos. Estou casada há 11 anos e somos muito apaixonados um pelo outro. Ele foi fazer uma viagem de 10 dias e ficamos chorando por causa da distância na despedida.

Não acho que a gente esquece o que passou, acho que entendemos o que passamos e não aceitamos mais que isso se repita. Porque o trauma da relação anterior vem com a gente. Você aprende a colocar limites, mas medo vai sempre ter", Priscyla Costa A. Morais, 37 anos, jornalista, São Paulo