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'Tesão acumulado na pandemia ajudou negócio', diz criadora de sextech

Laís Conter, uma das sócias-fundadoras da Tela Preta, a primeira plataforma de áudios eróticos do Brasil - Arquivo pessoal
Laís Conter, uma das sócias-fundadoras da Tela Preta, a primeira plataforma de áudios eróticos do Brasil Imagem: Arquivo pessoal

Caroline Marino

Colaboração para Universa

28/10/2021 04h00

Se tem uma coisa que não falta à gaúcha Laís Conter, de 33 anos, é feeling para os negócios. Uma das sócias-fundadoras da Tela Preta, a primeira plataforma de áudios eróticos do Brasil, desde muito cedo ela está envolvida no mundo do empreendedorismo por inspiração do avô, que tinha uma loja. "Minha mãe trabalhava com ele e eu estava sempre por lá ajudando a embalar as mercadorias e observando a rotina da empresa", conta.

Apesar de ter se formado em arquitetura e feito alguns estágios na área, a ideia de criar uma empresa e ser sua própria chefe não saiu da cabeça de Laís. Ela decidiu, então, se aventurar no mundo do design gráfico e chegou a criar uma marca de pôsteres vendidos em feiras e eventos pela cidade de Porto Alegre, onde morava. Mas um nicho de mercado estava no radar de Laís: o erótico, que vem crescendo ao longo dos anos e tem despontado como uma boa oportunidade de negócio.

O convite para se juntar à equipe da Tela Preta, ao lado de Fábio Chap, Samuel Aguiar e Guilherme Nakata, veio justamente por sua experiência na área, atuando com design e criação de conteúdo sobre sexo. Antes de ingressar na empresa, em julho de 2018, Laís decidiu colar pelas ruas de sua cidade adesivos provocativos relacionados ao sexo. Mais tarde, passou a colocá-los em posts do Instagram.

Batizado de Me Lambe, o perfil tem hoje 359 mil seguidores e se tornou um espaço seguro no qual são tratados diversos assuntos dentro do universo da sexualidade, ajudando a quebrar tabus e incentivando o empoderamento e a educação sexual.

Masturbação na pandemia

A ideia da Tela Preta surgiu por conta da atuação de Fábio, que narra contos eróticos desde 2015. Tudo começou com publicações no Facebook, em que Fábio tapava a tela do celular com uma fita isolante preta — daí o nome da empresa — e narrava seus contos, que logo chegaram a outras redes sociais.

"A proposta do Fábio veio por conta da minha atuação nesse universo, com a ideia de eu cuidar de toda parte visual e de conteúdo", diz. Eles começaram a pensar no negócio em dezembro de 2019 e a ideia era lançá-lo no segundo semestre de 2020, mas a pandemia antecipou os planos.

Quando vimos uma notícia da prefeitura de Nova York incentivando as pessoas a se masturbarem na quarentena em vez de sair de casa para se relacionar, pensamos que era o momento certo de levar ao mercado a Tela Preta.

Como Laís está sempre de olho em boas oportunidades, o negócio foi lançado em abril para aproveitar o movimento das pessoas estarem em casa e para ajudá-las no isolamento. Foi um sucesso. No primeiro mês, eles bateram a meta de assinantes que esperavam para seis meses e, em um ano de funcionamento, faturaram R$ 220 mil. Até hoje, cerca de seis mil pessoas já ouviram os contos. O objetivo é atingir R$ 500 mil até o mês de abril de 2022.

Plataforma de áudios eróticos Tela Preta - Arquivo pessoal  - Arquivo pessoal
Tela Preta: cerca de cerca de seis mil pessoas já ouviram os contos eróticos da plataforma
Imagem: Arquivo pessoal

Aposta na diversidade

A empresa funciona por um modelo de assinaturas, que vai de R$ 14,99 por mês a R$ 149,90 por ano. Por esses valores, o cliente acessa mais de 200 áudios eróticos da plataforma, que são divididos por categorias, como mais leves e mais pesados, masturbação guiada e LGBTI+, sempre pensados para atingir diferentes perfis.

Hoje já são dez narradores. Tem mulher narrando conto para mulher, homem para homem, homem para mulher e mulher para homem. "Também não usamos descrição física nos áudios para que todas as pessoas possam se imaginar na história", explica Laís.

Segundo ela, a empresa também está apostando na ampliação dos serviços. "Além dos áudios, temos hoje um jogo de cartas para casais para facilitar a comunicação e dar uma aquecida na relação, e uma versão personalizada dos contos a partir das fantasias do cliente", diz.

Recentemente, a empresa lançou o livro "Viajando em mim" e começaram a disponibilizar os contos escritos pensando em quem gosta de ler. A ideia é diversificar cada vez mais para conseguir divulgar a empresa, já que um dos desafios do negócio é se promover, tendo em vista as regras das redes sociais que restringem conteúdos relacionados ao erotismo. Pensando nisso, eles criaram um perfil no Spotify com alguns contos para as pessoas terem um gostinho de como são as narrações.

De frente com o preconceito

Apesar de hoje navegar bem nesse universo, Laís lembra que já sofreu com o preconceito que existe nesse mercado. "Algumas pessoas ainda não veem com bons olhos esse segmento. Quando comecei na área, por exemplo, era anônima. Tinha medo de julgamento e de assédio", lembra.

Segundo ela, em uma primeira matéria sobre a Me Lambe em um jornal local, ela se deparou com comentários preconceituosos no Facebook e ficou assustada.

Me julgavam sem saber quem era, com falas cheias de preconceito e ameaças

Até que ficou cansada de se "esconder" e, com o apoio de seu parceiro na época, mostrou seu rosto. "Foi um processo gradual, mas as pessoas me receberam muito bem e várias mulheres mandaram mensagem dizendo que se inspiravam em mim", diz.

Laís ressalta que essa é uma das partes gratificantes de atuar no ramo: ajudar outras pessoas. Ela e os sócios costumam receber muitos relatos de pessoas que estavam com questões e problemas relacionados ao sexo e que a Tela Preta as ajudou a se sentirem melhor e reacenderam os desejos. "Nosso objetivo é fazer com que as pessoas sintam prazer e não culpa", completa.

Ouça o episódio do podcast "Sexoterapia", de Universa, com a participação de Laís: