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'Tenho 45 anos e sou virgem. Sinto desejo, mas me vejo refém de rótulos'

A professora universitária mandou seu relato para o podcast "Sexoterapia", de Universa; aqui, ela conta sua história completa - Yulia Sutyagina/Getty Images/iStockphoto
A professora universitária mandou seu relato para o podcast "Sexoterapia", de Universa; aqui, ela conta sua história completa Imagem: Yulia Sutyagina/Getty Images/iStockphoto

Janaína*, em depoimento a Nathália Geraldo

De Universa

12/01/2022 04h00

"Sou uma engenheira, tenho 45 anos e ainda sou virgem. Nos últimos meses, conversei com um amigo sobre isso porque não conheço ninguém que esteja na mesma situação que a minha.

Todos do meu círculo de amizade são casados, têm filhos, estão namorando ou até são divorciados.

Sempre me senti muito à vontade com minha sexualidade, mas nunca passei das carícias, nunca fiz ou recebi sexo oral, apesar de ter muita vontade de fazer isso.

O que sinto é que, no início, o que não me deixava cruzar a linha era o medo de engravidar.

Sou a mais nova de um grupo de quatro amigas e, desde a adolescência, compartilhávamos nossos 'segredos' sobre sexo, drogas. Elas tiveram namorados primeiro que eu, naturalmente. As três engravidaram e fizeram aborto.

Então, tinha receio de engravidar, ser 'mãe solteira', assumir uma responsabilidade para a qual eu não estava pronta e não estou. Sentia isso mesmo com conhecimento sobre todos os métodos anticoncepcionais, tabela, preservativo, anticoncepcional em comprimido e injeção.

'Minha educação sexual foi com minhas amigas'

Meus pais nunca conversaram a respeito do tema comigo, e quando fizeram era o discurso de 'sexo só depois do casamento', um papo bem retrógrado. Na escola, na minha época, poucas tinham uma política educacional voltada à educação sexual. Então, basicamente minha educação sexual veio de conversas com minhas amigas, matérias que líamos em revistas e um pouco com médicos.

'Meu objetivo foi outro: estudar e ter vida estável'

No final da minha juventude, descobri que tenho epilepsia, uma doença neurológica crônica.

De alguma forma isso deve ter afetado minha autoestima. A vida muda completamente, é tudo novo e às vezes difícil de aceitar. Só com o tempo, você amadurece, conhece um pouco a doença e tenta ter uma vida normal.

Junto com a responsabilidade de entrar na faculdade, isso me isolou um pouco socialmente. Meu foco passou a ser outro: estudar e me profissionalizar para ter uma vida 'estável' no futuro próximo. Cursei duas faculdades, me formei em engenharia, fiz mestrado e doutorado.

Outro ponto sobre o qual fico pensando é a questão do 'primeiro cara'. Para mim, tem que ser um namorado com quem eu já esteja por muitos anos, o cara não pode ser um 'boy lixo', essas coisas.

Como tive mais ficantes do que namorados, e namoros sempre curtos, não senti confiança. Ninguém se encaixava nesse perfil, que sei que a sociedade cria e dos quais acabamos sendo reféns.

Me considero uma pessoa de mente aberta, todos percebem isso em mim, mas de alguma maneira me fiz refém desses paradigmas, desses rótulos.

Assuntos sexuais me interessam muito, conheço meu corpo porque me masturbo com frequência. Nunca achei que homens usam mulheres no sexo. Entendo que o 'uso' é mútuo, se vai ser bom para ele, vai ser bom para mim também. E sei que meu desejo sexual sempre existiu e está cada vez mais forte. Sei que gosto de sexo."

A história de Janaína* foi uma das abordadas no mais recente episódio do Sexoterapia, o podcast sobre sexualidade de Universa apresentado pela editora Barbara dos Anjos Lima e pela sexóloga Ana Canosa. Ouça o depoimento completo:

*O nome da engenheira foi trocado a pedido dela e a área de atuação, omitida, para manter a sua privacidade