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Aluna relata tentativa de estupro durante 'apagão' na USP: 'Hoje saí viva'

Aluna correu na direção da Praça do Relógio para tentar escapar do agressor - Marcos Santos/USP Imagens
Aluna correu na direção da Praça do Relógio para tentar escapar do agressor Imagem: Marcos Santos/USP Imagens

Heloísa Barrense

De Universa, em São Paulo

10/05/2022 13h50Atualizada em 10/05/2022 13h50

Uma aluna de Ciências Moleculares da USP (Universidade de São Paulo) denunciou uma tentativa de estupro no início da noite de domingo (8) na Cidade Universitária. Halley Becegato, 25, compartilhou a situação no Twitter, em uma publicação que já alcançou mais de 27 mil curtidas.

No relato, Halley afirma que o Crusp (Conjunto Residencial da USP) estava sem energia elétrica desde às 11h da manhã e que, por este motivo, teve que deixar a residência para realizar as atividades no IAG (Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas).

"Aqui [Crusp] não moram só alunos comuns, mas também mães e crianças que tiveram que se virar para se alimentar e sobreviver hoje, assim como os funcionários. Nem o bandejão nos deu nenhuma refeição hoje", contou ela.

"Por conta disso, fui obrigada a ir pro IAG, pois precisava trabalhar, tentar comer algo e carregar meu celular. Saí do instituto exatamente às 18h15, quando já havia anoitecido, céu fechado. Quando reparo, a Universidade inteira estava sem energia elétrica."

Haylley foi contatada pela reportagem, mas preferiu apenas manter o relato dado no Twitter. Em seu post, ela conta que, por causa da escuridão, tentou iluminar o caminho com o celular. No entanto, sentiu alguém se aproximando e resolveu guardar o aparelho por medo de uma abordagem.

"Enquanto passava entre os bancos, um homem saiu de algum lugar e quando percebeu que eu era uma mulher começou a me assediar. Disse pra aproveitarmos o escuro, que ninguém ia ver, pra eu sentir o p*u dele. Minha única reação foi correr o máximo que eu pude na direção da Praça do Relógio, tentar fugir ou alcançar algo pra me defender. Consegui escapar, mas ainda estou em pânico."

Ela diz que, pela falta de luz, não conseguiu ver nenhuma característica do agressor, mas se lembra do tom da voz dele. Ainda, segundo ela, não foi possível localizar a guarda da universidade e nem a Polícia Militar no campus para fazer a denúncia.

"Não é a primeira vez que nos deixam sem luz aos finais de semana. A USP não liga pra gente, nos trata como se estivesse nos fazendo favor e esquece que quem faz essa merda de universidade existir é funcionar é a gente. As pessoas que eles humilham todos os dias. Por hoje eu sai viva, mas até quando vou ter que correr pela minha vida?", finaliza.

O que diz a universidade

Em nota, a USP informou que "a Pró-Reitoria de Inclusão e Pertencimento e a Superintendência de Prevenção e Proteção Universitária estão em contato com a estudante para averiguar a suposta tentativa de estupro vivenciada no campus no último domingo" e disse que não houve nenhum registro da ocorrência na Guarda Universitária. A estudante não esclareceu se prestou queixa do caso.

"Tomamos ciência do episódio e repudiamos veementemente esse tipo de ocorrência no campus. Com a nova Pró-Reitoria de Inclusão e Pertencimento, nosso objetivo é implementar melhorias nas ações que garantam a integridade física e psicológica dos alunos", disse a pró-reitora Ana Lúcia Duarte Lanna.

Ainda, segundo a USP, a energia elétrica foi cortada na manhã do domingo após um curto-circuito na rede de média tensão. A eletricidade foi restabelecida na manhã de ontem nas regiões que estavam sem energia.

"Estamos empenhados em adotar as medidas necessárias para que isto não ocorra mais, aperfeiçoando nossos sistemas de comunicação e proteção", defendeu a prefeita do campus, Raquel Rolnik.

Como denunciar violência sexual

No primeiro semestre de 2020, foram registrados 141 casos de estupro por dia no Brasil. Em todo ano de 2019, o número foi de 181 registros a cada dia, de acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública. Em 58% de todos os casos, a vítima tinha até 13 anos de idade, o que também caracteriza estupro de vulnerável, um outro tipo de violência sexual.

Vítimas de violência sexual não precisam registrar boletim de ocorrência para receber atendimento médico e psicológico no sistema público de saúde, mas o exame de corpo de delito só pode ser realizado com o boletim de ocorrência em mãos. O exame pode apontar provas que auxiliem na acusação durante um processo judicial, e podem ser feitos a qualquer tempo depois do crime. Mas por se tratar de provas que podem desaparecer, caso seja feito, recomenda-se que seja o mais próximo possível da data do crime.

Em casos flagrantes de violência sexual, o 190, da Polícia Militar, é o melhor número para ligar e denunciar a agressão. Policiais militares em patrulhamento também podem ser acionados. O Ligue 180 também recebe denúncias, mas não casos em flagrante, de violência doméstica, além de orientar e encaminhar o melhor serviço de acolhimento na cidade da vítima. O serviço também pode ser acionado pelo WhatsApp (61) 99656-5008.

Legalmente, vítimas de estupro podem buscar qualquer hospital com atendimento de ginecologia e obstetrícia para tomar medicação de prevenção de infecção sexualmente transmissível, ter atendimento psicológico e fazer interrupção da gestação legalmente. Na prática, nem todos os hospitais fazem o atendimento. Para aborto, confira neste site as unidades que realmente auxiliam as vítimas de estupro.