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Alice Braga: "Fico triste com o Brasil. Governo é oficialmente mentiroso"

A atriz Alice Braga está no elenco de "O Esquadrão Suicida", com lançamento previsto para essa quinta-feira, 5 de agosto - NBCU Photo Bank/NBCUniversal via
A atriz Alice Braga está no elenco de "O Esquadrão Suicida", com lançamento previsto para essa quinta-feira, 5 de agosto Imagem: NBCU Photo Bank/NBCUniversal via

Camila Brandalise

De Universa

04/08/2021 04h00

Atriz brasileira de maior sucesso internacional atualmente, com dezenas de filmes no currículo, Alice Braga ri da ironia que é interpretar uma mulher lutando contra um governo autoritário no filme "O Esquadrão Suicida", com lançamento previsto para essa quinta-feira, 5 de agosto. "Interessante falar sobre isso hoje, né?", questiona, em conversa com Universa.

Ela faz relação com o governo de Jair Bolsonaro (sem partido), que define, na lata, como "oficialmente mentiroso". "Espero que as pessoas que votaram nele entendam que essa escolha teve consequências gravíssimas, que a gente matou meio milhão de pessoas, infelizmente", diz, citando as mortes pela covid-19.

"O que esse governo segue fazendo enquanto a gente está tentando sobreviver à pandemia é devastador. Para o meio ambiente, para a educação. E tem um caminho do autoritarismo, essas falas dele sobre eleições são inadmissíveis. Não é piada, não é brincadeira", opina, referindo-se às ameaças veladas do presidente afirmando que se o voto não for impresso, não haverá eleições.

Alice Braga como Sol Soria em  "O Esquadrão Suicida" - Reprodução/ Warner Bros. Pictures - Reprodução/ Warner Bros. Pictures
Como Sol Soria em "O Esquadrão Suicida"
Imagem: Reprodução/ Warner Bros. Pictures

Ao mesmo tempo que se diz triste com o Brasil, Alice afirma também ter esperança para as próximas eleições. "Temos que ter força para lutar. Tem eleição vindo ano que vem, é muito importante que a gente se conscientize, que estude os candidatos, que entenda quem são as pessoas que estão aí. E que a gente olhe, de fato, para quem é o Bolsonaro e para as mentiras que ele fala, pois esse é um governo oficialmente mentiroso."


Atriz se baseou em guerrilheiras do Oriente Médio para viver personagem

Alice Braga despontou no cinema aos 19 anos, em 2002, ao interpretar Angélica em "Cidade de Deus". Gravou outros longas e foi colecionando prêmios até que, em 2006, fez o primeiro filme estrangeiro,"12 Horas Até o Amanhecer", cuja história se passa no Brasil. Dali para frente, foram só sucessos, entre eles "Eu Sou a Lenda", "Ensaio sobre a Cegueira" e "Soul", além de séries como "A Rainha do Sul".

Agora, ela vive a guerrilheira Sol Soria em "O Esquadrão Suicida", uma das estreias mais aguardadas de 2021. Para compor a personagem, Alice conta que o diretor e roteirista James Gunn se inspirou nas "mulheres de guerrilhas que existem no mundo".

"Foi baseada em personagens reais até em relação ao meu figurino, o fato de usar brinco, pulseira", diz. "Colocar uma mulher nesse papel que foi um desejo dele de mostrar essa força feminina."

Depois de apresentada a Sol, porém, Alice foi atrás de mais uma referência. Ela revela ter se baseado no grupo YPJ, ou Unidades de Proteção das Mulheres, em português, uma organização militar do Oriente Médio. É formado por mulheres curdas e fazem parte da etnia que luta pela independência de seu território, que abrange Síria, Turquia, Iraque e Irã.

Alice Braga - FilmMagic - FilmMagic
Atriz fez parte de movimentos como "Time´s Up", que exigia mais direitos para mulheres do cinema
Imagem: FilmMagic

"É incrível a dedicação e a força delas e o quanto elas foram necessárias para várias conquistas dos curdos. Me inspirei especificamente nelas porque é um exército só de mulheres, achei superinteressante para criar a Sol."


"'Me Too' e 'Time´s Up' trouxeram conscientização, mas luta é constante"

Única brasileira que bate cartão em Hollywood atualmente, Alice é também a representante do país nos movimentos "Me Too" e "Time´s Up", criados entre 2017 e 2018 para exigir mais direitos para as mulheres na indústria audiovisual, além de pedir o fim do assédio e de abusos.

"Essa não é uma indústria que vai mudar assim, são anos de uma estrutura. Mas se a gente não falar sobre o problema, isso nunca vai se transformar, nunca vai mudar. Por isso precisamos de mais mulheres em posições de liderança", diz.

Para Alice, os movimentos tiveram impacto suficiente para trazer uma conscientização maior "tanto na frente quanto atrás das câmeras". "Mas é uma luta constante, temos que continuar lutando, como tudo na vida, quando batalhamos por posicionamento. Precisamos seguir."