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Jornalista torturada por ex relata ameaças no hospital: 'Um dia tu sai'

Um soco inglês e um cassetete foram usados para agredir a vítima, de 37 anos - Reprodução/Whatsapp
Um soco inglês e um cassetete foram usados para agredir a vítima, de 37 anos Imagem: Reprodução/Whatsapp

Marcela Lemos

Colaboração para Universa, do Rio de Janeiro

05/05/2022 18h24

A jornalista Luka Dias, 37, que denunciou ter sido torturada pelo namorado com cassetete e soco inglês enquanto estaria sendo mantida em cárcere privado, por três dias, em um apartamento em Copacabana, na zona sul do Rio, contou a Universa que, mesmo internada no CTI (Centro de Tratamento e Terapia Intensiva), sofreu ameaças do então namorado via aplicativo de mensagens e que o ex chegou a tentar ficar na unidade de saúde como seu acompanhante.

"Tu merece. Um dia tu sai. Hospital não é eterno", escreveu Fred Henrique Lima Moreira para a vítima, enquanto ela ainda estava hospitalizada, após negar que ele ficasse a seu lado na unidade hospitalar. "Quando eu neguei, ele começou a ficar agressivo e a me ameaçar".

Luka permaneceu cinco dias internada no CTI com risco de hemorragia cerebral em decorrência da série de pancadas que levou na cabeça. Além disso, ela teve o maxilar quebrado ao meio e passou por cirurgia reparadora. "Meu maxilar foi refeito com titânio", contou à reportagem. A jornalista está com vários hematomas pelo corpo.

Fred - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Defesa de Fred Henrique Lima Moreira negou que manteve ex em cárcere
Imagem: Arquivo pessoal

Fred foi preso ontem pela Polícia Civil e não ofereceu resistência. Contra ele, foi cumprido um mandado de prisão temporária por tentativa de feminicídio, estupro, cárcere privado e tortura.

O Tribunal de Justiça do Rio manteve a prisão do agressor em audiência de custódia que ocorreu na tarde de hoje.

O caso

De acordo com depoimento de Luka à polícia, as agressões começaram no último dia 26, após ela chegar na casa do namorado. Ela teria ouvido acusações de infidelidade e sido espancada com um cassetete nas pernas, nas costas e na cabeça por três dias. A mulher relata que chegou a receber golpes de mata-leão ao tentar gritar por ajuda, teve o cabelo puxado e foi arremessada no chão no imóvel, em depoimento dado à polícia.

De acordo com a vítima, no segundo dia de cárcere privado, Fred chegou a sair para uma festa de aniversário, deixando a vítima dopada em casa. "Eu estava totalmente dopada do remédio que tomei", relembrou.

A jornalista conseguiu fugir do imóvel no dia 29. Ela chegou a se esconder em lojas próximas ao edifício com medo de encontrar o agressor no caminho. "Eu vim direto para casa, liguei para o meu pai que acionou minha psicóloga. Ela me encaminhou para a delegacia. Consegui prestar um depoimento breve e fui direto para o hospital".

Luka recebeu alta na terça-feira (3). Após o episódio, ela diz ter descoberto que a mãe de um filho de Fred tem a perna marcada por fogo em decorrência das agressões que sofria.

"Altamente perigoso,"

A Polícia Civil do Rio descreveu Fred como "um homem altamente perigoso tendo uma extensa relação de anotações criminais". Ele já tinha registros na polícia referentes a violência doméstica, tráfico de drogas, associação ao tráfico de drogas, porte ilegal de arma de fogo de uso restrito, ameaça, resistência, dentre outras.

Luka e Fred estavam juntos há oito meses. Ela descreveu o ex como uma pessoa manipuladora.

Ele contava histórias de trauma infantil. Era um manipulador e psicopata. Sobrevivi pelo meu filho.

Universa fez contato com o advogado de defesa de Fred. Dejair Rodrigues dos Santos negou que a mulher estava em cárcere privado e disse que aguarda os exames do hospital para comprovar o traumatismo craniano e a fratura de maxilar mencionada pela vítima. Ele ainda não teve acesso a todo o processo e mencionou um "desentendimento entre eles".

Em caso de violência, denuncie

Ao presenciar um episódio de agressão contra mulheres, ligue para 190 e denuncie.

Casos de violência doméstica são, na maior parte das vezes, cometidos por parceiros ou ex-companheiros das mulheres, mas a Lei Maria da Penha também pode ser aplicada em agressões cometidas por familiares.

Também é possível realizar denúncias pelo número 180 — Central de Atendimento à Mulher — e do Disque 100, que apura violações aos direitos humanos.

Há ainda o aplicativo Direitos Humanos Brasil e através da página da Ouvidoria Nacional de Diretos Humanos (ONDH) do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH). Vítimas de violência doméstica podem fazer a denúncia em até seis meses.