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Diagnóstico precoce me salvou, diz modelo Fernanda Motta sobre câncer

Simone Costa

Colaboração para Universa

26/11/2021 04h00

Em julho de 2019, a modelo e apresentadora fluminense Fernanda Motta percebeu um caroço no seio e decidiu procurar rapidamente um médico. O diagnóstico de câncer de mama veio logo e em uma semana ela já estava em tratamento. Ela precisou fazer 14 sessões de quimioterapia, além de mastectomia, seguida da reconstrução das mamas. "É um diagnóstico que ninguém gostaria de receber. Mas, quando ele veio, de uma certa forma, digo que foi uma bênção porque eu tive um diagnóstico precoce", diz.

Hoje, aos 40 anos, Fernanda está sempre disposta a conversar com as pessoas que estão passando pela mesma situação, principalmente, segundo ela, para ajudar na desmistificação do câncer. "Quando você usa essa palavra já vem aquela sensação de que você vai morrer. E não é exatamente assim", afirma. Com esse desejo de abordar o tema, Fernanda foi convidada para ser uma das madrinhas do Prêmio Inspiradoras 2021, na causa dedicada ao câncer de mama. A premiação é uma iniciativa de Universa e do Instituto Avon, que tem a missão de descobrir, reconhecer e dar maior visibilidade a mulheres que se destacam na luta para transformar a vida das brasileiras. Além do câncer de mama, tem foco em outras duas causas: violência contra a mulher e equidade de gênero. Conheça as vencedoras aqui.

Na entrevista a seguir, Fernanda conta a Universa sobre sua experiência com o câncer de mama, a carreira e a maternidade.

UNIVERSA - Como foi receber o diagnóstico de câncer de mama, em 2019?
FERNANDA MOTTA - Eu sempre digo que é um diagnóstico que ninguém gostaria de receber. Mas, quando ele veio, de uma certa forma, digo que foi uma bênção porque eu tive um diagnóstico precoce. Eu sou uma pessoa muito prática e positiva. Ao ouvir meu médico dizer: "Você descobriu precocemente e tem 95% de cura", eu fiquei feliz de ter essa possibilidade grande de ser curada. E com minha praticidade, sabia que tinha de fazer o que os médicos orientassem. O que aconteceu comigo é um exemplo perfeito dessa tecla em que a gente bate todos os dias sobre a importância do autocuidado e de ter um diagnóstico precoce. Eu sempre estive com os exames médicos em dia e me conheço bem. Isso me ajudou bastante.

Como foi passar pelo tratamento durante 11 meses?
Eu tive vários momentos, alguns mais fáceis, outros mais difíceis. Gosto de pensar no nosso corpo como um santuário e quando você é uma pessoa saudável, já é meio caminho andado. Hoje existem maneiras de passar pelo tratamento de forma menos ruim, menos difícil. Há medicamentos que ajudam a controlar o enjoo da quimioterapia, por exemplo. Por isso venho falando que é necessário desmistificar o câncer, a palavra, principalmente. Quando você usa essa palavra já vem aquela sensação de que você vai morrer. E não é exatamente assim. A medicina evoluiu muito e com o diagnóstico precoce, há a chance de ter um tratamento melhor.

Você tem falado desse desejo de mostrar que o diagnóstico de câncer não significa uma sentença de morte e tem participado de ações sobre prevenção e tratamento precoce. Como tem sido essa experiência?
Eu tenho falado para as mulheres, mas não só. Também para os maridos, os colegas de trabalho, os amigos, todos que fazem parte da vida das mulheres que recebem esse diagnóstico. E, claro, para homens que também estão enfrentando a doença. É muito importante o apoio das pessoas que estão com a gente no dia a dia.

Eu não tenho problema nenhum em falar sobre isso, é um assunto absolutamente normal para mim. Muitas pessoas me abordam na rua ou enviam mensagens nas redes sociais. Também recebo vários pedidos para falar com pessoas que estão nessa situação. E eu faço questão de falar porque há informações que podem ser passadas e que vão aliviar aquele momento. Você ter a força de alguém que já viveu o mesmo é muito importante, faz diferença.

