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Jovem mineira ganha bolsa integral em Harvard: 'Jornada trabalhosa e feliz'

A mineira Sofia Santos de Oliveira, 18 anos, que conseguiu uma bolsa integral em Harvard - Acervo pessoal
A mineira Sofia Santos de Oliveira, 18 anos, que conseguiu uma bolsa integral em Harvard Imagem: Acervo pessoal

Ed Rodrigues

Colaboração para Universa, do Recife

16/06/2022 16h04

Depois de aprender inglês por conta própria, estudar em escolas públicas e ter bolsa em colégios particulares, a estudante mineira Sofia Santos de Oliveira, 18 anos, realizou um sonho: foi aprovada em três das faculdades mais conceituadas dos Estados Unidos, todas com bolsa integral: Harvard, Yale e Stanford, todas nos EUA. Ela optou por estudar na primeira. Sofia pretende cursar Química e Ciências Sociais com foco em Educação e Saúde Pública.

"A bolsa cobre gastos com mensalidade, alimentação, moradia, transporte, plano de saúde e despesas pessoais. Recebi a notícia da aprovação com surpresa e incredulidade por ter sido aprovada no ciclo de admissões mais competitivo da história", disse Sofia a Universa. A bolsa bancará todos seus custos, avaliados em R$ 2 milhões pelos quatro anos de curso.

"Fico feliz de não ter desistido do sonho"

Sofia Santos de Oliveira em visita ao campus da Harvard, na cidade de Cambridge, estado de Massachusetts, nos Estados Unidos - Acervo pessoal - Acervo pessoal
Sofia Santos de Oliveira em visita ao campus da Harvard, na cidade de Cambridge, estado de Massachusetts, nos Estados Unidos
Imagem: Acervo pessoal

De 61.220 concorrentes em Harvard, apenas 1.954 pessoas (cerca de 3,19%) foram aceitas neste ano. "Foi uma jornada longa e trabalhosa, mas também de muito crescimento e vitórias e fico extremamente feliz de não ter desistido nos momentos de dificuldade", fala Sofia.

Durante sua trajetória, a jovem passou por dificuldades, principalmente quando seu pai foi demitido e perdeu uma bolsa de estudos do Sesi. Porém, anos depois, ela conheceu um instituto que reconhece jovens talentos de baixa renda e lhes concede bolsas de estudos em escolas particulares de excelência.

No ensino médio, além de se dedicar aos estudos, Sofia também criou um projeto social para apoiar estudantes de baixo poder aquisitivo, entrou para a Academia de Ciências de Nova York, iniciou uma pesquisa científica autônoma e também deu aulas de inglês gratuitas para jovens de baixa renda.

Estudo durante a pandemia

A jovem conta que a preparação para busca a vaga começou no 1⁰ ano do ensino médio. À época, lembra ela, seu nível de conhecimento estava desnivelado com os outros colegas. Sofia teve que redobrar os esforços para alcançar os demais alunos e se destacar. Vinda de uma família com poucos recursos, viu as diferenças socioeconômicas com relação aos outros alunos dificultarem as coisas, mas não se intimidou.

Apesar dos muitos desafios, finalizou o ano como uma das alunas com as maiores notas do ano e se sentiu preparada para focar no objetivo de estudar fora. Sofia estudou no Sesi, depois precisou ir para o ensino público após o pai ficar desempregado, e só voltou à rede particular quando se classificou para uma bolsa.

Já no 2⁰ ano, mais adaptada ao colégio, foi além dos limites da sala de aula, mas precisou se reinventar totalmente com a chegada da pandemia da covid-19.

"Um problema que começou a me incomodar muito foi o dos alunos de escolas públicas que ficaram sem aulas durante a pandemia. Diante disso, me juntei com algumas amigas e criei um projeto social para apoiar estudantes de baixa renda a continuarem estudando e se desenvolvendo. Após dois anos, o projeto impactou cerca de 500 alunos do Brasil todo e reuniu cerca de 700 voluntários nacionalmente", lembra. Sofia também participou do Parlamento Jovem Brasileiro, um programa da Câmara dos Deputados.

