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Pará: Professora viraliza ao chorar com alunos aprovados no vestibular

Ed Rodrigues

Colaboração para Universa

11/02/2022 04h00

A professora que viralizou na internet nesta semana ao comemorar com pulos, gritos e choro a aprovação de seus alunos na universidade tem um passado de dificuldades que foi superado com educação. Florência Pinto, conhecida com Flor, leciona língua portuguesa no ensino público estadual do Pará e no privado, e conhece bem os que os estudantes precisam superar para seguir na escola.

A Universa, a educadora contou que teve seis alunos seus aprovados na Unifesspa (Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará) e que, ciente de todo o esforço para que isso pudesse acontecer, não segurou a emoção.

Os alunos são da cidade de Canaã dos Carajás, interior do Pará, onde a professora também reside. No histórico desses alunos está a semelhança com o passado da professora Flor, o que estreitou uma relação de cuidado e incentivo.

"Vim de escola pública e sei o que eles passaram"

Florência tem 37 anos, nasceu no interior do Maranhão, mas morou em Belém na maior parte da vida. Ela conta que se formou professora em 2003 na universidade pública e após ter estudado toda o tempo em escola pública. Atualmente, é casada e tem um casal de filhos.

"Minha infância foi difícil e cheia de violações de direitos humanos básicos. Não tive minha mãe para me ensinar as coisas da escola porque ela é analfabeta. Mas ela me acompanhava nas atividades para me incentivar. Então, ver essa vitória dos alunos, depois de tanto esforço, é gratificante demais", disse.

A professora conta que boa parte dos seus alunos do ensino médio trabalha e tem uma rotina deles bem cansativa. E, como estudar requer tempo e muitas vezes eles não têm, essa impossibilidade acaba travando a continuidade do processo.

"Às vezes tem a falta de incentivo em casa ou na própria escola, quando você não consegue relacionar o conteúdo com seu dia a dia. A diferença entre a escola pública e a privada é gritante. Na escola pública, o aluno corre o risco frequente de faltar professor. Não temos toda estrutura física e administrativa das privadas. São realidades muito distintas, número de aulas, projeto e ações que contribuem para a evolução do aluno", ressaltou.

Ela explicou que toda a vibração viralizada junto com o vídeo é resultado dessa relação próxima com os estudantes. Segundo Flor, eles dividem conhecimento e experiência, em uma troca mútua de aprendizado.

"Não foi uma tarefa fácil levar os alunos para as aulas numa pandemia, respeitando os protocolos. Tivemos aulas nos sábados e eles foram. Esse nosso esforço só foi possível porque os alunos foram. E o reconhecimento deles é para todos os professores que se dedicaram. A gente acredita numa vida pautada na educação"

"Educação é tudo. Não existe país promissor sem educação. Não existe país com bons resultados em ciência e tecnologia sem educação. É a principal engrenagem para o país dar certo. Temos que formar cidadão crítico, pessoa que tenha capacidade de pensar e tomar decisões, e que tenha consciência das consequências das decisões", destacou.

Os alunos dela passaram engenharia da computação, jornalismo, engenharia florestal e matemática. Kesia Silva Taveira, 18 anos, está entre os feras. A jovem foi aprovada em engenharia da computação, e diz que teve muito da ajuda da professora nessa conquista.

"Ela sempre incentivou a todos nós a sempre correr atrás dos nossos objetivos e sonhos. Durante esses três últimos anos, veio dando o maior apoio, nos mostrando que somos capazes de alcançar qualquer coisa, que era apenas para darmos o nosso melhor e se esforçar. Ela sempre foi muito dedicada no trabalho, e isso serviu para que não apenas eu tivesse mais persistência para lutar pelos meus sonhos, como também os meus amigos e colegas", ressaltou a jovem.

Para a professora Florência, é preciso olhar para o país com mais esperança, mas lutando por igualdade de direitos e defendendo a qualidade da educação.

"Com formação de professores, estrutura nas escolas, salas de escutas especializadas. É preciso trabalhar dentro do viés do assistente social e comprar a briga dele e do psicólogo dentro da escola. Precisamos dar condições para as pessoas estudarem e se transformarem, e assim transformar o país", concluiu.