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Priscilla Alcântara sobre volta à TV: 'Minha saúde mental é prioridade'

Priscilla Alcântara será apresentadora nos bastidores de "The Masked Singer" - Hugo Toni
Priscilla Alcântara será apresentadora nos bastidores de 'The Masked Singer' Imagem: Hugo Toni

Luiza Souto

De Universa

23/01/2022 04h00

Priscilla Alcântara tinha apenas 8 anos quando convidada por Silvio Santos a apresentar o programa infantil "Bom Dia & Cia", no SBT, ao lado do também apresentador Yudi Tamashiro. E apesar de ter ficado no canal por quase uma década, apresentando, cantando e atuando em vários outros produtos da casa, diz que somente agora, com a estreia como apresentadora nos bastidores do The Masked Singer Brasil sente-se mais confiante na carreira. Priscilla foi a grande campeã do reality musical no ano passado, e jura não saber a identidade de nenhum participante da nova temporada, no ar a partir deste domingo (23).

"Esse é um privilégio que ainda não ganhei. Nem a Ivete. Está todo mundo no mesmo barco. Até porque esse é justamente o meu papel: tentar descobrir alguma coisa antes da hora, mas é difícil conseguir", ela garante durante conversa com Universa por telefone.

Aos 25 anos, a artista de Itapecerica da Serra (SP) que sagrou-se também como cantora gospel diz estar realizada por hoje voltar a apresentar ao mesmo tempo em que trabalha um outro lado da sua carreira musical: ela lançou recentemente o primeiro álbum de músicas secular, "Você aprendeu a amar?", e programa para março apresentar novos singles aos seus mais de 6 milhões de seguidores do Instagram.

"Acho que encontrei um lugar que faz sentido para mim, para conhecer a minha identidade, meu propósito independentemente do que eu esteja fazendo", ela celebra.

Para encarar a nova fase na carreira, Priscilla revela que contou com rede de apoio de mulheres como a mãe, Paula Fonseca, a irmã Alyne Alcântara, além da terapeuta, com quem se consulta há anos. Cinco anos atrás, aos 20, a cantora detectou que tinha ansiedade e, no ano passado, em entrevista ao Pod Delas, disse que teve um surto.

"Abordei muito na terapia que gostaria de viver essa fase de uma maneira mais saudável do que quando 8 anos atrás, já que hoje tenho muito mais consciência do que esse meio traz, tanto de benefícios como de malefícios".

Confira os principais trechos dessa conversa.

UNIVERSA: Você se tornou apresentadora ainda criança, e está voltando agora à TV após um hiato de 8 anos. Sentiu muita diferença durante as gravações de TMS?
Sim. Muda tudo. Tive a experiência de viver no meio artístico desde muito nova, mas agora sou uma mulher, madura. Tenho retomado minha profissão depois de 8 anos de forma muito consciente, com a chance de juntar as duas profissões, que é a música e a TV.

Quais as maiores mudanças pelas quais você passou de oito anos para cá?
Fora a evolução profissional, conforme fui crescendo, fui aprimorando mais minhas habilidades. E um empoderamento pessoal mesmo. Hoje me sinto muito mais segura enquanto mulher dentro dessa mercado de trabalho. Então, eu tenho muito mais segurança de entrar no set e mostrar as minhas habilidades, ser excelente e lutar pelo meu espaço, pelo que realmente vim fazer, dando o meu melhor.

Apesar de estar voltando para o mesmo programa que te consagrou campeã, sentiu diferença na rotina de gravações?
Sim, porque estava como participante na primeira temporada e hoje estou como colega de trabalho, dividindo o palco principalmente com mulheres que sempre me inspiraram . A Ivete [Sangalo, apresentadora do reality] sempre foi uma grande referência para mim, e quando tirei a máscara na primeira temporada e a vi pela primeira vez foi um choque. Hoje converso com ela tomando café no camarim. E tem a Tatá Werneck, que é a maior humorista do nosso país, na minha opinião. Então são realidades diferentes e uma oportunidade que quero aproveitar ao máximo.

