Topo

Umbandista sobre intolerância religiosa em Uber: 'Disse que adoro o Diabo'

Aline Quintiliano, de 40 anos - Arquivo pessoal
Aline Quintiliano, de 40 anos Imagem: Arquivo pessoal

Mariana Gonzalez

De Universa, em São Paulo

18/04/2022 17h01

No último sábado (16), ao deixar o centro de umbanda que frequenta na Vila Valqueire, na zona oeste do Rio de Janeiro, a empresária Aline Quintiliano chamou um Uber e, durante boa parte da viagem, foi ofendida pelo motorista por conta de sua religião. Ele teria dito que ela "queimaria no inferno" e mencionado o diabo mais de uma vez.

Em entrevista a Universa, ela contou que entrou no carro com duas colegas e passaram algum tempo falando sobre a gira do próximo sábado, que será em homenagem a Ogum — "uma data muito importante para nós". Elas desceram numa parada no meio do caminho e Aline seguiu dentro do carro, para sua casa, quando percebeu que o motorista estava ouvindo louvores.

"Se eu tivesse percebido, teria evitado falar da minha religião, porque assim como eu não gosto que pareça provocação que alguém fique falando a respeito de religião comigo, não quero que pareça que eu faço isso com os outros", fala.

Aí eu cheguei e falei 'me desculpe, eu não percebi que o senhor estava ouvindo louvor, a gente veio do centro e estava conversando'. Ele disse que não tinha problema, mas começou a falar da Bíblia, de Adão e Eva, de Bolsonaro'. E eu concordando, tentando não tornar aquela situação mais desconfortável do que já estava", relata.

Segundo a empresária, o motorista começou a "engrossar a voz" quando percebeu que não faria a passageira mudar de opinião e nem se converter: "Ele ficou um pouco mais exaltado, disse que eu ia arder no fogo eterno, que não iria alcançar a salvação, que adorava o diabo".

"Algumas pessoas me questionaram por que eu não desci do carro, mas eu não desci porque eu não senti nenhuma ameaça em relação a minha integridade física. A agressão foi em relação à intolerância verbal, às ofensas", fala. "Mas eu estou acostumada com isso. A gente acaba se adaptando porque, contra a minha religião, o preconceito é enorme."

Aline conta que essa não foi a primeira vez que foi alvo de preconceito por ser umbandista. Embora nunca tenha sofrido ameaças físicas, já ouviu de um rapaz que não namoraria com ela por conta da religião e da esposa de um amigo que não seria sua madrinha de casamento porque a umbanda "não é coisa de Deus".

"Não tenho e nunca tive vergonha de ser umbandista", fala.

Outro lado

Aline denunciou o motorista no aplicativo da Uber, que estornou o valor da corrida.

Procurada por Universa, a Uber afirmou, por meio de nota, que "não tolera qualquer forma de discriminação em viagens pelo aplicativo". "Discriminar uma pessoa em razão de seu credo, raça, nacionalidade, necessidade especial, orientação sexual, identidade de gênero, estado civil, idade ou inclinação política configura violação dos Termos e Condições da plataforma e conforme explicitado no Código de Conduta da Comunidade Uber casos de conduta discriminatória podem levar à desativação do perfil", diz a empresa.

Afirmou ainda que "defende o respeito à diversidade e reafirma o seu compromisso de promover o respeito, igualdade e inclusão para todas as pessoas que utilizam o nosso app", mas não fez menção a possíveis medidas que serão tomadas em relação ao caso.