No último ano do ensino médio, a estudante conciliou os estudos para o Enem com o sonho de estudar no exterior. Ela conta que recebeu apoio do Prep Estudar Fora, um preparatório gratuito da Fundação Estudar para jovens com excelência acadêmica que querem cursar a graduação fora do Brasil.

Paralelamente, deu início a uma pesquisa científica autônoma (que recebeu cerca de dez reconhecimentos em feiras nacionais e internacionais), começou a dar aulas de inglês gratuitas para jovens de baixa renda e participou de programas de verão nas férias, nas universidades de Yale e de Syracuse (que foram online por causa da pandemia).

"Ao término do ensino médio, fui aprovada na UFMG em Engenharia Química e ganhei bolsas integrais nas universidades de Harvard, Yale e Stanford. Decidi continuar meus estudos em Harvard, começando em agosto de 2022 e me formando em maio de 2026", destacou.

Processo seletivo

Sofia aprendeu inglês por conta própria e pretende trabalhar com educação - Acervo pessoal - Acervo pessoal
Sofia aprendeu inglês por conta própria e pretende trabalhar com educação
Imagem: Acervo pessoal

O processo seletivo das universidades norte-americanas é bem diferente dos vestibulares no Brasil. Sofia precisou enviar redações sobre sua história de vida, currículo e histórico escolar, cartas de recomendação e testes padronizados de inglês e matemática, e passou por entrevistas.

Ao longo do ensino médio, conheceu o processo por meio de palestras, histórias de outros jovens que foram estudar fora e pesquisas próprias. "Do 1º ao 3º ano, me preparei e me engajei com a minha escola e minha comunidade, e enviei minha candidatura em 2021. Atualmente, estou pensando em cursar Química e Ciências Sociais com foco em Educação e Saúde Pública. Porém, tenho até o fim do 2⁰ ano da faculdade para oficializar a decisão, então estou aberta a explorar outras áreas", disse.

A jovem ressalta que sempre gostou de estudar praticamente todas as matérias da escola, mas ao longo do ensino médio despertou um interesse especial pela química. "Além de despertar minha curiosidade intelectual, a química pode ser utilizada para ajudar no avanço da humanidade em muitas áreas, principalmente na área ambiental e da saúde humana. No ensino médio, participei de uma pesquisa na área da química farmacêutica e gostei muito. Para além da afinidade por esse campo de pesquisa, essa experiência me fez aprender muito sobre e me interessar por estudar doenças negligenciadas e saúde pública no geral", acrescentou.

Formada, ela quer trabalhar com educação no Brasil

Sofia pretende, após formada, ajudar a reduzir a desigualdade social no Brasil, por meio da educação. Para ela, é urgente uma reforma estrutural do currículo escolar, com políticas públicas que tornem a educação de qualidade mais acessível para todo mundo, desde os jovens em comunidades carentes até os adultos que não tiveram oportunidades de concluírem os seus estudos anteriormente.

"Acredito que esse é o primeiro passo para termos uma sociedade mais igualitária e menos meritocrática, onde mais jovens terão condições de quebrar o ciclo vicioso da pobreza e de melhorarem suas condições de vida e, consequentemente, ajudar as suas comunidades a prosperar. Meu sonho é estar envolvida nessa mudança da educação brasileira e, consequentemente, da estrutura social do país", argumentou.

Para os jovens que pensam em feitos semelhantes aos dela, Sofia deixa um conselho: "Atualmente, com a internet, o acesso à informação se tornou muito mais facilitado. Se possível, use isso a seu favor e fique sempre atento para abraçar as oportunidades únicas da vida quando elas aparecerem. Infelizmente, não é sempre que elas irão aparecer, mas nunca perca as esperanças e nunca deixe de procurar e batalhar por elas. Nunca se conforme com sua realidade e não tenha medo ou vergonha de pedir ajuda, pois sempre haverá projetos e pessoas prontas para te impulsionar em direção aos seus objetivos."