Então, eu tenho vivido isso naturalmente e quando eu posso me entregar, eu me entrego. Quando posso participar de uma live, eu participo. Eu acho que o que acontece com a gente não é por acaso porque há uma força maior que faz com que a gente viva algumas situações e você precisa tirar algo disso. E se você puder ajudar outras pessoas, melhor ainda.

Eu, que trabalhei a vida inteira com imagem, beleza, ter um diagnóstico tão jovem, perder cabelo e lidar com essa doença tão temida, se sou vista como uma inspiração para outras mulheres, só tenho a ganhar com isso. Faço questão de ajudar quem precisa. Sempre que eu puder contar para as pessoas sobre o que eu vivi, estarei completamente aberta para fazer isso.

Fernanda Motta: "O que aconteceu comigo é um exemplo sobre o diagnóstico precoce e autocuidado" Imagem: Paulo Troya


Durante o período mais difícil da pandemia você estava também em tratamento. Como tem sido retomar a rotina e, principalmente, voltar ao trabalho?
Tem sido maravilhoso! É muito bom a gente manter a cabeça funcionando. A pessoa que produz, de alguma forma se eleva, tem uma vida mais saudável. Estou muito feliz com as coisas que estão acontecendo na minha vida, estou trabalhando bastante e vivendo a vida como vivia antigamente e até de maneira um pouco mais intensa. Quando eu comecei o tratamento, eu trabalhei até o momento em que a pandemia fez tudo parar. Eu fiz novela, eu não deixei de fazer nada porque é bom até para ocupar a cabeça. Mas, como eu falei, sou muito prática. Eu vou indo conforme a vida.

Você lançou recentemente uma linha em parceria com o estilista mineiro Eduardo Amarante. Não é a primeira vez que você se envolve também na criação. Como é transitar nos dois papéis, o de estar na passarela e o de pensar uma coleção?
Acredito que esse é um processo natural para quem gosta do que faz. Eu gosto muito do que faço. A construção da minha carreira me levou a esse caminho que engloba todas essas coisas, tanto como divulgar, me comunicar com as pessoas, quanto criar. A minha carreira tem a ver com lifestyle e eu prezei muito por seguir nessa direção. Para mim, é algo bem gostoso de fazer e é bem natural porque é algo que realmente tem a ver com a minha vida, com a forma como eu vivo. E são coisas que eu aprendi ao longo da minha carreira. Eu vi muita gente fazendo o que eu estou fazendo agora. É gratificante chegar a essa fase.

Você também fez trabalhos como atriz e se tornou apresentadora. Como foi partir para esses novos papéis?
Tudo foi acontecendo aos poucos. Sempre tive uma grande preocupação em relação à minha carreira de mostrar a minha verdade. Busquei, assim, fazer o que eu sabia fazer e de uma forma que eu sabia fazer. Quando a gente chega em certa fase da vida, começa a abrir outros leques de oportunidades que vão surgindo. Eu gosto muito de me comunicar, é uma característica minha. Os novos trabalhos apareceram por causa da minha forma de me comunicar. Acredito que tudo foi correndo naturalmente e eu fui gostando e evoluindo. E estou aí. Sou muito aberta a novas aventuras e amo o que faço e de circular em todos os meios.

Você acha que a pandemia impactou o mercado da moda, trazendo questões sociais e ambientais para serem observadas com mais cuidado?
Creio que isso aconteceu em todas as áreas. As pessoas foram obrigadas a parar e observar o que estava acontecendo. Se as pessoas assimilaram ou não, é outro caso. Mas todos tiveram de parar e prestar atenção. Na moda, acredito que houve um avanço na questão da sustentabilidade. Esse processo é um pouco lento, principalmente porque a moda foi bem prejudicada no começo da pandemia e quem trabalha nesse meio teve de correr atrás.

