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Mulher dá à luz no mar e é criticada por parto 'livre': há risco para bebê?

Josy teve o bebê, Bodhi, em 28 de fevereiro. O vídeo do parto viralizou nos últimos dias e foi reportado por diferentes veículos de imprensa internacional - Reprodução/Instagram
Josy teve o bebê, Bodhi, em 28 de fevereiro. O vídeo do parto viralizou nos últimos dias e foi reportado por diferentes veículos de imprensa internacional Imagem: Reprodução/Instagram

Nathália Geraldo

De Universa, em São Paulo

05/06/2022 17h59

Um vídeo da produtora de conteúdo alemã Josy Peukert dando à luz seu filho no que chamou de "parto livre", à beira do Oceano Pacífico, tem sido alvo de críticas na internet daqueles que acreditam que o nascimento do bebê foi cercado de riscos —justamente por ele ter vindo ao mundo perto do mar e em contato com a areia da praia, na Nicarágua, país da América Central onde ela e a família moram.

No próprio perfil do Instagram, o @raggapunzel, Josy explicou que a escolha de viver o momento no mar, sem assistência médica ou de doulas, foi programada por ela e pelo marido. Em um breve relato publicado na rede social, também afirmou que as ondas ajudavam no ritmo da contração para o nascimento.

Quem viu a imagem do bebê ainda preso pelo cordão umbilical à mãe, na praia, questionou: é seguro fazer um parto nessas condições? Universa levou o caso para a ginecologista e obstetra Ana Carolina Lucia avaliar.

Parto no mar: há riscos para mãe e bebê?

De acordo com Josy, o parto no mar foi idealizado por ela depois de sofrer traumas durante seus três partos anteriores. A troca pelo método incomum para o nascimento de Bodhi, se deu para que não tivesse "intervenções" de profissionais de saúde. A única pessoa que estava com ela era o companheiro, Benni, que fez o registro do parto.

Alvo de críticas na internet, ela garantiu que não teve preocupações com questões como a temperatura da água ou com chances de o ambiente não ser seguro para a saúde dos dois. "Bodhi nasceu no sol do meio-dia, quando fazia cerca de 35 graus, não estávamos preocupados com o fato de ele estar com frio e eu não tinha preocupações com infecções transmitidas pela água", respondeu, nas redes sociais.

A ginecologista Ana Carolina Lucia explica que recorrer a essa decisão tem, sim, riscos para o bebê e para a mãe, especialmente pelo contato deles com a água do mar. "Mesmo sendo água salgada, ela não está livre de microrganismos. Assim, é possível acontecer uma contaminação da mãe e do bebê por meio deles".

O bebê ainda pode estar sendo exposto a situação de afogamento, ruptura do cordão umbilical, hipotermia com hemorragia neonatal, encefalopatia hipóxico-isquêmica [por falta de oxigenação no sangue e de perfusão nos tecidos]. "Há o risco de morte por causa de possíveis complicações, como sepse e infeções, do parto na água", acrescenta.

Para a mulher, a preocupação na realização de um parto vaginal no mar também está relacionada a possíveis lesões genitais em contato com a água salgada. "A água auxilia no processo de relaxamento muscular e melhora a sensação de dor de contrações, porém, o sódio presente em maior concentração no mar e partículas de areia e detritos podem gerar desconforto e ardor em feridas abertas, as lacerações, que podem ocorrer nesse tipo de parto", diz a médica.

Josy registrou de forma poética como foi a chegada do bebê, que tem agora 13 semanas de vida. "A areia vulcânica macia sob mim me lembrou que não há mais nada entre o céu e a terra, apenas a vida." Ela pontuou ainda que ter vivenciado três partos vaginais anteriores facilitou a condução do nascimento do caçula. A médica diz que certamente esse histórico contribuiu para que tudo tenha acontecido sem intercorrências. "Os partos vaginais seguintes são geralmente mais toleráveis e menos morosos que o de quem os têm pela primeira vez, porque já houve a preparação pélvica da musculatura da bacia e do instinto materno de parir", comenta.

Segundo Ana Carolina, apesar de ter dado tudo certo para Josy e o bebê, a experiência não deve ser vista como um exemplo para outras mães e, mais, é contraindicada em alguns casos. "As que nunca pariram pela vagina, que tiveram gestações de alto risco, sozinhas ou com acompanhantes sem treinamento específico podem ter riscos durante essa experiência e comprometer sua segurança e a do recém-nascido."

Outra questão é a do preparo emocional que, por vezes, é contemplado por profissionais de saúde e de assistência ao parto, como doulas, que têm preparo técnico para conduzir e apoiar quem está dando à luz.

Mas, e se for na banheira?

O parto na água em ambiente controlado é, de fato, mais comum entre gestantes. Nesse formato, a mulher dá à luz em banheiras ou piscinas com água quente. Para a médica, os estudos da área ainda tentam mapear os riscos dessa alternativa ao parto "a seco".

"O que se sabe é que a água pode ser um meio de contaminação por fluidos externos, entre eles, dejetos, secreções de animais e contaminação por microrganismos, mas ainda não há estudos conclusivos de que exista aumento de infecções dos bebês e ou das mães por parirem na água", finaliza.