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Ativista transexual que teve história contada em Cannes é agredida no RJ

Indianara Siqueira, de 50 anos, teve história de vida contada em filme exibido no festival e sofreu agressão ao defender amiga - Arquivo Pessoal
Indianara Siqueira, de 50 anos, teve história de vida contada em filme exibido no festival e sofreu agressão ao defender amiga Imagem: Arquivo Pessoal

Marcela Lemos

Colaboração para o UOL, no Rio de Janeiro

18/08/2021 14h53Atualizada em 18/08/2021 17h33

A ativista transexual Indianara Siqueira, de 50 anos, foi agredida com socos e coronhadas em um bar na Lapa, na região central do Rio, após defender uma amiga, vítima de assédio sexual. O caso ocorreu no dia 7 de agosto e por motivo de saúde, está sendo registrado na tarde de hoje na delegacia da região, na 5ª DP - Mem de Sá.

Indianara é fundadora da Casa Nem, imóvel que abriga a população LGBTQIA+ em situação de rua e vulnerabilidade. Além disso, a ativista já teve sua vida contada em um filme exibido no Festival de Cannes, em 2019. O filme que leva seu nome é uma produção da francesa Aude Chevalier e do brasileiro Marcelo Barbosa.

Em conversa com o UOL, Indianara contou que a confusão começou depois que ela defendeu uma amiga que foi assediada e posteriormente ofendida por ser transexual. As duas acabaram sendo vítimas de violência física.

"Quando perceberam que ela [a amiga] era trans, começaram a ser transfóbicos. Ela me contou o que estava acontecendo e fui defendê-la. Acabei tomando dois socos, coronhadas e desmaiei. Alguns amigos se meteram e conseguiram me tirar do chão", contou Indianara.

A ativista disse ainda que, posteriormente, a amiga, identificada como Dani, foi levada para fora do bar e também foi agredida com cadeiradas e coronhadas por cinco pessoas. As duas prestaram depoimento na tarde de hoje.

A ativista foi levada por amigos para a Casa Nem, no bairro do Flamengo, na zona sul do Rio, e em seguida para o hospital Souza Aguiar, no Centro. Na unidade foram constatadas duas fraturas embaixo do olho direito. A necessidade de cirurgia foi descartada. Indianara está medicada.

Segundo ela, um dos homens envolvidos no caso foi reconhecido hoje na delegacia. Ela prestou depoimento na companhia de testemunhas.

Procurada, a Polícia Civil informou apenas que "as investigações estão em andamento". A advogada Paula Alves disse que o caso foi registrado como transfobia, agressão e furto. "O registro foi realizado. Foi reconhecido preconceito em relação à pessoa transgênero. Os policiais mostraram-se comprometidos em identificar o agressor".

Prejuízo de R$ 6 mil

Na confusão, Indianara contou que teve a bolsa e dois celulares roubados. No dia seguinte, após receber atendimento médico, ela se deu conta que o grupo realizou gastos no valor de aproximadamente R$ 600 com o cartão dela que funcionava no modo de aproximação - quando basta encostar o cartão na máquina para efetuar pagamentos, sem necessidade de senha.

Os gastos foram realizados horas após a confusão e ocorreu em estabelecimentos no mesmo bairro onde foi agredida. O prejuízo total estimado é de R$ 6 mil, considerando os valores dos pertences.

Indiara enfatizou a necessidade de denunciar os crimes. "Devemos denunciar para não ficarem protegidos e voltarem a agredir, pois contam com o nosso medo e sentir medo é natural", finalizou a ativista.

O Brasil está no topo do ranking de países que mais matam pessoas trans no mundo. Em 2020, foram 175 travestis e mulheres transexuais assassinadas, segundo a Antra (Associação Nacional de Travestis e Transexuais). A alta é de 41% em relação ao ano anterior, quando foram registrados 124 homicídios.