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'Menopausa é uma bela puxada de tapete', diz autora de livro sobre tema

A jornalista Mariza Tavares reuniu relatos de mulheres em livro sobre menopausa - Divulgação
A jornalista Mariza Tavares reuniu relatos de mulheres em livro sobre menopausa Imagem: Divulgação

Tainá Goulart

Colaboração para Universa, de São Paulo

11/04/2022 04h00

Na carreira da jornalista Mariza Tavares, muitos anos de sua profissão foram dedicados ao entendimento da longevidade, que, em sua opinião, começa já na infância. "É uma construção de hábitos saudáveis que precisa vir desde o nascimento, pois eles serão determinantes para como vai ser a qualidade de vida da pessoa nas décadas seguintes", explica ela. Porém, Mariza ainda sentia falta de discutir sobre a janela da meia-idade feminina, com luz especial voltada para a menopausa.

"Durante a pandemia, passei a ver diversos seminários internacionais sobre como envelhecer com saúde. Percebi o quanto a meia-idade feminina é abordada e entendida lá fora, enquanto que, no Brasil, existe um 'manto de silêncio' e ninguém fala nada. Entre as mulheres, a gente explica a primeira menstruação, a primeira transa, porém, a menopausa some, pois é como se fosse um carimbo de que estamos velha, não servimos para mais nada", confronta ela. Munida desse incômodo, a autora entrevistou 13 mulheres e alguns médicos, somou isso à própria experiência e reuniu o material, com informações e reflexões, no livro "Menopausa: o Momento de Fazer as Escolhas Certas para o Resto da Sua Vida", lançado recentemente pela editora Contexto.

Para ela, uma das conclusões que encontrou foi a de que, se pudéssemos falar cada vez mais cedo e sem o peso social que a menopausa carrega, melhor seria para as mulheres. "Estamos falando da faixa dos 40, 50 anos, período em que a mulher desempenha o maior número de papéis, e a diversidade é imensa. Algumas com filhos pequenos, outras com adolescentes em casa, ou até tentando engravidar. Fora as conquistas profissionais, familiares, próprias. O repertório de experiências é enorme e o caminho já está mais tranquilo, prontas para deslanchar. No entanto, de repente, os hormônios começam a falhar e costumo dizer que é uma bela puxada de tapete", afirma Mariza, que procurou, por meio de sua nova obra, levar auxílio para que as mulheres possam reescrever as respectivas narrativas, mesmo com o novo momento hormonal.

Não é uma sentença de morte

A jornalista revela que não sentiu tanto os sintomas da menopausa por causa da descoberta de um hipotireoidismo, aos 46 anos, que também revelou a disfunção dos hormônios, algo que a encaminhou para o tratamento mais adequado ao seu caso.

"No livro, fiz questão de procurar histórias de mulheres diferentes para mostrar o quão amplo podem ser os sintomas e não colocar todo mundo na mesma caixa", explica Mariza.

Nos consultórios, segundo a escritora, com frequência, o atendimento costuma focar no controle de sintomas, como ondas de calor ou mudanças de humor, quando, na verdade, é preciso também de um cuidado psicológico, como uma bússola para navegar por esse oceano desconhecido que se avista.

"Em uma das noites de autógrafo do livro, uma das presentes me abordou triste, falando que havia saído do médico e tinha descoberto que estava na menopausa. O semblante dela parecia que tinha recebido uma sentença de morte, de inexistência, de destruição de tudo que ela construiu. Esse episódio me marcou bastante", relembra.

Mariza ressalta que também há uma certa transferência de responsabilidade dos especialistas nesse momento. "Tem gente que demora para procurar ajuda, por vergonha, e, quando consegue, os médicos parecem colocar a decisão na mão das mulheres, que já não são muito bem informadas. O sentimento que mais ouvi das entrevistadas e pessoas que já leram meu livro foi o de solidão. A missão desse lançamento é, efetivamente, promover uma mudança de estilo de vida, diminuição da vergonha e estimular rodas de conversa. Não é uma questão que fica só nos consultórios, é algo social, maior do que pensamos."

Ainda de acordo com as pesquisas feitas por Mariza, em 2025 haverá cerca de um bilhão de mulheres no planeta entre a perimenopausa [a transição até o momento da última menstruação] e a pós-menopausa. "É um contingente tão significativo que deixa o mercado excitado, pois são consumidoras que deverão gastar algo perto de 600 bilhões de dólares em medicamentos, produtos e consultas médicas. Por isso, a gente precisa lutar para falar mais. A minha geração, dos baby boomers, nascidos depois da Segunda Guerra Mundial, é responsável por mudar um pouco o discurso que nos foi passado. O bastão vai passando de mão e mão, evoluindo e transformando o futuro", ressalta a autora.

Tratamento precisa abarcar apoio psicológico

Ao longo das 128 páginas, o livro se divide em cinco partes: o corpo, as emoções, as relações, o sexo e o segundo ato. Tem um foco especial nos tratamentos além da reposição hormonal. "Parece que só isso vai resolver, como se fosse uma 'varinha de condão'. O tratamento é a união de um especialista, mas também de um apoio psicológico bem elaborado, tanto de profissionais quanto de pessoas ao redor", pondera ela.

A questão do sexo, por exemplo, é algo pouco abordado nessa faixa etária. Segundo a autora, algumas mulheres contaram que até gostaram de entrar na menopausa, pois não estavam satisfeitas com o que acontecia no casamento. "Para mim, nessa fase, a gente deveria ter um prazer sexual maior, justamente pela maturidade em várias áreas da vida, mas isso nos é tirado, podado, e não estimulado."

É preciso fazer uma 'freada da arrumação'. "Cuidar da qualidade do sono, buscar terapia, espiritualidade, fazer mais exercícios, pensar na alimentação, nas atividades culturais que gosta de fazer. Ou seja, é um processo de parar para se entender, arrumar a 'casa' e ir, aos poucos, criando e fortalecendo esses novos hábitos", diz ela, que faz uma comparação interessante da finitude com a menopausa.

"As pessoas têm medo da finitude, mas não tem como contornar isso, assim como a menopausa. Faz parte da nossa natureza humana, então, qual o motivo que nos impede de se cuidar para passar por esses momentos de uma forma bem melhor? A meu ver, a resposta é falta de informação e diálogo sobre esses assuntos."

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