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Britney Spears diz que vai fazer yoga: como lidar com depressão periparto?

globalmoments/Getty Images/iStockphoto
Imagem: globalmoments/Getty Images/iStockphoto

Franceli Stefani

colaboração para Universa, de Porto Alegre

15/04/2022 04h00

Ao anunciar a terceira gravidez, a cantora Britney Spears, 40 anos, usou sua própria rede social para contar a novidade aos fãs e revelar a doença que enfrentou nas gestações anteriores. A depressão. No post feito no Instagram, na segunda-feira (11), relatou toda a angústia que teve na última gestação. "As mulheres não falavam disso naquela época algumas pessoas consideravam perigoso se alguém reclamasse assim com um bebê dentro dela, mas agora as mulheres falam sobre todos os dias. Graças a Jesus não temos que manter essa dor um segredo reservado", desabafou.

Antes chamada de depressão perinatal, teve mudança de nomenclatura e, agora, é conhecida como depressão periparto, já que surge, geralmente, no último trimestre de gestação. O professor da faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o psiquiatra Ives Cavalcante Passos, diz que entre 3% e 6% das mulheres terão um episódio depressivo maior durante a gestação ou nas semanas ou meses após o parto. Já o baby blues, que tem sintomas mais brandos, acomete cerca de 50% das mulheres.

A oscilação hormonal influencia diretamente o quadro, sendo mais afetada aquela mãe que tem bipolaridade. O professor diz que a preocupação é ainda maior quando há características psicóticas nas pacientes. "Quando isso aparece, os psiquiatras precisam ficar atentos. Se há sintomas psicóticos, risco de suicídio ou infanticídio a gente pensa em internar e a amamentação é contraindicada. Não são todos os casos, alguns podem ser bem graves."

Por outro lado, o baby blues é um quadro mais leve e que, muitas vezes, não exige nenhum tipo de medicação. "A mãe apresenta instabilidade emocional, fadiga, pode ficar chorosa e triste, é passageiro, não há episódio depressivo. A depressão é um diagnóstico psiquiátrico". O professor de Medicina da Universidade Regional do Noroeste do Rio Grande do Sul (Unijui), psiquiatra Bruno Guidolin, reforça que a instabilidade emocional é comum nas primeiras duas semanas, se os sintomas perdurarem é preciso prestar atenção.

"Mais de 90% acabam tendo esses sintomas. É o corpo dela se adaptando." A depressão pós-parto, segundo ele, pode aparecer até um ano após o nascimento da criança. "A amamentação é um período delicado em que a mãe pode ter esse diagnóstico, neste caso, o tratamento é farmacológico e com terapias."

No mesmo post em que anunciou a gravidez, Britney afirmou que nessa gestação pretende fazer yoga todos os dias. Os especialistas afirmam que isso sim, pode ajudar. "É importante fazer qualquer atividade física, participar de grupos de apoio. Essa proposta de estilo de vida é essencial, é preciso estar bem consigo", afirma o psiquiatra Bruno Guidolin.

Gravidez não deve ser romantizada

Não bastasse o período de gestação, o boom hormonal, a mulher tem ainda a chamada "exterogestação", que perdura por cerca de três meses após o nascimento. Quando o período acaba o bebê passa a "entender" que saiu da barriga da mãe e está mais adepto ao mundo. É quando aumentam as horas seguidas de sono. A médica ginecologista natural, Carolina Melendez, explica que essa "inundação hormonal" e queda drástica após o parto exige tempo de adequação no organismo.

Se a mãe já possuía tendência a depressão e outras doenças, esse momento pode ocasionar a depressão pós-parto. "Há exaustão materna, falta de sono, alimentação inadequada, estresse e com uma criança para cuidar, além da revolução hormonal dentro dela. É uma parte. O psicológico tem uma importância tão grande senão maior".

Outro ponto é quando a mulher está grávida ela está cercada de atenção, quando o filho nasce, a mãe vai para a invisibilidade. "O primeiro mês é em casa. O marido, por mais presente que seja, pode estar perto, mas é a mulher que passa por todas as mudanças. Ela está se sentindo esquisita, estranha, ninguém mais olha para ela. Ela está isolada da sociedade. Não há contato com amigas, colegas de trabalho. Agora é ela e o bebê".

Carolina enfatiza que quando há outros filhos, a situação fica ainda mais intensa, já que é preciso "dividir a atenção com outras crianças". A ginecologista, que atuou quase uma década como obstetra, conta que não conhece uma mulher que seja "completamente realizada e feliz" após o parto. "Isso não existe. São muitas alterações físicas, hormonais e neurológicas para entender o bebê", frisa.

Dentro dessa busca pela estabilidade hormonal, vem o blues puerperal. "É quando a mãe toma banho, ela está cansada, mas está ao lado do filho, ela é funcional. Faz o que precisa, levanta da cama. É preciso atenção quando ela não se alimenta, não quer atender o bebê e começa a falar que reconhece a criança, mas não parece que não é dela." De acordo com a ginecologista, os quadros mais graves são quando a vida do bebê e da própria mãe são colocadas em risco. Alterações devem ser repassadas ao médico de confiança.

A ginecologista, que também é mãe, reforça a importância de não escravizar a mulher mãe e humanizar o processo. "Se a carga está pesada demais, se a maternidade está pesada demais, ela precisa de ajuda. Existe rede de apoio, a família, os médicos e tratamentos. A gente não pode escravizar a mãe em prol de uma visão romantizada e não compartilhada com a realidade da maternidade".

"Cheguei a pensar em tirar minha própria vida"

B*, Moradora de Caxias do Sul, cidade da Serra gaúcha, a estudante de 24 anos sofreu de depressão quando estava prestes a ganhar a filha, hoje prestes a fazer três anos. Ela, que prefere não se identificar, conta que não conseguia suportar a presença de ninguém perto dela, não sentia vontade de arrumar o quarto da pequena, muito menos de pensar nela com amor. "Cheguei a pensar em tirar minha própria vida. Não me reconhecia ao olhar no espelho, não me arrumava, pouco comia e vivia triste, chorava muito", relembra.

Embora recebesse visitas em casa, ninguém percebia que algo estava errado. "Não perguntavam se eu estava bem, apenas opinavam sobre tudo, desde o nome da minha filha até como deveria me portar na hora do parto. .Ninguém notava que estava triste, que minha vaidade havia terminado."

Foi após uma visita da madrinha, que mora na cidade de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, que procurou um médico. "Ela veio e percebeu que eu não era a mesma do início da gravidez. Observou meu comportamento, a forma que me vestia, o sono e o choro em excesso. Três dias após ela ter chegado, pediu para me acompanhar na consulta com minha obstetra. Lá, falou sobre o que havia notado". De lá, saiu com encaminhamento para apoio psiquiátrico.

"Foram dois meses extremamente delicados para mim. Depois, aos poucos, consegui sair do buraco e, hoje, minha filha é o meu bem mais precioso", pondera. Ela passou a fazer caminhadas diárias, além de ter acompanhamento especializado. "Se não fosse essa ajuda, o cuidado da minha madrinha, o apoio do meu marido, não sei o que teria acontecido."