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Tarô usado, espíritos e deck falso: Sara Koimbra dá dicas para começar

Como começar a ler Tarô? Sara Koimbra dá dicas - Anastasia Shuraeva
Como começar a ler Tarô? Sara Koimbra dá dicas Imagem: Anastasia Shuraeva

Camila Eiroa

Colaboração para Universa

10/06/2022 04h00

São muitos os mitos que afastam ou atraem a ideia de começar a ler tarô. Afinal, quem não gostaria de ter uma ferramenta em mãos que permitisse desvendar as energias ao redor e interpretar as mensagens do universo? Embora a origem exata desta ferramenta seja desconhecida, algumas teorias apontam seu surgimento por volta do século XV, na Europa Central.

Fato é que, ao longo da história da humanidade, pessoas buscam ferramentas oraculares e pessoas que ocupam essa função, como videntes, para sanarem suas dúvidas e revelarem seus destinos. Nos dias de hoje, o tarô ocupa um lugar também de autoconhecimento, o que faz com que as buscas por leituras sejam maiores. Mais do que isso, são muitas as pessoas que decidem estudar o que há por trás dos arcanos.

Em primeiro lugar, é importante destacar que o tarô é um oráculo, mas nem todo oráculo ou jogo de cartas pode ser considerado um tarô. Isso porque um tarô clássico sempre vai ser composto de 78 cartas, sendo divididas em 22 arcanos maiores, que trazem arquétipos, e 56 arcanos menores, com simbologias que envolvem os quatro elementos: ar, água, terra e fogo.

Começando os estudos

"Antes de começar o estudo do tarô, eu indico estudar com bastante profundidade os arquétipos, já que eles vão guiar o entendimento dos arcanos menores. Por mais que seja uma ferramenta divinatória, ele ajuda a acessar o inconsciente coletivo através dos arquétipos. Se a pessoa não tem esse conhecimento, ela pode se perder ou se desenvolver menos por uma falta de compreensão" diz a taróloga Sara Koimbra.

Ela indica dois livros para isso: O homem e seus símbolos, do Carl G. Jung, e Jung: O Mapa da Alma, do Murray Stein. Além disso, a taróloga conta que existem alguns decks de tarô mais recomendados para quem é iniciante. O primeiro da lista é o clássico Rider Waite Smith, que além de ser tradicional, é rico em simbologias arquetípicas.

"O Rider Waite é o melhor para quem está começando, porque as imagens, inclusive as dos arcanos menores, são de fácil entendimento. O Tarô de Marselha também é um tarô tradicional e é o meu preferido, mas ele não tem imagens arquetípicas. Por isso, mesmo sendo um dos mais famosos, é menos recomendado por não ter simbologia nos arcanos menores."

Todo mundo pode ser um tarólogo?

Segundo Sara, sim. Qualquer pessoa pode ser taróloga, desde que ela estude. A palavra tarologia simboliza o estudo (logia) do tarô. Portanto, o tarólogo é aquele que estudou, que sabe as técnicas, a história e como manusear as tiragens. O que é bastante diferente de uma cartomante, porém. Afinal, cartomancia significa o dom (mancia) de ler as cartas.

"Esse é um ponto que me coloca em debate com a maioria dos tarólogos, já que eu defendo que o dom da cartomancia não necessariamente vem através de estudos. Eu conheço cartomantes que não sabem ler nem escrever, nunca pegaram em um livro. Mas, se pegarem as cartas, contam sua vida todinha. Isso é a cartomancia, o dom de ler, pela intuição, qualquer carta, não as do tarô. Então, tarólogo é uma coisa e cartomante é outra", defende.

Ela enfatiza que um tarólogo é como qualquer outro profissional. Tem aqueles que estudam e se formam juntos, na mesma faculdade. No entanto, é possível que um se destaque por sua excelência, que pode ser considerada um dom, e que o outro se destaque por ser um bom profissional, sem nenhuma característica excepcional.

Espiritualidade e intuição

Sem dúvidas, o tarô é uma ferramenta espiritual que permite alcançar o autoconhecimento e respostas sobre a vida. Com isso, é muito importante que qualquer oraculista cuide da própria espiritualidade e do próprio campo energético, caso contrário, ele poderá transbordar seu estado para as leituras que faz e também para seus consulentes.

Sara explica que, apesar de o tarô ser um instrumento que pode ser absolutamente adivinhatório, a leitura vai passar pelo consciente e pelo subconsciente do oraculista na hora de fazer a interpretação. Portanto, se a energia não está em dia e a espiritualidade não está sendo cuidada, isso vai ser externalizado de um jeito ou de outro durante a consulta.

"Eu sempre digo que o oraculista não pode entregar aquilo que ele não tem. Ou seja, para quem deseja praticar essa função, é quase um dever cuidar da vida espiritual, da ética, do estudo, de boas práticas meditativas, de oração e de limpeza energética."

