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Luiza Possi: 'Julguei minha mãe, mas depois que tive filho eu a compreendi'

Henrique Mendes

Colaboração para Universa

14/06/2022 16h53

A cantora Luiza Possi participou do terceiro painel do Universa Talks 2022 junto à mãe, a também cantora Zizi Possi, e falou sobre como é ser filha depois de ser mãe. Durante o "De mãe para mãe", Luiza falou sobre como mudou os julgamentos após ter filhos.

"Não é fácil ser julgado e o julgamento acaba virando um autojulgamento. Minha mãe me falou, eu não era mãe ainda, que ela me amamentou só por três meses e depois tomou até uma injeção para parar de ter leite e voltar a trabalhar. Eu julguei ela, falei: 'meu Deus, como ela fez isso comigo?' O Luca parou de mamar com quatro meses porque ele quis. O segundo eu nem consegui amamentar direito. A gente julga mal", contou Luiza.

Zizi Possi também falou sobre julgamentos e disse que é algo de que as pessoas deveriam se livrar.

"A gente vive numa sociedade em que o julgamento é a peça da vez. Temos na cabeça da gente alguns conceitos do tipo: 'comigo é assim, se está fazendo isso já não quero mais saber, a mãe que não fez isso não é uma boa mãe'. A gente julga o tempo inteiro. A maior culpa é a culpa que temos no nosso próprio julgamento. Isso é uma doença doida", afirmou a cantora.

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Zizi e Luiza Possi durante o evento Universa Talks 2022
Imagem: Mariana Pekin/ UOL

Ainda sobre julgamentos, Luiza afirmou que as pessoas precisam entender que toda maternidade deve ser tratada como real e tem suas dificuldades.

"As pessoas falam muito sobre maternidade real, mas toda a maternidade é real, seja com ajuda, com avó, com babá, enfim, toda maternidade é real. As pessoas falam muito em ajudar mães a não terem tanta culpa, mas a partir do momento em que você fala sobre uma espécie de maternidade real, você já está gerando um julgamento enorme", disse.

Medo de ser mãe

Mãe e filha também comentaram sobre o medo de ser mãe, algo que atinge muitas pessoas. Luiza relembrou quando ainda estava grávida e ouvia várias pessoas que leram livros, estudavam e se informavam sobre o assunto. Contudo, ela aconselhou as novas mães a acreditarem no instinto. "Existe um instinto em ser mãe, o instinto materno. Você tem que acreditar nele", disse ela.

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A mediadora Mariana Kotscho conversa com Zizi e Luiza Possi no Universa Talks 2022
Imagem: Mariana Pekin/ UOL

Zizi seguiu na mesma linha e contou um "exercício" que fazia enquanto estava grávida de Luiza.

"Sabe o que eu pensava quando estava perto de ter você? Eu lembrava da cachorrinha que tinha filho. Ninguém ensinou, não vai fazer cesariana? Pensa numa cadelinha de rua, numa gatinha de rua. Quando nasce, ela sabe que tem que amamentar, o que fazer, então, assim, é uma coisa instintiva, tem que confiar no teu taco", encorajou.

Luiza ressaltou que a maternidade tem várias partes difíceis, mas que as mães não podem deixar de se impor. "Um começa a chorar, o outro começa a chorar, quando as coisas acontecem assim, um e o outro ao mesmo tempo, fica muito difícil. A parte mais difícil é não cair na sedução do Luca, que é extremamente sedutor, e não educá-lo. Ele é tão sedutor que dá vontade de rir e tudo bem. E não é tudo bem, estamos falando de educação e tenho que me impor", diz.

Diferença entre mãe e avó

As duas cantoras também falaram na diferença entre elas. Zizi elogiou a maneira com Luiza age com os filhos e disse que "toparia ser filha dela". Já Luiza afirmou que Zizi é o maior brinquedo dos filhos.

"O maior brinquedo do filho é você, mãe, que se veste de Robin, ele de Batman. Ela é divertida, todos ficam loucos por ela, os três netos, todos ficam loucos em volta da 'bobó Guigui'. Ela deixa ele fazer absolutamente tudo que nunca me deixou fazer", diz.

Sobre o fato de ser avó, Zizi conta que o início não foi tão simples quanto parecia, principalmente por ter de entender que Luiza era mãe e tinha de deixar ela ter autoridade. "Tem um exercício que faço e é difícil. Todo mundo fala que ser avó é maravilhoso, mas no começo eu não achava, Você assiste, não pode nada, dá aquela vontade de falar e não pode, não pode mesmo, porque o filho é dela, não é meu. Mas é difícil, até porque eu estava acostumada a ser mãe, é outra postura", conta ela.

Quando Luiza questionou sobre ela deixar os netos fazerem tudo, algo que não teria deixado quando era pequena, a "bobó Guigui" falou que "são papéis". "Enquanto sou mãe, tenho que zelar pela sua educação, aquelas coisas chatas, aprender, etc.", afirmou.

Pandemia

As duas também falaram sobre como lidaram com a pandemia, principalmente porque Lucca nasceu meses antes de a covid-19 afetar o mundo todo. Segundo Zizi, a família decidiu se mudar junta para a casa do interior.

"Quando começou a pandemia, em março de 2020, o Lucca era bem pequeninho, não tinha um ano ainda. Eu fui para minha casa do interior e decidi ficar morando lá. Tinha aquela história de sair como astronauta, com escafandro para sair na rua, e supermercado e farmácia não tinha um esquema tão legal de e-commerce. Eu fui para minha casa de campo", contou.

Segundo elas, contudo, a experiência inicial não foi tão boa assim, o que fez até mesmo Luiza voltar para São Paulo. "A gente foi junto, brigou e eu voltei", diz ela.

Segundo Zizi, como a maioria das pessoas, a família achou inicialmente que o problema duraria pouco tempo, "cerca de 15 dias". Contudo, a pandemia foi durando mais tempo e os costumes de cada um acaba gerando conflitos.
"No começo nossa proposta era passar juntas, só que a gente achou que era só 15 dias. Eu sou cachorreira, mas ver cachorro misturado com criança, chuva, tapete molhado, eu fico angustiada. Conviver não é a coisa mais simples do mundo" afirmou.

Luiza disse que elas criaram algumas regras de relacionamento na pandemia e, durante um período, as únicas pessoas que o filho Lucca conhecia eram os pais e a avó. "A gente encontrou uma regra de relacionamento na pandemia, os cachorros não vão, eles ficam e a gente acabou ficando muito junto. O Lucca, a única pessoa que ele via fora a mãe e o pai era a vó", contou.