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Alergia à bijuteria? Saiba o que é e como lidar com o incômodo

Mariona Llibrer Ribas/Getty Images/iStockphoto
Imagem: Mariona Llibrer Ribas/Getty Images/iStockphoto

Rute Pina

De Universa, em São Paulo

10/04/2022 04h00

Brincos, colares, anéis e pulseiras são uma ferramenta comum para complementar qualquer look para muitas pessoas. Mas, para alguns, como a produtora carioca Maria Carolina Oliveira, de 28 anos, não é uma opção possível. Ela tem alergia a bijuterias.

"Percebi que eu tinha essa alergia a bijuteria usando principalmente no verão. Tinha momentos em que eu ficava muito empolada no pescoço. Anel me dava muita alergia, pulseira também dava irritação. Tinha brincos, mais argolas, que acabavam deixando inchado, que machucava. Aí entendi que aquilo era uma alergia e que, infelizmente, eu deveria investir um pouco mais se eu quisesse usar alguns acessórios", conta.

O que causa reação às bijuterias?

A dermatologista Katleen Conceição, chefe do Ambulatório de Pele Negra da Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro, explica que esta alergia causada por acessórios é uma dermatite de contato. É um tipo de alergia desencadeada pelo contato da pele com algum tipo específico de alérgico.

"No caso das bijuterias, normalmente, o material mais comum relacionado ao aparecimento de alergia é o níquel. Isso porque ele pode se soltar da liga metálica e entrar em contato direto com a pele, causando irritação e lesões avermelhadas, que coçam", afirma a médica.

Além do níquel, cromo e cobalto também podem agravar a dermatite.

A dermatologista explica que não existe nenhum tipo de fator genético para essa reação. "Os sintomas na pele costumam surgir algumas horas depois da exposição. Geralmente, aparecem em forma de lesões avermelhadas nas regiões da pele que entraram em contato com a peça, associadas com uma coceira intensa. Também pode surgir inchaço e pequenas vesículas no local."

O médico Renato Pazzini, dermatologista do Corpo Clínico dos hospitais Albert Einstein e Oswaldo Cruz e membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia, esclarece que, pelo fato de a dermatite não ser genética, elas são adquiridas ao longo da vida.

"É muito comum o paciente chegar no consultório, ver esse diagnóstico de dermatite de contato e falar 'nossa, mas eu uso brinco há vinte anos. Por que agora? Será que é isso mesmo?'. Não sabemos dizer exatamente o porquê, mas nunca é na primeira exposição que se desenvolve essa dermatite de contato. São depois exposições seguidas", afirma o médico.

Quando a pele da pessoa alérgica entra em contato com a substância o níquel ou algum derivado pode ser reconhecido pelo nosso sistema imune como estranha e a tendência ao organismo manter esse reconhecimento para sempre. "É a memória imunológica dele", fala Renato Pazzini.

Esse mecanismo do corpo segue é a mesma lógica por trás de uma vacina. "Quando você toma a vacina e têm contato com um vírus e as células de defesa se reproduzem. Conforme o organismo fica distante daquele vírus ou alérgico, existe uma chance pequena, de como vemos com as vacinas de perder aquela imunidade", explica o dermatologista.

Então, a possibilidade de o organismo zerar a memória imunológica seria se afastar da substância. Mas, no caso do níquel, explica Pazzini, é difícil zerar o contato com a substância, que é presente também em alimentos como nozes, feijão, ervilhas, grãos e chocolate. "É muito difícil a pessoa ficar 100% longe do níquel para chegar a o corpo chegar a esquecer completamente daquele alérgico. Então assim, existe a possibilidade? Existe. Mas ela é pequena."

Solução para alergia é substituir o material dos acessórios

A recomendação para pessoa que já teve uma dermatite de contato, a recomendação é suspender o uso do material que traz irritação. Técnicas caseiras para burlar a alergia não são aconselhadas pelos médicos consultados por Universa. Ou seja, dica que você pode ter visto na internet como passar uma camada de esmalte na peça para evitar contato do metal com a pele, mergulhar o acessório em pomadas bactericidas ou com antibióticos não são efetivas para enfrentar o problema.

Pazzini adiciona que essas técnicas podem piorar o problema: Envolver a bijuteria, com pomada, por exemplo, não é correto já que algumas delas, como Nebacetin, é uma substância que classicamente também está relacionada ao aparecimento de dermatite de contato, assim como esmaltes.

"Algumas vezes, por exemplo, a pessoa tem uma dermatite de contato por níquel e ela tem muita dificuldade de usar jeans porque o botão do jeans costuma ter a substância também. Nesse caso, a gente orienta costurar como se fosse um bolso falso por dentro da calça para ter um pedaço de jeans entre a pele da pessoa e o botão de metal."

É necessário, diz Katleen Conceição, investir um pouco mais e trocar o material dos acessórios, procurando aqueles feitos de aço cirúrgico, prata de boa qualidade e ouro 18k, fabricados com ligas mais resistentes e que não soltam substâncias na pele. "E investir em bijuterias nickel-free, feitas de aço inoxidável e alumínio, e em peças que não usem metal, com aquelas de fibras naturais e pedras", recomenda a dermatologista.

A produtora Maria Carolina admite que, vez ou outra, insistia nestes acessórios porque era financeiramente inviável comprar só ouro ou prata. "A alternativa que encontro é usar tipo semijoia ou esses que são banhados. É o que dá para fazer né?".