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Aos 15 anos, ela ganhou 8 bolsas de balé na Europa: 'Brasil não valoriza'

A bailarina Luciana Sagioro - Gregory Bartadon/Divulgação
A bailarina Luciana Sagioro Imagem: Gregory Bartadon/Divulgação

Luciana Sagioro em depoimento a Ed Rodrigues

Colaboração para Universa, em Recife

01/03/2022 04h00

"Fiz minha primeira aula de balé com três anos, em Juiz de Fora (MG), minha cidade natal, e me apaixonei. Aos oito, tive a certeza de que queria isso como profissão para minha vida. Ninguém na minha família tem conexão ou histórico com a dança, mas independentemente disso sempre apoiaram meus sonhos. Minha família sempre foi o meu porto seguro e meus maiores incentivadores e apoiadores.

Me mudei para o Rio de Janeiro, onde moro atualmente, ainda criança, para estudar na Escola de Dança Petite Danse. No começo, ia e voltava de Juiz de Fora para o Rio nos dias de aula de balé, mas depois meus professores e a direção da escola conversaram com minha família sobre a importância da frequência das aulas e da necessidade de treinar todos os dias. Foi assim que tomamos a decisão.

Ao longo da minha jornada, participei de várias competições. Cada uma teve algo que me marcou ou algo que me fez evoluir. As internacionais foram muito agregadoras, aprendi com mestres renomados e famosos. A última na qual me apresentei, a 50ª edição da Prix de Lausanne, na Suíça, uma das mais concorridas competições de dança do mundo, foi a mais marcante. Por meio dela, consegui meu contrato para a Escola da Ópera de Paris. Além disso, conquistei o terceiro lugar mundial e fui eleita a melhor bailarina pelo público da internet.

A bailarina Luciana Sagioro - Rodrigo Buas/Divulgação - Rodrigo Buas/Divulgação
Luciana recebeu diversos convites e escolheu por estudar balé na Escola da Ópera de Paris
Imagem: Rodrigo Buas/Divulgação

Infelizmente aqui no Brasil ainda não somos tão valorizados como no exterior. Na Suíça, a competição é uma vitrine para o mundo, onde os maiores diretores das maiores companhias estão como jurados, avaliando e fazendo ofertas de trabalho.

Para me sair bem por lá, precisei de uma preparação muita intensa. Foram muitos ensaios, aulas e, além da preparação física fora das aulas de balé, também tive toda a minha preparação emocional com uma coach de meditação, para melhorar minha performance para essa grande competição. Em relação aos estudos, consigo conciliar muito bem com a dança. Estudar é um prazer para mim.

Na Suíça, competiram 72 bailarinos do mundo todo, cada um representando o seu país. Chegando lá, passamos por uma peneira. Depois de dançarmos no palco e depois de muitas aulas, são selecionados apenas 20, e eu consegui passar para essa segunda fase.

Depois, dançamos no palco de novo, com uma variação de repertório clássica e outra contemporânea. Em seguida veio a premiação, onde foram premiados sete bailarinos. Eu fiquei em terceiro lugar do mundo e primeiro do Brasil.

Essa vitória representa muito para mim. Ser reconhecida internacionalmente é muito gratificante e surpreendente porque, como dito, esse festival é o maior do mundo e por meio dele recebemos grandes ofertas de trabalho.

Ganhei oito bolsas de estudos. Todas elas em lugares diferentes, por toda a Europa. Vou me mudar em agosto para Paris, onde ingressarei na Escola da Ópera de Paris. Depois de muitos anos, serei a única bailarina brasileira nessa escola.

Vou evoluir muito, aprenderei com excelentes professores. A escola da Ópera de Paris muito conceituada e me abrirá portas para excelentes companhias no futuro.

Minha vitória deixa uma mensagem: não desistam dos seus sonhos. Muitas vezes, vai parecer impossível e surgirão obstáculos. Mas somos maior que tudo isso. Se você não lutar pelo seu sonho, quem lutará por você?"