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Como Jessi, do 'BBB', elas não usam sutiã nem salto alto: 'Libertador'

Rebeca diz que recebe olhares de julgamento ao sair na rua sem sutiã; e, quando quer usar a peça, escolhe os modelos sem aro ou bojo - Arquivo pessoal
Rebeca diz que recebe olhares de julgamento ao sair na rua sem sutiã; e, quando quer usar a peça, escolhe os modelos sem aro ou bojo Imagem: Arquivo pessoal

Nathália Geraldo

De Universa

04/02/2022 04h00

Se Jade Picon chamou atenção no "BBB 22" por ter levado um kit de "calcinhas descartáveis" para o reality, a pipoca Jessi Alves virou notícia pela ausência de duas peças na sua mala: sutiãs e sapatos de salto alto. Em uma conversa com Linn, do Camarote, a professora de biologia disse que a escolha foi vista com curiosidade pela produção do programa. O diálogo entre as duas foi parar no Twitter:

O perfil da sister na rede social já havia publicado um tuíte sobre as preferências dela na hora de se vestir: Jessi tem apenas um sutiã, que usa quando vai à sala de aula, e não sobe no salto no dia a dia.

Seja por questões de conforto, autonomia com o corpo ou por condição financeira, mais mulheres também optam por deixar os seios livres e preferem usar sandalinhas e tênis no cotidiano.

A seguir, mulheres falam sobre como abandonar os acessórios alterou suas vidas e como o machismo e o medo de ser assediada podem estar por trás da decisão de tirar ou não esses itens, que são ligados à "feminilidade", do guarda-roupa.

"Assédio por não usar sutiã me preocupa, mas cabe aos homens respeitarem nossa liberdade"

rebeca - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
A jornalista Rebeca de Freitas afirma que não se prende a padrões de beleza e tem focado na praticidade para se vestir
Imagem: Arquivo pessoal

"Uso cada vez menos sutiãs e salto alto porque tinha esse desejo pessoal de praticidade. Sou de São Paulo. Cada vez que cruzava com alguma mulher no metrô que não estava nem aí se o bico do seio marcava na roupa, porque estava sem a peça, isso me influenciava a querer esse tipo de liberdade também.

Claro que o assédio me preocupa, pois nossos corpos são sexualizados e objetificados o tempo inteiro. Mas, aí, cabe aos homens respeitarem a liberdade feminina. Por que eles podem circular até sem camisa e nós temos que esconder nosso corpo toda hora?

Já recebi muitos julgamentos, inclusive de outras mulheres, que me olharam feio por eu estar sem sutiã. Talvez não sejam nem mal-intencionados. Por exemplo, minha mãe se preocupa com a possibilidade de eu ser assediada. Mas é um fato inegável que os julgamentos existem.

Quanto a colocar um salto, tenho referências de pessoas que usam looks práticos. Acho que, no futuro, esse sapato vai aparecer poucas vezes. As mulheres desempenham cada vez mais papéis corporativos, circulam para cima e para baixo, dão conta de mil funções. Não vale a pena se prender a um antigo padrão de beleza e esquecer nosso conforto e praticidade."

Rebeca Oliveira Rodrigues de Freitas, jornalista, 21 anos

"Já achei impossível sair sem sutiã. Hoje, abro mão pelo conforto"

nayara - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Nayara escolhe conforto e explica que sutiã e sapatos com salto alto não são suas primeiras escolhas no look
Imagem: Arquivo pessoal

"Há um tempo, era impossível para mim sair sem sutiã, mas, agora, não fico incomodada. A questão sempre foi o conforto. O ferrinho do sutiã me machucava, feria a minha pele, me marcava e apertava. Não era nada legal. E sempre que usava salto, meus pés doíam muito.

Ganhei meu primeiro sutiã da minha mãe, mas ela não me obrigava a usar. Fui eu que, com o tempo, ouvia comentários das pessoas sobre meus seios, então passei a usar tops de academia. Sei que algumas pessoas se incomodam quando mulheres saem sem sutiã e o mamilo fica mais marcado. Mas, para mim, sutiã e salto alto são dispensáveis".

Nayara Cezario, 23 anos, professora

"Só uso as peças em situação de trabalho, pois são espaços conservadores"

maiara - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Maiara opta por salto alto e sutiã quando está em um ambiente profissional "conservador"
Imagem: Arquivo pessoal

"Faz quase dez anos que não uso sutiã com frequência. Só coloco em situações de trabalho porque estou em espaços muito conservadores e há uma estética que precisa ser mantida ali, inclusive por uma questão de relações de poder.

Também tenho esses critérios para usar o salto. E isso diz como nós, mulheres, temos que trazer uma feminilidade para acessar esses lugares majoritariamente ocupados por homens.

Comecei a usar salto muito cedo, com 12 anos, para ir à escola. Parecia que queria mostrar essa feminilidade logo. Hoje vejo que isso me foi imposto, para que meu corpo, de uma pessoa negra, fosse visto não só sobre um aspecto da capacidade 'braçal', mas também sensual. Era problemático porque eu era uma adolescente.

Hoje, quando uso, acabo ficando em destaque nos locais. Parece que isso deixa as pessoas acuadas, pois sou alta, falo alto. Mas não vejo olhares julgadores".

Maiara Oliveira, lobista [profissional de relações governamentais e institucionais], 29 anos

"Por que os seios são tão erotizados?"

noemi - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Noemi Almeida parou de usar sutiã porque, em determinado momento, já não se importava em estar com a peça
Imagem: Arquivo pessoal

"Minha relação com o salto e o sutiã é complicada. Na infância, era zoada por não exalar tanta feminilidade quanto minhas colegas. Mas a primeira questão para eu parar de usar sutiã foi a falta de dinheiro para comprar os de bojo e bem estruturados, que são caríssimos para uma pessoa que ganha um salário mínimo.

A maior parte dos que tenho são de pano. Como usá-los ou ficar sem não fazia diferença, optei por sair sem peça. Ser pobre me obrigou a deixar os seios livres [risos].

Na pandemia, comecei a fazer tarefas simples, como ir ao mercado ou à farmácia, sem sutiã. Sempre com muita vergonha. Fui tentando parar me de importar. Hoje, já consigo sair à noite com apenas blusa de alça.

O segundo critério foi o desejo de me sentir melhor com meu próprio corpo, já que não tenho condições de recorrer à cirurgia plástica para mudar o formato dos meus seios. Entendi que ter peito caído é normal, mesmo quando se é jovem. E não entendo por que os seios são tão erotizados.

Quanto ao sapato, por mais que treinasse não conseguia andar direito com salto alto. Depois, descobri que tenho alguns problemas na pisada e de coluna. Me frustrei, pois percebi que nunca iria conseguir usar aqueles saltões como o das modelos e pessoas elegantes. Mas, há alguns anos, comecei a seguir influenciadores que usavam tênis também em situações formais. Foi aí que comecei a me sentir mais inspirada e bonita com o que calço".

Noemi Almeida, 25 anos, jornalista

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