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Ex de Linn da Quebrada: 'Ela é generosa, mas não tem obrigação de explicar'

Cais Niara e Linn da Quebrada se relacionaram por 3 anos Imagem: Reprodução / Instagram

Ana Bardella

De Universa

25/01/2022 16h46

Onde quer que Linn da Quebrada apareça no "BBB 22", leva uma lembrança da ex-namorada, Cais Niara, consigo. Por diversas vezes no programa, Linn usou ear cuffs — um tipo de brinco que envolve a orelha — em formato de cobra, produzidos artesanalmente por Cais. A jovem de 23 anos mora em São Paulo, é formada em moda e se define como uma artista multifacetada.

As duas se relacionaram por três anos e terminaram em 2021, mas desde então continuam mantendo uma relação de amizade. A Universa, Cais, que também é travesti, revela como tem sido acompanhar a trajetória da amiga no programa, opina sobre as cenas transfóbicas protagonizadas por outros participantes e a pressão sobre Linn para que explique sobre termos e comportamentos que seriam corretos. Ela ainda comenta sobre o sucesso que suas peças têm feito desde o ingresso da ex-namorada no reality.

UNIVERSA - Desde que entrou na casa, Linn já foi desrespeitada diversas vezes. Como isso te atinge?
Cais Niara
- Já imaginava que isso me afetaria, que as grosserias aconteceriam. Estamos falando de Brasil, então é de se esperar. Mas me surpreendi com a quantidade de cenas transfóbicas logo na primeira semana. Para a Linn, são partes. Para nós, que estamos vendo tudo, é diferente. Isso mexeu muito comigo, fiquei um dia mal, triste com tudo. Mas de alguma forma entendo que faz parte do processo.

Ela é muito corajosa de estar na TV, gerar incômodo e debates. É inevitável. Pelo menos, depois de o Tadeu Schmidt ter feito o que fez, pedindo que ela falasse sobre o pronome feminino, sobre o significado da tatuagem e sobre quem ela é, ficou cunhado para quem assiste o quanto é importante o respeito.

Estamos tratando de um corpo invisibilizado ao extremo: travesti, preto e periférico. Colocar a Linna no programa de maior audiência da TV gera questões, mas a recepção e os resultados gerais têm sido positivos.

Alguma fala específica te incomodou mais?

Cais se entristeceu nos primeiros dias, pela forma como os demais participantes trataram Linn Imagem: Reprodução / Instagram


Prefiro analisar as pessoas. O Rodrigo vai em busca de informações, na intenção de se colocar como alguém que quer aprender. Mas a gente sabe que não. Ele entendeu que é errado, sabe, mas repete. Isso é, na verdade, construir um personagem solícito.

Já a Eslovênia cometeu erros de pronome. Isso acontece muito na vida de qualquer travesti. Não importa o quanto você seja feminina e demonstre como quer ser tratada. Ela se permitiu errar e a gente não pode mais fazer isso. Não é obrigação nossa, mas a Linn é generosa e se coloca no programa — e na vida — como alguém aberta a fazer as pontuações necessárias.

Isso não quer dizer que ela deva ser tratada como uma professora, sempre didática. Mas é convivendo que a gente entende. Se alguém erra, é porque não está acostumado. Quantas travestis fazem parte do seu convívio, estão no restaurante, fazem parte da sua família? É algo a se pensar.

Depois que a Linn foi anunciada como participante do programa, saíram notícias na mídia sobre você. Se sentiu exposta?

Cais é formada em moda e se define como "multiartista" Imagem: Reprodução / Instagram

Nitidamente foram notícias feitas para gerar cliques. Nós nos apaixonamos, namoramos e moramos juntas durante boa parte da pandemia. Terminamos o ano passado e mantemos outra forma de relação, com muita parceria e companheirismo. Já me preparava para a exposição porque o "BBB" traz visibilidade não só para o participante, mas para o mundo a sua volta.

Só que expuseram fotos minhas antigas [antes de passar pela transição de gênero], meu nome antigo, que, ainda por cima, estava errado, e disseram que eu lançaria carreira de cantora, o que é mentira. Sou formada em moda, já trabalhei como estilista, lancei coleções. Me considero multiartista.

Você tem recebido muitas mensagens sobre os ears cuffs em formato de cobra que a Linn usa no programa?

Linn usando o ear cuff "Mamba Negra", produzido especialmente para sua participação no reality Imagem: Reprodução / TV Globo

Virou uma loucura. Não estava preparada para essa demanda tão alta. Na verdade, produzi algumas para a Linn e nem imaginei que ela iria entrar na casa usando essas peças, já que o primeiro dia é um dos de maior audiência e impacto. Quando vi, surtei, mas não imaginei que iria viralizar tanto. As pessoas querem comprar, mas sou uma artista independente.

Comecei a produzir no ano passado, mas vendo para uma cena, nada parecido com fast fashion. Tive que explicar que não tenho como dar conta da demanda. Mas tentei me adaptar na medida do possível. Criei um link para as pessoas acessarem e comprarem. Antes, fazia tudo sozinha. Agora já chamei uma pessoa para ajudar.

Por que retratar as cobras?

O que me atrai na serpente é a beleza, que é atrativa e intimidadora ao mesmo tempo. Acredito na beleza como um mecanismo de defesa. Para nós, travestis, isso faz muito sentido.

Então, comecei a desenhar algumas, depois fiz um molde de resina acrílica. Em seguida, pedi para uma amiga servir de modelo. Achei que ficou lindo e postei na internet. Algumas pessoas começaram a pedir e não quis desperdiçar a oportunidade. Então aprimorei o processo, usando metal, que é mais resistente, além da resina e de um verniz hipoalergênico.

Qual o traço de personalidade da Linn que pode levá-la até a final?
Acho ela completamente apaixonante. O Brasil tem se apaixonado pela personalidade dela, pela espontaneidade e pelo carisma. Além de ser uma pessoa inteligente, uma artista excepcional e que tem muito a entregar em termos de sabedoria, é uma pessoa gostosa de ter por perto, de conversar. Outro dia estava dando aulas de yoga no reality. Ela não é a militante.

A gente só quer viver bem, se divertir, aproveitar a situação ao máximo. Ela entrou para isso: viver e ganhar. A gente quer muito que isso aconteça, seria histórico, um momento excepcional: a vitória de uma travesti depois de 10 anos de ter uma pessoa trans na casa.

Ela tem todo potencial para conquistar o coração das pessoas.

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