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Criada por mulheres, plataforma inova e ajuda empresas a lidar com assédio

Criadoras do SafeSpace: da esquerda para a direita: Giovanna, Claudia, Rafaela e Natalie - Divulgação
Criadoras do SafeSpace: da esquerda para a direita: Giovanna, Claudia, Rafaela e Natalie Imagem: Divulgação

Caroline Marino

Colaboração para Universa

05/01/2022 04h00

O Brasil registra sete casos de assédio sexual no trabalho por dia, segundo dados do TST (Tribunal Superior do Trabalho). Em 90% das situações, a vítima é uma mulher. Os constrangimentos envolvem, principalmente, comentários de cunho sexual, piadas, insinuações, convites para sair, toques inapropriados, tentativas de beijo e de estupro, sempre sob uma ameaça, velada ou direta, de perder o emprego.

Esses dados martelaram por anos na mente da paulistana Rafaela Frankenthal, 27. Depois de fazer um mestrado em Estudos de Gênero na University College London e de atuar na ONG Lensational, que ajuda a gerar renda para mulheres em situação de vulnerabilidade, Rafaela voltou para o Brasil com a ideia de construir algo para acabar com o assédio nas empresas. Foi então que surgiu, em 2020, a SafeSpace, plataforma para comunicar, resolver e prevenir problemas de más-condutas no trabalho.

O foco é ajudar as empresas a identificar problemas logo no começo, tendo uma postura mais ativa e menos reativa. Com a ajuda da plataforma, as questões podem ser resolvidas até três vezes mais rápido. "Nosso propósito é ajudar empresas a terem um ambiente de trabalho mais seguro e inclusivo", afirma Rafaela, que tem como sócias as paulistanas Natalie Zarzur e Giovanna Sasso, 28, e a natalense Claudia Farias, 37.

Com propósito claro, negócio chamou a atenção de investidores

"No início, criamos um logo, compramos o domínio e começamos a construir um protótipo do site, que é bem diferente do que é hoje. Em paralelo, começamos a buscar e atrair o interesse de investidores", conta Rafaela. Em outubro do ano passado, a startup recebeu R$ 2,4 milhões do fundo Maya Capital e de 11 investidores-anjo, como Ariel Lambrecht, fundador da 99, e executivos da Creditas e Gupy. E em novembro deste ano, recebeu um novo aporte de R$ 11 milhões.

Os investimentos fizeram com que a empresa crescesse rápido. Hoje, mais de 50 companhias usam a plataforma, como PetLove, Creditas, Rock Content e OLX. Juntas, essas empresas somam 20 mil funcionários. Apesar de não abrir dados de faturamento, nos últimos 12 meses a startup multiplicou sua receita por 35.

Para o próximo ano, o plano é criar novas funcionalidades e expandir ainda mais a plataforma. "Temos uma visão muito ambiciosa para o futuro. Não é segredo que as empresas no mundo todo estão sendo pressionadas a se tornarem mais éticas. Queremos estar à frente dessa transformação. Esse é só o começo e vamos conquistar negócios ainda maiores e relevantes", ressalta Rafaela.

"Empresas estão dispostas a frear casos de assédio"

Estudando sobre assédio sexual, Rafaela conta ter percebido que o problema, assim como corrupção e fraude, são pautas cada vez mais relevantes para as empresas. "As companhias estão dispostas a se responsabilizar e adotar ferramentas para identificar casos deste tipo internamente", conta. O que faltava, portanto, era auxiliar e fornecer essas ferramentas.

É aí que SafeSpace entrou, atuando como um canal de escuta em tempo real e que permite que a pessoa assediada descreva o fato por meio de respostas a perguntas geradas pelo sistema, de forma anônima ou não.

Para estimular ainda mais funcionários a denunciarem, já que as empreendedoras sabem o quão difícil pode ser esse processo, a empresa conta com uma ferramenta que possibilita saber se houve alguma queixa semelhante sobre o denunciado. "A plataforma foi projetada pensando na experiência de quem está fazendo o relato, diminuindo barreiras e encorajando a denúncia", explica Rafaela.

De um lado, há um app no qual o colaborador pode falar sobre o que sofreu — além dos casos de assédio, podem ser denunciadas situações de discriminação, bullying, fraude, corrupção ou conflito de interesse. Do outro, as áreas de compliance e recursos humanos têm acesso a um painel de gerenciamento e análise, além de relatórios, para atuar de forma mais assertiva.

Na jornada como empreendedora, segundo Rafaela, o processo mais difícil foi captar investimento — o que piora por serem mulheres à frente do projeto. "Passamos por várias situações de machismo. Ouvimos que mulheres não deveriam estar nessa posição, por exemplo", diz. Mas, ela reforça que, felizmente, isso está mudando rápido. "Vejo cada vez mais mulheres assumindo posições de liderança", diz.

"E eu nunca tive vergonha de ir atrás do que eu queria, sempre soube que poderia conquistar aquele espaço. Empreender é difícil, mas tem muita gente disposta a ajudar."