Mesmo sendo uma ferramenta espiritual, porém, o tarô não tem religião e não pertence a nenhuma vertente espiritual. Segundo Sara, em uma visão histórica, ele foi criado por um povo muito sábio para transmitir conhecimentos profundos, sendo um guia de instrução para o nosso caminho. Por isso, pode ser usado por místicos, céticos, bruxos, católicos, umbandistas, judeus e até agnósticos ou ateus.

Crenças e descrenças

Abaixo, Sara Koimbra comenta as principais polêmicas envolvendo o Tarô.

Pode comprar baralho usado? E falsificado?

Falsificado tanto faz. Afinal, um oraculista que é bom interpreta até uma pedra caindo no chão. Agora, baralho usado não recomendo jamais. Uma vez que a pessoa usou o baralho e abriu para outras pessoas, não é indicado. Afinal, o único meio de purificar é pelo fogo. Carta é papel e, se colocar no fogo, queima. Portanto, não tem como purificar.

Existem alguns casos em que algum mestre ou professor presenteia um aluno com um tarô que ele já usou. É bonito, é simbólico, mas ainda assim eu acho que você deve guardar o tarô e não usá-lo, porque tem muita energia do oraculista ali.

Precisa energizar o deck? Como fazer isso?

Sim! Uma das maneiras mais simples de energizar um deck é ao mexer com ele. Indico separar os arcanos maiores dos menores. Depois, coloque os 22 arcanos maiores em uma mesa e dois arcanos menores do lado de cada carta. O do lado direito vai dizer o que você já tem para absorver aquele arquétipo. Do lado esquerdo, o que precisa para ganhar mais consciência sobre o arcano. Além de trazer conhecimento, é uma forma de consagrar e magnetizar as cartas.

No entanto, você pode consagrar de acordo com a sua linha espiritual. Colocar em um círculo de sal, deixar sob a Luz de uma Lua em Gêmeos ou em um dia de Mercúrio. A pessoa pode simplesmente defumar o tarô com uma sálvia ou com o incenso de sua preferência. Não tem uma receita de bolo para isso, mas é importante consagrá-lo e colocar sua energia.

Espíritos se comunicam através do tarô, por isso ele acerta?

Depende de quem está manuseando o tarô. Se a pessoa em questão tem uma sensibilidade mediúnica, ela vai ouvir os espíritos e talvez o que ela não captar pela mensagem dos espíritos, ela pode encontrar nas cartas. Mas teoricamente falando, o tarô não precisa de nenhuma entidade para passar as mensagens. Ele por si só, nas figuras arquetípicas que traz, vai pegar as mensagens no inconsciente coletivo e trazer o que a gente precisa.

Usar cartas que eram de alguém que já morreu traz maus augúrios?

Não recomendo usar nenhum objeto de uma pessoa que já morreu, ainda mais em um trabalho com o tarô, que você coloca a sua frequência energética. Dentro da minha crença, se o oraculista que desencarnou não está totalmente em paz do outro lado, você também não terá paz ao manusear esse instrumento. No entanto, já vi casos de mãe que passa as cartas para a filha, mas a deixou preparada em vida para ler e aquele tarô já estava designado para isso.

Tarô adivinha números da Mega-sena?

Não! O tarô não trata de coisas profanas, ele trata de coisas espirituais que fazem parte de um contexto mais elevado da vida do ser humano. O tarô não é para você ficar milionário, ele é um instrumento espiritual e de autoconhecimento, ainda que ele adivinhe datas e outros números.

Se é um dom espiritual, por que a gente cobra?

Porque o tarólogo, para se dedicar a isso, ele não trabalha com outra coisa e precisa estudar. Só na minha estante, tenho 198 livros de Tarô. Isso custa dinheiro, assim como cursos e decks. Apesar de o tarô ser um instrumento espiritual, ele vai tratar de questões triviais, mesmo que não profanas da vida. Se um tarólogo trabalhasse só pra falar da vida espiritual da pessoa, a gente poderia até considerar não cobrar, mas não é isso que as pessoas procuram.

É pecado ler Tarô?

Acessar um oráculo é como abrir a bíblia para tirar um versículo, é como você consultar um profeta na sua igreja. É a mesma coisa. As pessoas têm muitos preconceitos em relação ao tarô, mas na verdade a prática oracular é procurada desde sempre em todas as vertentes espirituais.

Pode usar Tarô de gatinho, bruxas, orixás ou sexual?

É importante pesquisar quem criou aquele deck e qual é o simbolismo empregado nas cartas. Às vezes a pessoa está mexendo com uma energia que ela não queria mexer. Então, é muito importante que o oraculista, ao escolher um instrumento de trabalho, opte por aquele com o qual possui uma sintonia. Alguns decks possuem símbolos de magia mais densa que podem ser bonitos, mas que podem acabar atrapalhando a energia do oraculista. Então, sem citar um ou outro, é importante entender a filosofia do autor em primeiro lugar.