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Estudante viraliza com vídeo em que conta à mãe que passou no vestibular

Momento em que a mãe da estudante Maria Lívia descobre que ela passou em primeiro no vestibular - Reprodução
Momento em que a mãe da estudante Maria Lívia descobre que ela passou em primeiro no vestibular Imagem: Reprodução

Rute Pina

De Universa, em São Paulo (SP)

02/04/2022 15h42

A estudante Maria Lívia das Neves de Oliveira, 17 anos, viralizou nesta semana por ter passado no curso de engenharia ambiental na UnB (Universidade de Brasília). O encanto da história está no vídeo em que ela aparece dando a notícia para a mãe sobre ter conquistado o primeiro lugar no vestibular. Todo o mundo se emocionou nas redes sociais.

Também na quarta-feira (30), a menina voltou a viralizar com um post no Twitter em que mostrava uma entrevista que havia dado aos 11 anos, falando do sonho de ser engenheira após vencer a Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas.

A estudante conversou com Universa por telefone neste sábado (2), enquanto se preparava para a "calourada", a recepção dos novatos na faculdade. Ela conta que se assustou com o alcance da notícia, já que até famosos como a atriz Bruna Marquezine e o apresentador Luciano Huck compartilharam a história.

"Sempre fui muito tímida, não gosto de exposição. Sou uma pessoa reservada. Então, foi uma surpresa receber tantas mensagens, de todos os cantos do Brasil, e ver a reação que um vídeo tão simples gerou."

A estudante Maria Lívia e sua mãe, Maria Aparecida Ramos das Neves - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
A estudante Maria Lívia e sua mãe, Maria Aparecida Ramos das Neves
Imagem: Arquivo pessoal

Para ela, o vídeo causou comoção por ser genuíno. "Foi uma realização muito grande. Meu pai disse que as pessoas ficaram felizes por terem visto uma reação tão real e espontânea, com a qual se identificaram. Não foi uma coisa planejada. E acho que também viralizou por ser uma notícia tão boa no meio de tantas ruins. Foi como uma válvula de escape."

Ela conta que tinha se esquecido da entrevista na premiação das Olimpíadas de Matemática, em 2016. "Quando meu irmão me mostrou esse post, ao ver meu rosto tão pequeno, pensei na caminhada que eu fiz para chegar até aqui", contou ela. "Nunca fui muito ambiciosa, mas sempre disse que no futuro eu saberia os caminhos que quereria trilhar."

Filha de um servidor público, de 71 anos, e de uma professora de educação infantil, de 59, Maria Lívia diz que se orgulha do caminho que percorreu. A estudante mora em Brasília e conta que a família representa os migrantes que construíram a capital.

O estudo sempre foi algo central na vida da família. Os pais não fizeram faculdade e, agora, ela e o irmão —que estuda na UnB, no curso de ciência política— orgulham ambos na universidade pública.

A família de Maria Lívia reunida - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
A família de Maria Lívia reunida
Imagem: Arquivo pessoal

"Meu avô estudava para passar em concurso e meus tios levavam o estudo muito a sério, como uma ferramenta para conseguir uma condição de vida melhor. Essa ideia sempre foi muito impregnada dentro da gente."

Mesmo sabendo o tamanho do esforço para chegar até o primeiro lugar no vestibular, ela rejeita o discurso meritocrático.

"A meritocracia é uma farsa", diz ela, que teve oportunidades de estudar em bons colégios públicos em Brasília e de fazer o ensino médio em uma escola particular com bolsa integral.

"Fiz o ensino médio todo sem pagar nada, nem mesmo os livros e os uniformes, porque fazia parte do regulamento dessa bolsa. E lá eu tive contato com uma realidade bem diferente, com pessoas que tiveram oportunidades de ter muito mais acesso à informação do que meus amigos de escola pública."

"Ser dedicada é um mérito meu, mas eu não teria chegado até onde eu cheguei sem um colégio bom, com professores bons, com a possibilidade de ter um lugar onde eu pudesse assistir aulas na EaD, durante a pandemia", completa a estudante.

A estudante Maria Lívia das Neves de Oliveira em sua formatura do Ensino Médio - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
A estudante Maria Lívia das Neves de Oliveira em sua formatura do Ensino Médio
Imagem: Arquivo pessoal

Agora, ela sonha em fazer intercâmbio. E espera que outras pessoas tenham o mesmo acesso que ela teve. "Se a educação recebesse mais investimento, muita gente teria histórias parecidas com a minha. Espero que muitas Marias Lívias apareçam."