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Um olhar diferente sobre o que bomba nas redes sociais


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BBB: Pãozinho de Arthur é vilão? Nas redes, nutricionistas combatem teoria

BBB 22: Arthur Aguiar, o amante do pãozinho que nos representa - Reprodução/Globoplay
BBB 22: Arthur Aguiar, o amante do pãozinho que nos representa Imagem: Reprodução/Globoplay

Nathália Geraldo

De Universa

31/01/2022 04h00

A cada pãozinho que o ator Arthur Aguiar ingere dentro do BBB 22, o Brasil se mobiliza. Casado com a empresária e também ex-BBB Maíra Cardi, o participante está sob a mira da parceira em relação à alimentação que mantém no reality. Toda vez que ele dá uma mordida em um sanduíche, ela faz um escarcéu nos Stories do Instagram. Virou meme, claro, dividiu os defensores de Arthur e os apoiadores de Maíra e gerou teorias de que ele se confinou apenas para poder consumir seus carboidratos em paz.

Por trás de toda a história, nutricionistas comportamentais e profissionais que lidam com alimentação equilibrada apontam uma tendência: a de que a cultura do emagrecimento e da culpa pode fazer com que outras pessoas, sobretudo mulheres, sintam pressão para cortar o pãozinho de cada dia sem ter recomendação médica para tal.

A seguir, três mulheres que atuam nas redes sociais defendendo uma alimentação sem "terrorismo nutricional" decretam: não, não há alimentos "bonzinhos", nem "malvados". E o pão está liberado, pessoal, mas com moderação.

"Comida não é só nutriente. É festa"

"Pão, arroz e macarrão podem fazer parte da alimentação de qualquer pessoa, com equilíbrio e consciência no consumo". A frase que soou como música aos ouvidos desta repórter é da nutricionista Vanessa Ibba, que em seus atendimentos faz uma abordagem baseada em comportamento alimentar.

A profissional tem 10 mil seguidores no Instagram @vanessaibba_nutri, no qual fala sobre acompanhamento nutricional sem demonizar nenhum alimento. A proposta de seu trabalho, diz, é ajudar os pacientes a identificarem questões que estão relacionadas à forma como eles lidam com a comida.

"Emagrecimento não é o foco. O que proponho é que a pessoa entenda o contexto em que está comendo e que a mudança no comportamento seja baseada na ideia de que a comida não é só nutriente. A comida nos traz lembranças, é motivo de festa e também serve como uma forma de acalanto".

Com posts sobre mitos em torno da alimentação — como o de que a cultura da dieta faz bem e de que um corpo magro sempre é um corpo saudável —, Vanessa diz que nada contra a maré de conteúdos nas redes sociais sobre perder peso, restrições alimentares e outras fórmulas "milagrosas" associadas à estética, geralmente, para fisgar o público feminino.

"Por fazer isso, recebo muitas críticas de nutricionistas que falam para eu 'rasgar meu diploma'. Leigos vêm criticar minha aparência, comentam que acreditam mais nas blogueiras que passam dicas para emagrecer. Mas sigo em frente porque todo dia quem fala de emagrecimento posta conteúdo no Instagram então eu também tenho que fazer".

"O pãozinho é um coitado"

Com 140 mil seguidores no Instagram @comidasaudavelpratodos, a jornalista, podcaster e mestre em Educação Juliana Gomes combate os modismos na alimentação mostrando que a comida envolve questões sociais, políticas, ambientais e culturais.

Juliana rebate a cultura da dieta e aponta o que considera erros do agronegócio e da publicidade que tenta vender produtos ultraprocessados como opções saudáveis no mercado. "Criticar os modismos alimentares é só uma das coisas que faço ali".

Para ela, o mais importante é passar a mensagem de que é preciso ter um olhar crítico em relação à alimentação para não cair em ciladas, como aconteceu com ela. "Fui uma adolescente que vivia o efeito sanfona no corpo e gastei muito dinheiro consumindo o que era moda", explica. "O que mostro é que essa lógica está a serviço do capitalismo. A própria Maíra Cardi faz um relato de que ficou em jejum por alguns dias e depois fez a propaganda de uma cápsula que a teria ajudado a passar por isso".

Juliana explica que o pãozinho não é "vilão", como prova o Guia Alimentar da População Brasileira divulgado pelo Ministério da Saúde em 2014.

"O pãozinho sofre por ser carboidrato, coitado dele. Ele é o que muita gente come no café da manhã", afirma a jornalista. O guia mostra que a base da alimentação deve ser alimentos in natura e minimamente processados, como arroz, feijão e farinhas. Também afirma que podemos comer com moderação os processados, como pães, bolos e geleias. O recomendado é evitar os ultraprocessados, mas sem demonizá-los.

"Vale dizer que, neste momento de crise financeira, nem sempre isso é possível: tem gente que não consegue comprar arroz e feijão e troca por miojo e salsicha. Por isso, a necessidade de políticas públicas para melhorar esta alimentação", acrescenta.

"Não é só um alimento que faz engordar"

Atuando há quase dez anos no atendimento de pacientes com transtornos alimentares, a nutricionista Priscila de Andrade vai às redes sociais para desmistificar os medos de quem foi criado sob a ideia de que engordar sempre é algo negativo e que dietas restritivas são uma boa saída para manter o corpo saudável.

"Já atendi pacientes que fizeram a consultoria da Maíra [ela oferece programas de emagrecimento intitulado Seca Você] e sei que a questão do pão, que ela fala tanto em relação ao Arthur, não tem fundamento. Não é preciso tirar da rotina alimentar de alguém que não tem indicação clínica para isso. Se ele tivesse algum desconforto ao comer o pãozinho, fosse intolerante a glúten, tudo bem, mas não é o caso", comenta.

Avessa às tendências dos chamados "alimentos emagrecedores" ("Já teve a da semente de chia, a do gojiberry"), Priscila, do @toquedenutricao, destaca que faz parte da indústria da dieta gerar o conceito de que há alimentos que merecem ser eliminados da lista e outros, exaltados. "Mas não existe nenhum alimento que vá fazer uma pessoa engordar ou emagrecer."

Para ela, o Instagram serve de plataforma para ensinar aos seguidores sobre como ter uma relação saudável com a comida, inclusive aquela que tem carboidrato. "Pão faz parte da nossa cultura alimentar. A não ser que a pessoa tenha alguma contraindicação, pode comer, sim, mas sem exagero".

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