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Glenn Close: 'Nunca vai ser fácil para nós, mulheres fortes'

A atriz Glenn Close no The 2022 Met Gala - Theo Wargo/WireImage
A atriz Glenn Close no The 2022 Met Gala Imagem: Theo Wargo/WireImage

Mariane Morisawa

Colaboração para Universa, de Los Angeles

09/05/2022 04h00

Glenn Close fez algumas das personagens femininas mais emblemáticas do cinema, do teatro e da televisão: a obcecada Alex de "Atração Fatal" (1987), a Marquesa de Merteuil na versão de "Ligações Perigosas" de 1988, a atriz Norma Desmond da montagem do musical "Sunset Boulevard" e Cruella DeVil em "101 Dálmatas" (1996). Ganhou três Tonys e três Emmy e concorreu oito vezes ao Oscar —uma das maiores injustiças cometidas pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood é ela nunca ter vencido.

Agora ela volta com mais uma mulher forte: Marjan Montazeri, uma psicóloga que é agente do Mossad na segunda temporada de "Teerã", cujos dois primeiros episódios estrearam nesta sexta-feira (6) no Apple TV+, com novos capítulos todas as sextas. A série gira em torno da jovem agente do Mossad Tamar (Niv Sultan), que entrou em Teerã para destruir um reator nuclear iraniano. Mas sua missão não saiu como esperado na primeira temporada, e Marjan precisa tentar ajudá-la. A atriz americana conversou com Universa —leia a seguir.

Universa - Sua personagem na série é muito poderosa. Recentemente, parece haver mais papéis assim. Acha que o público aceita mais as mulheres nesses personagens, e os criadores estão prontos para escalar mulheres nesses personagens?
Glenn Close - Contanto que esses filmes ganhem dinheiro. Provavelmente é o resumo da ópera. Eu acho que as pessoas estão aprendendo que as mulheres podem ser personagens irresistíveis e duras. Espero que as pessoas queiram ver esses filmes e séries o suficiente para que seja viável produzi-los. Sim, acho que as mulheres estão crescendo.

Mas, como mulheres fortes, sempre seremos problemáticas. Acho que nunca vai ser fácil para nós.

Sendo uma mulher forte, como você aprendeu a navegar nesses ambientes e que tipo de problemas você enfrentou?
Vida. Relacionamentos. O que todas nós passamos. No meu trabalho, houve certos projetos em que eu simplesmente não estava disposta a desistir. Eu não criei o projeto, mas um filme como "A Esposa" (de 2017, pelo qual ela concorreu ao Oscar) não conseguiu encontrar um protagonista que quisesse estar em um filme chamado "A Esposa".

Certamente não nos Estados Unidos. Então, é claro, foi um inglês muito inteligente (o ator Jonathan Pryce) que disse: "Eu serei o marido em 'A Esposa'". E fizemos um filme maravilhoso juntos.

Não foi difícil encarar esse tipo de coisa em Hollywood?

Glenn Close - 	Getty Images - 	Getty Images
Glenn Close: 'Sempre me senti uma forasteira'
Imagem: Getty Images


Sempre me senti de fora, uma forasteira. E não é ruim se sentir assim. Eu nunca morei em Hollywood. Sempre morei na Costa Leste dos Estados Unidos. Comecei no teatro. E tentei ser o mais subjetiva possível nas minhas escolhas. A verdade é que há muitos negócios de bastidores que acontecem em nossa profissão.

E você só espera que haja uma mulher na sala e que ela esteja lutando por você. Não que os homens não possam fazer. Mas descobri cedo que teria de lutar muito. Eu comecei a produzir projetos no início dos anos 1990, e você só tem que dizer: "Eu não vou desistir".

Eu acho que também é muito importante ter um currículo que prove que suas escolhas são coisas que as pessoas querem ver. E isso vai sendo construído aos poucos, essa profissional em quem as pessoas vão investir não apenas dinheiro, mas também tempo e emoção.

Como a indústria mudou para as mulheres em termos de papéis e nos bastidores?
Acho que mudou muito. Certamente bastante desde que comecei, e ainda está mudando. O movimento Me Too teve uma grande influência. As mulheres recebem salários iguais por papéis iguais. Acho que isso não vai mudar mais. As pessoas agora estão conscientemente tentando ter elenco e equipe diversificados. Eu acho isso maravilhoso. Então existe um progresso real.

Eu, com 75 anos ainda estou trabalhando. Acredito que é por termos essa necessidade incrível de conteúdo em todo o mundo. Há uma grande necessidade de escritores, então você tem mais histórias e mais opções.

Continuo fascinada, desafiada e encontro grande alegria no meu trabalho. Ainda espero encontrar projetos e personagens que me intrigam o suficiente para querer fazer toda essa jornada, toda essa exploração. Então eu não me vejo parando agora. Eu vou continuar, contanto que não tenha de usar sapatos de salto de 20 centímetros.

Para interpretar sua personagem, ajudou usar o hijab (o véu que as iranianas precisam usar)? É confortável?

Glenn Close vive psiquiatra que luta contra regime dos aiatolás na série 'Teerã' - Divulgação - Divulgação
Glenn Close: 'Às vezes, ficava com raiva porque eu não achava que ficava bonita com o hijab'
Imagem: Divulgação


Às vezes, ficava com raiva porque eu não achava que ficava bonita com ele. Você quer ficar bonita. Você se sente reprimida. Mas foi muito útil para a personagem.

Esta série é sobre uma elite de corrupção. Qual foi a coisa mais surpreendente de descobrir sobre a elite social em Teerã?
Estou começando a pensar que os governos na verdade não governam o mundo. As elites governam o mundo. Muitos anos atrás, nos anos 1960, eu estava na Indonésia, e a elite militar governava a Indonésia. Meus pais estavam no Congo, e as elites governavam o Congo. Olhe para os Estados Unidos. A mesma coisa está acontecendo em meu país agora, com as elites tendo muito mais poder e muito mais dinheiro do que a maioria das outras pessoas. E acho que há um "supra-governo" e aí o governo.

Para as elites, o governo é peixe pequeno. Essa é a minha visão cínica da vida. E agora é mais a norma do que a exceção. E tudo deveria se resumir às pessoas e à qualidade de vida das pessoas. Quanto você está disposto a lutar para melhorar a qualidade de vida das pessoas em seu país?

Teerã é uma série israelense, que se passa no Irã e é rodada em Atenas. Como se vê trabalhando em um ambiente tão internacional agora?

Glenn Close vive psiquiatra que luta contra regime dos aiatolás na série 'Teerã' - Divulgação - Divulgação
Atriz interpreta uma psicóloga que é agente do Mossad na segunda temporada da série 'Teerã'
Imagem: Divulgação


Em uma das primeiras cenas, eu estou andando pelo hospital e sou parada por um guarda. Descobri mais tarde que aquele homem interpretando o guarda era um refugiado do Irã. Ele estava lá interpretando um membro da Guarda Revolucionária Iraniana, em Atenas, em uma produção israelense. Mas todo o seu coração estava ali. Esse é apenas um pequeno exemplo de como é fazer uma série como esta.