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Covereadora Carolina Iara denuncia transfobia na Câmara: 'Ataque explícito'

A covereadora Carolina Iara, da Bancada Feminista (PSOL-SP) - Reprodução/Instagram
A covereadora Carolina Iara, da Bancada Feminista (PSOL-SP) Imagem: Reprodução/Instagram

Mariana Gonzalez

De Universa, em São Paulo

14/12/2021 18h09

A covereadora Carolina Iara (PSOL-SP) denunciou ontem, no Twitter, ter sido vítima de transfobia. Segundo Carolina, a vereadora Sonaira Fernandes (Republicanos) referiu-se a pessoas trans como "homens de 40 anos", ao defender um Projeto de Lei que proíbe o uso de banheiros públicos por pessoas transexuais.

Em entrevista concedida hoje a Universa, Carolina, eleita para exercer o mandato de forma coletiva com outras quatro parlamentares da Bancada Feminista, disse que esse não foi o primeiro ataque transfóbico que sofreu desde que assumiu o posto, mas que foi o mais explícito até agora.

"Sofri muita transfobia durante a campanha, pela internet e vinda de apoiadores de outros parlamentares, principalmente da extrema-direita e do MBL [Movimento Brasil Livre], mas nunca dentro do espaço da Câmara e nem de forma tão escancarada como fez a vereadora Sonaira Fernandes."

Carolina continua: "Esse tipo de ataque não é uma surpresa, mas me causa indignação que uma parlamentar eleita para uma casa de leis descumpra a lei, porque transfobia é crime desde 2019".

Banheiro como ferramenta de segregação

O ataque contra Carolina Iara teria acontecido durante uma discussão sobre um Projeto de Lei que tenta proibir o uso de banheiros públicos por pessoas transexuais. Na ocasião, denuncia a covereadora, Sonaira Fernandes afirmou que mulheres trans seriam "homens de 40 anos usando o mesmo banheiro que a filhinha do pai de família".

Para Carolina, a questão do banheiro é histórica: "Essa sempre foi uma forma de segregação, desde o Apartheid, na África do Sul, quando negros eram proibidos de usar determinados banheiros. Hoje, ao afirmar que pessoas trans não podem usar o banheiro, estão dizendo que não somos humanas, que devemos sumir de vista".

Para se ter uma ideia de como o banheiro pode ser discriminatório para algumas pessoas, aqui no Brasil, o primeiro caso de condenação por transfobia aconteceu justamente depois de uma mulher transexual ter sido expulsa do banheiro de um shopping em Maceió.

Depois da decisão da 14ª Vara Criminal de Maceió, em junho, a atriz Gabriela Loran contou, em entrevista a Universa, que também passou pela mesma situação no início de sua transição. E em 2019, em entrevista ao "Programa do Bial", a cantora Linn da Quebrada contou que segurava o xixi para evitar sofrer constrangimentos ao ir ao banheiro.

A covereadora Carolina Iara, da Bancada Feminista (PSOL-SP), na Câmara dos Vereadores de São Paulo - Divulgação - Divulgação
A covereadora Carolina Iara, da Bancada Feminista (PSOL-SP), na Câmara dos Vereadores de São Paulo
Imagem: Divulgação

Transfobia contra parlamentares

Nos últimos dois anos, quando um número recorde de mulheres trans foram eleitas para casas legislativas pelo Brasil, Universa tem noticiado denúncias de transfobia contra essas parlamentares, que sofrem com ataques que vão desde comentários preconceituosos até ameaças de morte.

Foi o caso da deputada estadual Erica Malunguinho (PSOL-SP), que em 2019 ouviu do colega Douglas Garcia que expulsaria uma travesti a tapas do banheiro feminino; da vereadora Érika Hilton (PSOL-SP), que vive há mais de um ano sob escolta da Polícia Legislativa por conta de uma série de ataques e invasões em seu gabinete; e da vereadora Benny Brioli (PSOL-RJ), que teve de deixar o país após ameaças de morte.

"Todos os casos de transfobia contra as parlamentares têm em comum um ódio muito grande pelo fato de estarmos ocupando um espaço de poder, como se aquele fosse um espaço onde não deveríamos estar", critica a covereadora.

"Logo no começo do mandato da Bancada Feminista, recebi uma mensagem dizendo que meu lugar não era na Câmara, mas numa cama quente. Isso mostra exatamente o que pensam de mulheres negras e trans, como eu, Benny, Érika Hilton e Malunguinho: que nós deveríamos estar escondidas nas esquinas, nas noites, sem reclamar."

Outro lado

Universa entrou em contato com o gabinete da vereadora Sonaira Fernandes, que não se manifestou até a publicação desta reportagem.

No Twitter, horas depois de a vereadora Carolina Iara ter denunciado o episódio, Sonaira escreveu que "é uma alegria tremenda deixar essa galera espumando de raiva", referindo-se às bancadas do PSOL e do PT na Câmara dos Vereadores.