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Silicone de graça no SUS: quem pode e como fazer?

 Freepik/Nensuria
Imagem: Freepik/Nensuria

Patrícia Beloni

Colaboração para o Universa

03/10/2021 04h00

Seja por questão estética ou por necessidade de reparação, a cirurgia plástica para o implante de silicones é um dos procedimentos mais comuns entre as brasileiras, de acordo com a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP). É uma técnica capaz de transformar a vida de uma mulher. Agora, você sabia que é possível fazer isso de graça pelo SUS?

Foi o que aconteceu com Jocelina Rodrigues dos Santos, de 57 anos, que fez a reconstrução da mama pelo SUS, dois anos depois de ter realizado a mastectomia. "Fiz para aumentar minha autoestima, para eu ficar bem, porque quando a mulher retira a mama, a gente fica triste, se olha no espelho, vê que está faltando algo", conta.

Existem várias cirurgias que o Sistema Único de Saúde (SUS) oferece de forma gratuita, e, acredite ou não, a colocação de silicone é uma delas. Apesar disso, não é todo mundo que é elegível para realizar o procedimento de forma gratuita.

Seja no SUS ou de forma particular, é possível fazer dois tipos de colocação de silicone: uma por estética e a reparadora (reconstrução mamária). A por estética é mais difícil de conseguir; já a reconstrução mamária é um direito de toda mulher.

Reconstrução mamária pelo SUS

No caso da reconstrução mamária, são dois os casos: o câncer de mama e violência doméstica. Os passos são: procurar uma Unidade Básica de Saúde (UBS) e passa com o mastologista para pegar um encaminhamento.

O tipo do tumor e biotipo da paciente fazem diferença, então o médico faz uma checagem. Ele deve avaliar o IMC (Índice de Massa Corporal), as comorbidades (doenças relacionadas a alterações do metabolismo) e pedirá outros exames, como uma avaliação psicológica.

"As mulheres optam por realizar a reconstrução mamária por diversas razões. E, para muitas delas, a reconstrução mamária é uma excelente alternativa para sentirem-se melhor", explica Mário Farinazzo, cirurgião plástico, chefe do setor de Rinologia da UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo).

O procedimento pode ser feito tanto no momento da retirada do tumor ou depois, mesmo que a pessoa tenha feito o tratamento em outro lugar. Pode depender da situação da mama. Se não houver retirada da mama inteira, a cirurgia é mais simples, por exemplo.

Jocelina fez a reconstrução da mama pelo SUS, dois anos depois de ter realizado a mastectomia - arquivo pessoal - arquivo pessoal
Jocelina fez a reconstrução da mama pelo SUS, dois anos depois de ter realizado a mastectomia
Imagem: arquivo pessoal

Mas em casos mais avançados onde não há espaço suficiente, se coloca um expansor que vai sendo preenchido aos poucos para depois permitir a colocação da prótese, ou vai se fazendo o processo de reparação aos poucos, em etapas. Como foi o caso da Jocelina e também da Maria da Conceição Mendes Carrascosa, de 52 anos.

Maria retirou a mama esquerda pelo SUS, mas ficou sabendo que só depois que poderia fazer a reconstrução de forma gratuita. Três anos depois deu entrada no processo e passou por 10 etapas (5 anos) para finalizar. "Quando fico nervosa, sinto um pouco de sensibilidade, parece cãibra. Mas a cirurgia da mama me deixou muito feliz, me fez uma nova mulher cheia de energia e assim, consegui ajudar outras mulherest também", conta.

Além da reconstrução mamária, o SUS considera outras intervenções também como reparação das mamas: a gigantomastia (mamas com volumes altos que causam problemas de saúde) e a otoplastia (problemas nas aréolas).

Silicone por estética no SUS

É possível adquirir o silicone apenas por estética, entretanto, o processo é diferente. Isso porque ele é feito pelos Hospitais Universitários, em geral por residentes, como parte do ensino e do treinamento e quando acontece doação de próteses. Por isso, pode demorar, dependendo da localidade e da demanda.

Os critérios de liberação variam em cada região, desde faixa etária, peso até doenças. Mas nesse caso, é necessário procurar essas unidades para fazer o cadastro, pegar o encaminhamento e entrar na fila. Como é o caso de Lívia Domingues, de 25 anos, e Camila Bianchi Matiuzzi, também de 25 anos, que fizeram o procedimento por estética, sem pagar.

"Me candidatei e fiquei com as vagas que sobraram, porque a preferência, na época, foi dada para mulheres trans, que já faziam acompanhamento no Núcleo Trans do ambulatório - visando, além da questão estética, a questão social", explica Camila.

Sobre a cirurgia

As próteses podem ser redondas, cônicas ou anatômicas (em formato de gota, com aparência mais natural). Podem ser lisas ou texturizadas (adere mais ao tecido) e as marcas podem variar. Mas tudo vai depender da disponibilidade da região e as características da paciente.

Em geral é feito uma abertura no sulco mamário, na parte de baixo, em torno de 7cm a 10cm. É feito o descolamento de toda a mama do músculo que fica atrás, para colocar a prótese neste espaço entre a glândula e o músculo. Algumas situações são colocados atrás do músculo e o que modifica é que tem que levantar também o músculo e colocar neste local, o que aumenta o tempo cirúrgico.

As principais técnicas cirúrgicas disponíveis incluem: colocação de prótese de silicone, utilização de enxerto de gordura, colocação de expansor tecidual na mama e transferências de retalho de pele com ou sem músculo. Às vezes, pode ser usada uma combinação de duas ou mais técnicas para obter um melhor resultado.

Podem levar por volta de uma hora até cinco horas, com corte simples e a recuperação de 15 a 30 dias. "Eu costumo dizer que cirurgia é igual viagem, tem hora para começar, mais os percalços do caminho é que irão determinar o tempo final", explica Rogério Fenile, médico mastologista do Hospital Pérola Byington e chefe da Mastologia da Amil Saúde.

Como a prótese não dura para sempre, é preciso realizar acompanhamento médico anual para verificar se está tudo bem (podem ocorrer rejeição ao implante ou processo infeccioso, por exemplo) e avaliar a necessidade de troca (a média de duração é de 10 anos). Mais informações podem ser verificadas pelo Dique Saúde (136) ou na Central de Atendimento à Mulher (180).

Fontes consultadas: Diogo Coelho, cirurgião plástico da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP); Rogério Fenile, médico mastologista do Hospital Pérola Byington e chefe da Mastologia da Amil Saúde; Mário Farinazzo, cirurgião plástico, chefe do setor de Rinologia da UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo); Paulo Sanjuan e Victor Sanjuan, médicos cirurgiões, da Clínica Sanjuan, em Salvador