Os e-commerces já existiam, mas não com a força que têm hoje em dia. Os negócios ligados à moda tiveram de migrar para e-commerce e as pessoas precisaram aprender a divulgar e a vender pela internet. Isso é uma arte, algo que não é tão fácil quanto as pessoas pensam que é. A moda, então, teve de se renovar, mas ela ainda está se reinventando. As pessoas começaram a entender também que é necessário que a moda incorpore a questão da diversidade. Vejo que há uma evolução, mas que está acontecendo aos poucos. A moda teve um chacoalhão e espero que ela continue evoluindo, principalmente quanto à sustentabilidade e à diversidade porque ela é também uma forma de expressão.

Você é mãe da Chloe, de 7 anos. Como foi adaptar a rotina profissional, que exige muitas viagens, com a chegada dela?
Quando a Chloe chegou, ela veio para somar, não para diminuir. Eu não adaptei a minha vida a ela. A vida dela se encaixou na minha. E ela é muito independente. Mas eu sou uma mãe muito presente. Como eu tenho flexibilidade de horário quando não estou viajando, eu consigo sair do trabalho e pegá-la na escola, levar para uma aula de natação e, se precisar, sair de novo. Eu acordo de manhã para arrumá-la para o colégio. Tenho essas possibilidades de estar com ela em alguns momentos do dia. Prezo mais a qualidade do que a quantidade de tempo.

No próximo ano, vamos ver como será, como vai funcionar. Ela tinha 5 anos quando a pandemia começou. No ano que vem, ela já fará 8. Durante a pandemia, ela ficou grudada com a gente e agora ela fala "não vai, fica aqui". Toda criança quer os pais por perto. Mas, no fundo, é mais um chameguinho, um charminho do que um drama do tipo "ah, meus pais me abandonaram". Mas ela sempre foi muito tranquila porque nasceu já numa realidade em que os pais viajam. E a gente vai adaptando. A minha filha é muito maravilhosa, modéstia à parte! Minha vida familiar é muito bem resolvida.

Em mais de duas décadas como modelo, você vivenciou mudanças nessa carreira? Quais foram as mais importantes?
Houve muitas mudanças nesse período, há várias história para contar, mas acredito que a indústria da moda mudou, principalmente, por causa da internet. Com isso, a modelo teve de se reinventar. Quando eu comecei, a gente fazia um trabalho, entregava para o cliente e ele tinha a responsabilidade de divulgar. Hoje em dia, não é mais assim. A modelo não só faz o trabalho como precisa divulgá-lo e falar sobre ele, coisa que não existia na época em que comecei. Com as redes sociais, todo mundo virou influencer.

Nessa presença nas redes sociais, que faz parte do universo das modelos atualmente, eu evito falar de temas sobre os quais não tenho domínio. Eu busco me comunicar com as pessoas de uma forma verdadeira, que não agrida, que não confunda. Tenho uma relação nas redes sociais que está sendo construída. Uma forma de expressão na qual eu acredito está em não só mostrar o meu dia a dia, mas compartilhar a partir do que as pessoas me perguntam sobre dicas de lifestyle ou sobre a minha experiência com o câncer de mama.

Que mulheres te inspiram?
São Tantas! Vou citar a Luiza Trajano, que considero uma mulher excepcional. Sou fã dela. Ela é uma força feminina, criou a sua própria história e ajuda muita gente com isso. Tem preocupação com o outro e empatia. Tem ainda a Anitta, uma mulher à frente do tempo dela, que faz acontecer e está arrasando no exterior. E a Gisele Bündchen, que abriu as portas para nós, modelos.

Mas na minha lista não tem só mulheres famosas, tem aquelas que estão comigo no meu dia a dia, como a Dudinha (Duda Dalloz, assessora de imprensa), a minha mãe. São mulheres que, cada uma com seu jeitinho, me inspiram.

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O Prêmio Inspiradoras é uma iniciativa de Universa e Instituto Avon, que tem como missão descobrir, reconhecer e dar maior visibilidade a mulheres que se destacam na luta para transformar a vida das brasileiras. O foco está nas seguintes causas: enfrentamento às violências contra mulheres e meninas e ao câncer de mama, incentivo ao avanço científico e à promoção da equidade de gênero, do empoderamento econômico e da cidadania feminina.


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