Topo

Thaís Carla investe em biquínis para gordas: 'Moda não atende o que quero'

 A dançarina Thaís Carla tem uma minicoleção de biquínis - Reprodução/Instagram @thaiscarla
A dançarina Thaís Carla tem uma minicoleção de biquínis Imagem: Reprodução/Instagram @thaiscarla

Luiza Souto

De Universa

02/03/2022 04h00

A dançarina Thaís Carla sempre teve o corpo gordo e, por isso, até hoje precisa encomendar toda roupa que veste —como os biquínis que colorem sua página no Instagram, que tem 2,7 milhões de seguidores.

Foi justamente dessa dificuldade em encontrar peças que a atendam que a influenciadora de 30 anos resolveu lançar, no início do ano, uma minicoleção de biquínis modelo cortininha. Em um mês vendeu todos os 40 que disponibilizou e, para setembro, promete uma nova safra, ainda maior. Ela também é sócia e proprietária da Alitasex, marca de produtos sensuais com linha exclusiva de lingeries e fantasias para pessoas gordas.

Conhecida pelo grande público após participar de um quadro no "Domingão do Faustão", em 2009, dançar no programa da Record "Legendários" (2012) e fazer parte do corpo de dança da funkeira Anitta (2017-2019), a fluminense de Nova Iguaçu conta nesta entrevista a Universa que decidiu direcionar a carreira para a internet com o objetivo de incentivar mulheres gordas a se aceitarem. No post mais recente da sua página, por exemplo, posou com um biquíni feito de fita isolante ao lado da influenciadora e ex-BBB Rízia Cerqueira.

"Tenho que fazer para as pessoas fazerem também. E para entenderem que elas podem usar o que quiserem", afirma.

Veja os principais trechos da entrevista.

Universa - Como surgiu a ideia de investir na venda de biquínis para pessoas gordas?

Thaís Carla - Começou perto do meu aniversário de 30 anos, em outubro do ano passado, quando quis usar um biquíni de amarrar, modelo cortininha e fio dental, mais sensual. Só que pessoas com o corpo que eu tenho não acham nada parecido com isso para vestir. Quando era mais nova e não tinha dinheiro, juntava um biquíni baratinho no outro e dava um jeito. Então pesquisei e vi uma pessoa usando um modelo de que gostei, nos Estados Unidos. Decidi fazer igual. As mulheres gostaram, e resolvi lançar o modelo nas cores neon, verde, amarelo fluorescente, abóbora e rosa-chiclete. Em um mês vendi todas as 40 peças. Agora, em setembro, quero fazer uma coleção bem grande, com muitos modelos.

Contou com a ajuda de alguma estilista?

Não, porque é difícil encontrar estilista e costureira que atendam tão bem a pessoa gorda. Você quase não vê artista gordo, então, eu sou minha própria estilista. Eu e meu marido [o fotógrafo Israel Reis] pensamos em tudo juntos. Achamos uma costureira em Presidente Dutra, na Bahia, onde moramos. E ficou perfeito.

Sempre mandou fazer seus biquínis?

Tudo o que eu uso eu mando fazer, porque não encontro nada do meu jeito nem do meu estilo. Infelizmente, a indústria da moda não atende o que quero. Se precisar ir a uma festa, por exemplo, tenho que ter uma semana para me preparar. Se for convidada em cima da hora não tem como.

Nos seus posts, muita gente diz que admira a sua autoestima, mas que não consegue se aceitar. O que falar para essas pessoas para que em definitivo elas se amem?

Eu acho que o maior problema da sociedade é ligar para opiniões alheias. Quando uma pessoa para de se importar com o que os outros pensam e vive sua vida, as coisas mudam. Tem que educar os olhos, parar de seguir mulher com o corpo dito padrão e acompanhar pessoas nas quais você se enxerga, que sejam como você. O conselho maior é ligar o f*da-se.

Mas também há quem diga que elogiar um corpo gordo é hipocrisia, porque ele não pode ser bonito e saudável. Qual é a sua resposta para isso?

As pessoas acham que o saudável está na aparência, mas isso acontece porque ouvem o tempo todo que gorda é feia, não arruma trabalho nem marido, e que não vai viver muito. Eu sempre dancei, me cuido, mas são inúmeros fatores que fazem a pessoa ser gorda, como o biotipo dela.

Você sempre teve autoestima elevada?

Sim, porque sempre consegui fazer tudo o que eu queria com esse corpo. E a dança elevou essa autoestima. Lá em casa, ninguém me colocou para baixo. Minha mãe achava que era ruim ser gorda e me fazia adotar dietas, mas com o tempo isso passou.

O apoio familiar é tudo

No ano passado, você ganhou um processo contra o humorista Leo Lins, que foi condenado a pagar R$ 5.000 por danos morais por comentários gordofóbicos contra você. Acha que isso deixou alguma lição?

Sim. De lá para cá, muita gente teve medo de julgar, até porque tem mais processo rolando contra ataques como esse. E esse processo teve uma questão interessante pela proporção que tomou. Achei muito incrível e espero que tenham mais pautas sobre isso.

Você fez sucesso dançando num quadro do Faustão, foi a programas de TV e ficou dois anos com a Anitta, mas parou. Não te deram mais oportunidade?

Eu escolhi não trabalhar mais como dançarina e focar na internet. Mas o chato dessa história é que as pessoas gostaram [das minhas participações], mas você não vê mais gordas fazendo o que fiz. Ainda querem o padrão. Até hoje me chamam para fazer participações, inclusive em programas de TV, mas preferi mostrar um outro lado meu além da dança.

Está faltando mais pessoas gordas nos espaços de repercussão?

Sim. Está difícil ter uma representatividade. Queria ver mais pessoas gordas. O homem pode ser gordo, a mulher não. Ainda tem um machismo aí. Quero, um dia, chegar lá e ver a criança e o adolescente falarem: "Eu posso também". Se a pessoa não se ver, ela não vai, porque acha que não existe alguém como ela.

Thaís Carla desfilou na SPFW em 2021 - Shutterstock - Shutterstock
Thaís Carla desfilou na SPFW em 2021
Imagem: Shutterstock

No ano passado, você fez história ao desfilar na São Paulo Fashion Week. Houve mais convites como aquele?

Não. Mas aquilo foi um divisor de águas. Conheci muita gente legal e tive a foto mais curtida entre todas as tiradas na Fashion Week. Só acho que tem que parar de ser um evento uma pessoa gorda desfilar e passar a ser normal. Mas parece que as marcas têm medo de me chamar porque não vestem o meu tamanho.