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Elas criaram marca de roupas e sucesso levou negócio a reality da Netflix

Luciana Celestino e Alline Fregne são donas da Marca Fala - Divulgação
Luciana Celestino e Alline Fregne são donas da Marca Fala Imagem: Divulgação

Caroline Marino

Colaboração para Universa, de São Paulo

30/05/2022 04h00

A ideia para criação da Marca Fala surgiu em 2014, quando a paulistana Luciana Celestino, 40, e a paranaense Alline Fregne, 41, conversavam sobre suas experiências para comprar roupas e chegaram à conclusão de que faltava uma marca que fosse realmente inclusiva, com peças para qualquer momento da vida, sem distinção de gênero e mantendo a personalidade. Começaram, então, a desenhar modelagens específicas, aproveitando o talento de Alline, que é artesã.

A empresa atende dos números 36 ao 60, faz peças por encomenda para pessoas com deficiência e outras necessidades específicas, mas sempre focando no estilo e na personalidade que cada moda pode expressar. "Nosso propósito vai além dos tecidos e da modelagem, vendemos a mensagem da inclusão", diz Alline.

Em 2018, ambas decidiram largar os empregos fixos em um salão de beleza e se dedicar exclusivamente à marca fala. Desde então, o negócio vem crescendo ano a ano. Em fevereiro, a empresa participou do "Ideias à Venda", reality show da Netflix. "Soubemos por uma conhecida que estavam procurando empresas de moda com negócios diferentes e criativos e decidimos nos inscrever. Fomos selecionadas entre dezenas de companhias e temos muito orgulho disso. Foi importante para repensar nosso negócio e enfatizar como o impacto social é nosso diferencial na autoestima dos clientes", diz Luciana.

Emicida, Linn e Maria Rita ajudaram a divulgar marca

A Marca Fala já vestiu personalidades como Emicida, Linn da Quebrada e Maria Rita, o que ajudou a alavancar as vendas.

A perspectiva de faturamento para este ano é de R$ 2 milhões. "O número é conservador, pois aprendemos a ir com calma. Mas acredito que será superado e teremos nosso melhor ano", diz Luciana. Mas o processo para chegar até aqui foi cheio de altos e baixos e exigiu muito trabalho.

No início da empresa, as duas mantiveram seus trabalhos em um salão de beleza. Era de lá que saía o sustento, e todo o valor com as vendas das peças era reinvestido no negócio próprio. As feiras de empreendedorismo, de economia colaborativa e voltadas para o público plus size ajudaram a aumentar os lucros.

Quando decidiram dar o salto decisivo e apostar todas as fichas na Marca Fala, em 2018, o primeiro passo foi ter loja física —elas abriram três em São Paulo, ampliaram a produção (que é toda manual) e contaram com o apoio dos artistas citados acima. Destaque para Linn, que apareceu diversas vezes com peças da marca, como no clique abaixo:

"Tudo foi ganhando forma e aprendemos a empreender na prática, com todas as dores que isso carrega. Tivemos um ano maravilhoso em 2019", diz.

Até que veio a pandemia. "Não estávamos preparadas e tudo desandou em 2020", conta Luciana. Com o foco em vendas presenciais, as sócias viram o faturamento desabar, tiveram que fechar as lojas e precisaram dar muitos passos para trás. "Foi uma época desafiadora, mas só tínhamos uma opção: reagir".

O caminho possível: apostar no digital

Com as restrições da pandemia, a saída encontrada pela dupla foi mergulhar de cabeça nas vendas online. O maior desafio era como ser diferente em uma época em que todos os varejistas faziam o mesmo. A resposta, depois de muitas tentativas, veio em formatos alternativos. Foi nessa época que a Marca Fala começou a realizar seus famosos leilões. Usando o Instagram, que tem 67 mil seguidores, as sócias agendavam datas e realizavam dias específicos para vendas com preços menores.

"Cada pessoa dava um lance, de R$ 5 em R$ 5, e ao final do tempo previsto arrematava uma das peças. Esse formato chamou atenção e as vendas cresceram bastante. Também fazemos dias de saldos e outros eventos até hoje para atrair o público", diz Luciana. O que poderia ter sido o fim da Marca Fala deu espaço para um recomeço. Atualmente, o site é responsável por mais da metade das vendas.

Inclusão na moda

Luciana e Alline também se preocupam em reverberar a inclusão para seus funcionários e fornecedores. Toda a produção continua sendo manual e envolve mais de dez famílias de São Paulo e de Minas Gerais. "Sabemos que isso encarece nosso custo, mas acreditamos em uma mão de obra justa e faz parte dos nossos pilares redistribuir os ganhos de forma equilibrada", explica Alline.

Além disso, entre as 14 funcionárias que trabalham na loja conceito da marca, em São Paulo, que também é a sede administrativa, grande parte é mãe ou da comunidade LGBTQIA+.

Aliás, Luciana é mãe de cinco filhos e Alline, de três. Elas são madrinhas das crias da outra e viram na Marca Fala uma oportunidade de se reerguer. "Tive meus primeiros dois filhos gêmeos aos 18 anos. Fui mãe solo e na década de 1990 isso era ainda mais difícil. Foi na amizade com a Alline que eu me reergui", diz Luciana.

As sócias abriram uma loja há menos de um mês em São Paulo e pretendem ampliar os pontos físicos em outros estados, começando por Brasília e Rio de Janeiro. Além disso, as feiras ainda são importantes no faturamento da marca.

Depois dos desafios, as sócias acreditam que estão mais estruturadas e prontas para crescer de forma sustentável. Para as empreendedoras mulheres, um conselho: "Olhe para o que faz parte da sua realidade, pois o empreendedorismo vem de dentro. O segredo é planejar, criar seu diferencial e lembrar que desistir não é uma opção", finaliza Luciana.