Topo

Juliette se desculpa por falar 'japinha' em live. Por que isso é errado?

Juliette, vencedora do "BBB" 21, usou o termo "japinha" em uma live  - Reprodução / Instagram
Juliette, vencedora do "BBB" 21, usou o termo "japinha" em uma live Imagem: Reprodução / Instagram

Rafaela Polo

De Universa, em São Paulo

26/04/2022 16h30

Mesmo após um ano do fim do "BBB" 21, Juliette ainda arrasta multidões em suas redes sociais. E, nesta semana, ela se envolveu em uma polêmica. Durante uma live no Twitter, a cantora usou o termo "japinha", sem entender a gravidade da palavra. Ao término, imediatamente fez um post pedindo perdão e dizendo que isso não iria se repetir—oferecendo aos seus seguidores, inclusive, um link explicando o motivo do problema.

Contudo, nesta terça-feira (26) o termo "japinha" estava entre os assunto mais comentados do Twitter. Muitas pessoas reclamavam do pedido de desculpas de Juliette, chamando a retratação de mimimi, e fazendo uso de termos ainda mais pejorativos para se referir à comunidade asiática. O racismo contra povos orientais é algo frequente e que ganha pouco holofote no mundo atual —e piorou muito com a pandemia da covid-19.

Racismo amarelo

Os negros não são os únicos alvos de racismo no Brasil, embora sofram muito mais com a violência do que qualquer outra raça. As pessoas de pele amarela e com traços orientais também são vítimas desse crime. "Vírus chinês", "japinha", "pastel de flango" e "japonês é tudo igual" são alguns dos termos que se encaixam nesse tipo de preconceito cheio de clichês.

E não é preciso muito esforço para lembrar da violência que os asiáticos sofrem. Bastou o início da pandemia do coronavírus ser creditado à China, para chineses e pessoas de outros países se tornarem vítimas de ataques. Os Estados Unidos, em 2021, registraram milhares de crimes de ódio à comunidade. De acordo com o Centro para o Estudo de Ódio e Extremismo do país, os ataques xenofóbicos chegaram a subir 150%.

Como consequência dessa onda de ódio surgiu o movimento #StopAsianHate (pare com o ódio aos asiáticos, em tradução livre). O site oficial do governo de Nova York chegou a criar uma página apoiando a luta contra a xenofobia, pedindo para que as pessoas denunciassem os crimes, que estavam sendo subnotificados. No Instagram, o perfil com o mesmo nome tem mais de 70 mil seguidores e divulga notícias dos crimes e ações a favor do movimento.

Elas sofreram

Em entrevista a Universa em janeiro de 2021, a atriz Ana Hikari, protagonista da série "As Fives", contou como se sentiu durante a vida toda ao ser frequentemente chamada de japa. Ela falou que só entendeu que não era uma mulher branca quando estava lendo sobre o feminismo negro e se deparou com o termo "recorte de raça". "Passei a vida toda sendo reduzida a 'japa'. As pessoas achavam que eu seria a mais quieta, a mais comportada, e quando fugia deste estereótipo, era chamada de "japonesa do Paraguay" —o que é duplamente preconceituoso. Na adolescência, fui muito objetificada. No imaginário machista, mulheres asiáticas são submissas, mas na cama satisfazem todos os desejos. Isso está muito ligado ao consumo de pornografia", disse em entrevista.

A apresentadora Sabrina Sato, que tem ascendência nipônica e libanesa e também já usou o seu perfil no Instagram para pedir que as pessoas reflitam sobre a xenofobia sofrida por pessoas com a sua ancestralidade. "A covid-19 tem sido usada como muleta para que muita gente preconceituosa exercite seu desprezo por asiáticos e seus descendentes. Não são raros os relatos de violência verbal e física contra japoneses, chineses, coreanos, vietnamitas, tailandeses e outros povos da Ásia em diferentes partes do mundo. Faço um convite para que todos vocês avaliem se ainda possuem algum resquício interno de preconceito. Chamar o descendente de asiático de coronavírus é preconceituoso, fazer piadas com o sotaque ou dicção dessas pessoas orientais é constrangedor, fetichizar a mulher asiática é ofensivo. A gente internalizou comportamentos que julgamos naturais, mas, que, na verdade, mascaram a discriminação. Não ofenda, nem agrida quem é diferente de você! Não vamos disseminar o ódio contra os povos amarelos!", postou em sua rede social.