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Strippers usam TikTok para desmistificar profissão: 'Também somos humanas'

A stripper americana Freesia Miller usa o TikTok para falar sobre sua profissão - Reprodução Instagram
A stripper americana Freesia Miller usa o TikTok para falar sobre sua profissão Imagem: Reprodução Instagram

Júlia Flores

De Universa

03/10/2021 04h00

"Saindo de perto de um cliente depois de dançar por 30 minutos e ele não jogar dinheiro no palco para mim" é o texto que aparece na tela enquanto Miley Sappho dubla o áudio de um filme e simula caretas para a câmera. No TikTok, ela publica vídeos com dicas, conselhos e bastidores da profissão de stripper — além dos conteúdos de "ostentação" em que aparece contando os dólares conquistados durante a noite de trabalho — todos reunidos na hashtag #striptok.

Aos 19 anos, ela atua como dançarina profissional. Para Universa, a americana conta que começou na profissão porque precisava de dinheiro para pagar a faculdade.

Navegando pela hashtag, a reportagem de Universa não encontrou vídeos com conteúdo erótico explícito. Segundo a assessoria de comunicação do próprio TikTok, a plataforma não permite a publicação de nudez e pornografia — o que leva à suspensão de alguns usuários. A empresa também informou que oferece funções para que pais possam controlar o que os filhos menores de idade recebem no feed.

"Eu sou uma pessoa naturalmente introvertida e odeio festas, então, quando eu trabalho no clube, posso satisfazer aquele desejo de 'festa' sem ter que conhecer ninguém ou ser pressionada a fazer qualquer coisa. Pode não fazer sentido, mas quando estou ganhando dinheiro e socializando, posso expressar uma parte de mim que normalmente está escondida".

A hashtag fez com que os clientes vissem meu lado humano, o que não acontece na boate. Muitas pessoas não respeitam meu trabalho, porque ele é rodeado de estigmas sociais; não tem muito o que fazer para mudar isso. — Miley Sappho

Ela não é a única a compartilhar detalhes da sua rotina profissional no TikTok. Na plataforma de compartilhamento de vídeos que recentemente alcançou a marca de 1 bilhão de usuários ativos, a hashtag temática #striptok já reúne mais do que o dobro desse número impressionante, ultrapassando a casa dos 2 bilhões de visualizações.

@mileysappho

Story of a band nerd turned ?accountant? #striptok #strippa #strippatok

? make love verse - emm.

Desde seu primeiro vídeo de sucesso (filmagem com mais de 3 milhões de curtidas em que conta dinheiro, exibe o vestiário do clube e fala sobre a ansiedade pré-palco), a dançarina transformou o seu perfil pessoal no TikTok em uma rede profissional, apesar de não monetizar os conteúdos nem cobrar por eles. Atualmente, ela tem 200 mil seguidores.

TikTok, para onde as strippers foram durante a pandemia

Quando a pandemia de covid-19 começou, em março de 2020, as portas dos clubes de strip-tease se fecharam. "Sorte que eu tinha economizado dinheiro suficiente, então estava bem. Pude contar com a ajuda de alguns clientes regulares também", diz Freesia Miller (24), que trabalha como stripper há cerca de 3 anos.

Durante o isolamento social, ela passou a focar na produção de conteúdos para as redes sociais. "A internet me ajudou a ser reconhecida como dançarina", revela a americana, que possui mais de 28 mil seguidores no TikTok. Entre vídeos de dança, de ostentação e de comédia, ela responde a dúvidas de seguidores sobre o seu trabalho.

De acordo com Freesia, seu público no TikTok se divide entre as mulheres que querem começar a trabalhar como stripper e os homens que gostam de vê-la dançar. Ela costuma responder as dúvidas dos seguidores: "As mulheres que interagem comigo têm 18 e 22 anos. As perguntas mais frequentes são quanto eu ganho, se vale a pena e como começar."

Não considero perigoso fazer os vídeos que faço. Eu me concentro no lado positivo da minha profissão, mas é claro que há um lado negativo, assim como em qualquer outro trabalho - Freesia Miller

Assim como Freesia, Miley também recebe perguntas e dúvidas dos seguidores. É neste momento que ela tenta "alertar sobre os riscos" da profissão: "Alguns vídeos fazem com que dançar pareça fácil, o que não é. Eu lidei com muitos predadores no clube e temo que meninas mais novas passem pelo mesmo. Eu me preocupo com a segurança das pessoas quando elas vão ao clube para fazer um teste. Comento isso nos meus conteúdos."

De toda forma, fico feliz por poder quebrar estereótipos ao redor do strip. Striptok está ajudando as pessoas a nos verem como seres humanos - Miley Sappho

Uma hashtag contra preconceitos

Violet Vendetta* (28) começou a fazer strip em 2020, após se aposentar do exército e durante a sua graduação em duas faculdades: uma de linguística (com especialização em árabe) e outra em animação de vídeo. "Foi minha colega de quarto que me recomendou o trabalho como dançarina. Fiz o teste e gostei."

Muitas pessoas pensam que os dançarinos não têm educação, orçamento ruim, que são viciados em drogas, não qualificados, prostitutas, etc. Eu ouço isso todas as noites, mas em 99% das vezes isso é falso - Violet Vendetta

Foi para ampliar ainda mais o leque de clientes que ela decidiu começar a produzir conteúdo falando sobre a profissão. Ela conta que sua conta (que tem mais de 80 mil seguidores) já foi suspensa pelo aplicativo no passado e por isso ela tem dois perfis na plataforma.

As três personagens com quem Universa conversou são apenas dançarinas, e não trabalham como prostitutas. Por isso, em seus conteúdos, elas tentam ensinar os homens a se portarem melhor nos clubes e boates:

"Sem dúvidas, a hashtag ensina eles como serem melhores clientes! Enquanto a maioria são pessoas decentes que querem apenas passar um bom tempo, existem aqueles que assediam as dançarinas. É emocionalmente desgastante. Muitas strippers usam a # para glamorizar a profissão, mas eu não faço apenas isso", avalia Violet.

O dinheiro e as roupas fazem com que a vida de stripper pareça perfeita, mas assim como na indústria da moda, as garotas podem ter um estilo de vida luxuoso, só que há muita coisa acontecendo em cena. — Miley Sappho

Só que no TikTok, é a ostentação quem manda. Os vídeos em que as strippers aparecem contando dinheiro seguem sendo os mais visualizados. Dinheiro para produzir os conteúdos não falta — Freesia conta que normalmente recebe de US$ 700 a US$ 1.000 por noite; Miley, de US$ 800 a US$ 1.000, Violet, US$ 400.

E tempo livre? Elas têm? Violet garante que sim: "Gosto de pensar que se eu mudar a opinião de uma pessoa sobre o que é ser stripper, este é um tempo bem gasto".