Você procurou ajuda profissional ou contou com uma rede de apoio para encarar esse novo desafio?
Sim. Ter uma rede de apoio é muito importante. Em casa, tenho mulheres incríveis, como a minha mãe e minha irmã, e amigas muito queridas. A própria Ivete sempre diz coisas maravilhosas. E quem me dirige é uma mulher, então é muito legal ter essa troca. Minha psicóloga também me ajuda muito. Falei com ela sobre essa volta à televisão, porque apesar de ser uma boa oportunidade, pode ter alguma questão mal resolvida. Falei muito na terapia que gostaria de viver essa fase de uma maneira mais saudável do que 8 anos atrás, já que hoje tenho mais consciência do que esse meio traz de benefícios e malefícios.

Sentiu que perdeu parte da infância e adolescência por ter começado cedo?
Não acho que perdi muito. Na verdade, carregava mais do que poderia porque era uma criança com responsabilidade de adulto. E por mais que todo mundo cuidasse bastante de mim, nada daquilo mudava a realidade de que eu tinha uma carga horária de trabalho e responsabilidades profissionais mesmo não tendo tanta consciência disso. Acho que esses adicionais, a longo prazo, foram pesando de alguma forma. Graças a Deus tive a oportunidade de diluir e entender todas essas experiências na terapia. Hoje tenho oportunidade de cuidar da minha saúde mental e ter isso como prioridade, já que trabalho desde pequena e quero sempre potencializar as minhas experiências e torná-las cada vez mais saudáveis.

Há quem fale que depressão, ansiedade e outros problemas mentais são falta de fé. E é um tema ainda considerado tabu. Você, que é religiosa, teve esse tipo de questionamento?
Não, era mais o fato de ignorar a necessidade de cuidar da saúde mental do que espiritualiza-la. Minha dificuldade era entender o que eu realmente precisava, principalmente por ter tido uma vida não tão comum, de ser uma criança crescendo num ambiente tão pesado, de ser uma pessoa conhecida. Então, realmente existem muitos desses tabus, mas quando eu identifiquei que precisava, não pensei duas vezes.

E tive que ter um pouco de paciência com as pessoas ao meu redor, na minha casa, no trabalho, até entenderem o que me levou a isso. Hoje minha família inteira faz terapia, porque todos criaram essa consciência do quanto é importante, de que somos uma totalidade, de corpo, alma e espírito. Precisamos cuidar da nossa mente.

Sempre desconsiderei esses tabus para atender a minha real necessidade.

Priscilla Alcântara

Assuntos como saúde mental, feminismo e até sexualidade eram abertamente debatidos na sua casa?
Não, mas procurei aprender bastante. Minha irmã estuda e trabalha com causas sociais principalmente voltadas à mulher, então é uma pessoa com quem converso muito sobre isso, que me aponta caminhos. Também me atento a essas questões, então mesmo não sendo coisas muito debatidas no meu passado, fui crescendo e me interessando sobre os assuntos, entendendo a minha responsabilidade social enquanto artista.

No seu Twitter, você escreveu que tudo mudou quando começou a enxergar na Bíblia um Jesus que lutava pela dignidade do indivíduo, pela igualdade, contra o preconceito. Quais mudanças são essas e que ensinamento Dele podemos seguir no sentido de promover a igualdade de gênero, independentemente da religião?
Acho que Jesus é claro quando fala sobre amar ao próximo, e que amar é servir, então acho que o ponto é sempre enxergar quais são as necessidades e lutar para que cada pessoa tenha dignidade para ter as suas oportunidades e o direito de existir de uma forma saudável.

Quando você lançou seu primeiro álbum pop, no ano passado, disse que queria encontrar um lugar que fizesse sentido. Encontrou?
Acho que encontrei, sim, um lugar que faz sentido para mim, para conhecer a minha identidade, meu propósito, independentemente do que esteja fazendo. Isso é o que realmente importa, estar bem comigo mesma, tendo consciência do nasci para fazer.

Você ainda ouve críticas por ter trocado música religiosa pela secular?
Devem falar, só não percebo porque não tenho tempo. Não presto atenção nas discussões as quais não considero relevantes. Sempre deixei claro para as pessoas o que penso. Estou muito focada e realizada por estar viva, com saúde. A vida sempre surpreende, então procuro dar o meu melhor, focada no agora.