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'Passei anos namorando sem gozar': como elas encontraram o prazer a dois

Mulheres explicam como conseguiram gozar anos depois de iniciarem suas vidas sexuais Imagem: iStock

Ana Bardella

De Universa

29/10/2021 04h00

Ao longo da vida, Juliana*, 21 anos, teve 10 parceiros sexuais. Antes de se casar, no entanto, conseguiu ter um orgasmo apenas uma vez, por meio de sexo oral. Durante mais de seis anos, teve envolvimentos casuais e dois namoros, sem que nenhum dos nove parceiros se importasse de verdade com o seu prazer. Foi somente com o atual marido que conseguiu conversar sobre o assunto e adotar técnicas para que também saísse satisfeita das relações.

Casos como o dela não são difíceis de encontrar. "Infelizmente, não é um assunto sobre o qual eu consigo conversar abertamente com amigas ou mulheres da família. Só percebi que era uma questão que atinge uma parcela grande de mulheres participando de grupos no Facebook. Lá, já encontrei diversos posts e comentários sobre histórias semelhantes à minha", conta.

E foi justamente em razão dos desabafos e das dicas que recebeu online que ela conseguiu adotar novos hábitos em parceria com seu companheiro e atingir uma vida sexual plena. "Hoje não me submeteria mais ao tipo de sexo que tive durante a vida de solteira. Sei a importância do meu prazer", resume.

Confira a seguir o relato completo de Juliana e as histórias de Clarissa e Mariana*, que também promoveram uma reviravolta em suas vidas sexuais e hoje gozam (também) com seus parceiros.

'Achava que o sexo era aquilo: focar no prazer masculino'

Juliana* achava que o prazer masculino era prioridade Imagem: iStock

"Tenho 21 anos e tive três relacionamentos sérios. Iniciei minha vida sexual aos 13, com um rapaz da minha idade, e com ele só consegui atingir o orgasmo uma vez, durante um sexo oral. Fiquei com ele um pouco mais de um ano, sem sentir prazer. No início pensava que poderia ser por falta de experiência das duas partes, mas meu segundo namoro, aos 16, correu da mesma forma. Ficamos um ano e meio juntos sem que eu conseguisse gozar.

Como não tinha diálogos sobre isso com outras pessoas, pensava que o sexo era aquilo: focar no prazer masculino. Depois de terminar, tive outros parceiros casuais, com quem fiquei por alguns meses, mas eles também não me satisfaziam. Comecei a achar que o problema era comigo. Cheguei aos 20 anos tendo gozado apenas uma vez, com o rapaz com quem iniciei a vida sexual, mesmo com mais oito parceiros de lá para cá.

Eu me masturbava e até conseguia chegar lá, mas não era algo frequente. Minha vida sexual só mudou de verdade quando conheci o meu marido. Nós nos conhecemos e fomos morar juntos depois de apenas dois meses. Nesse meio tempo, passei a assistir muitos vídeos no YouTube com dicas de como chegar ao orgasmo, mas percebi que era algo que não poderia resolver sozinha. Com quatro meses de convivência diária, resolvi abrir o jogo com ele.

De cara, a reação foi defensiva. Ele opinou que deveria ser algo no meu psicológico. Então passei a mostrar os vídeos para ele —que logo percebeu que não se tratava de uma crítica, mas de um pedido. As dicas o deixaram curioso, até que ele passou a estudar por conta própria. Compramos lubrificante, testamos novas posições e finalmente passei a gozar durante as nossas relações.

Hoje vejo quanto tempo perdi acreditando que o que recebia era suficiente e tenho certeza de que não me submeteria mais a relações tão meia-boca como as que tive no passado."

Juliana*, 21 anos, de São José dos Campos (SP)

'Só passei a gozar quando perdi o medo de me entregar às sensações'

Clarissa resolveu a questão se entregando às sensações Imagem: Acervo pessoal

"Nunca tive questões com relação à masturbação: sabia como me proporcionar orgasmos sozinha e não sentia culpa por isso. Porém, para mim, o auge do prazer está ligado ao squirt: aquele orgasmo que vem acompanhado de um líquido, semelhante a uma ejaculação, que para mim é muito mais intenso e nunca consegui atingir por conta própria. Aos 16 anos, iniciei minha vida sexual e tive um namoro que se estendeu por mais de um ano sem que eu tivesse essa sensação.

A solução veio por meio da minha participação em grupos do Facebook. Lá algumas mulheres compartilhavam relatos de que não se sentiam plenamente satisfeitas no quesito sexual, enquanto outras descreviam como era chegar a esse ápice. Foi através dessas descrições que eu entendi: quando transava, não conseguia me entregar completamente ao meu parceiro.

Achava que era um descontrole, semelhante ao que sinto quando faço xixi, e por isso pedia para parar o ato.

Hoje em dia, depois de testar as técnicas indicadas no grupo, de não ter medo da sensação e de me entregar a ela, consigo atingi-la em quase todas as minhas relações, mesmo tendo trocado de parceiro".

Clarissa Alves, 20 anos, relações-públicas, de São Paulo (SP)

'Tentava ser perfeita na cama. Na tentativa de agradar, me esquecia de mim'

Mariana* tinha problemas na autoestima, por isso performava Imagem: iStock

"Descobri a masturbação cedo, entre a infância e a pré-adolescência. Foi uma fase divertida, em que as sensações eram quase uma brincadeira para mim. No entanto, conforme os anos foram passando, me tornei insegura. Tinha vergonha do meu corpo, me comparava a atrizes pornô e parei completamente de me masturbar.

Nas minhas relações, era dependente da opinião dos meus parceiros. Para mantê-los comigo, buscava uma imagem que pensava ser a mais agradável na cama: depilada, sempre de cabelo feito —e, é claro, alguém que não demorava para gozar.

Colocava meu prazer de lado para fingir que estava satisfeita depois de alguns minutos de transa.

A situação mudou depois que encontrei um parceiro que me dá liberdade para falar abertamente sobre essas questões. Simultaneamente, comecei a fazer terapia, o que ajudou no meu autoconhecimento. Passei a me sentir amada de verdade, algo que ajudou na minha autoestima e melhorou minha vida sexual. Hoje, sem me preocupar em 'performar', consigo atingir orgasmos verdadeiros e sou muito mais satisfeita."

Mariana*, 20 anos, estudante, de São Paulo (SP)

*Os nomes foram trocados a pedido das entrevistadas

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