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Elize namora homem trans e ficou com R$ 900 mil de Matsunaga, diz biógrafo

Camila Brandalise

De Universa

09/07/2021 04h00Atualizada em 09/07/2021 19h23

No documentário "Elize Matsunaga: Era uma Vez um Crime", recém-lançado pela Netflix, a técnica em enfermagem condenada pelo assassinato e esquartejamento do marido, Marcos Matsunaga, aparece chorando ao encontrar seus familiares, se emociona ao dizer que vai implorar perdão à filha e conta que era traída, ofendida e humilhada por Marcos. São falas e cenas que tentam mostrar quem é essa mulher, além de uma criminosa.

Mas é justamente esse crime que resume quem ela é e foi, segundo o jornalista Ullisses Campbell, autor da biografia não autorizada "Elize Matsunaga: a Mulher que Esquartejou o Marido", com previsão de lançamento para agosto, pela editora Matrix. A obra traz laudos de três psicólogos e um psiquiatra credenciados pela Justiça comprovando que ela é psicopata, mostra que o amor pela filha é uma estratégia para comover a opinião pública e que o universo da prostituição está no centro da história com Marcos, de quem ainda herdou R$ 900 mil.

Capa do livro que será lançado em agosto Imagem: Divulgação

Elize, hoje com 39 anos, cumpre pena na penitenciária de Tremembé, no interior de São Paulo, onde estão também Suzane von Richthofen, condenada por ordenar o assassinato dos pais, e Anna Carolina Jatobá, presa pela morte da enteada Isabella Nardoni. Suzane foi a responsável por tomar uma das namoradas de Elize na cadeia: Sandra Regina Gomes, a Sandrão. Hoje, Elize se relaciona com um homem trans de 23 anos condenado a cinco por tentar matar o avô e que cumpre pena na ala feminina porque corre risco de agressões se fosse para a masculina.

Como conta Campbell em entrevista exclusiva a Universa, Elize, ao contrário das outras presas famosas, não causa repulsa entre as colegas por causa do crime que cometeu. Não matou os pais nem uma criança, mas o marido que a traía, o que até alimenta a simpatia das mulheres com quem convive. Tanto que chegou a receber uma salva de palmas delas no dia de sua primeira saidinha, em 10 de outubro de 2019. "Vai Elize, viver a tua vida, tu merece", disse uma.

Elize em uma das saidinhas, acenando para pessoas que gritavam seu nome Imagem: Ullisses Campbell/Divulgação

Leia abaixo trechos da conversa com o autor.


"Elize achava que encontraria o amor de sua vida na prostituição"

Campbell diz ter percebido que o universo da prostituição permeia toda a história de Elize e, posteriormente, seu casamento com Marcos. Por isso, escavou o passado dela desde os primeiros programas com caminhoneiros, aos 15 anos, após ser expulsa de sua casa em Chopinzinho (PR).

"Ela foi estuprada pelo padrasto e contou à mãe, que foi tirar satisfação com o marido. Ele disse que fez isso porque Elize o seduziu. Então ela manda a menina embora", conta o autor. Depois, Elize vai morar com a avó e, aos 18 anos, se muda para Curitiba, onde tem uma "mentora" que a introduz no mundo da prostituição de luxo.

"Entrevistei essa mulher, que hoje é dona de um posto de gasolina. Ela me contou que Elize se apaixonava pelos clientes, tinha uma carência muito grande, e achava que encontraria o amor da sua vida. Ela lhe dava conselhos: não se apaixone por cliente, ele vai dizer que te ama, mas sempre vai te ver como prostituta", diz. Elize não dava ouvidos e se deixava levar pelos sentimentos: todos os namorados que teve já foram clientes, entre eles um narcotraficante e um deputado estadual.

O livro é entremeado por histórias de garotas de programa — o autor entrevistou 80, sendo que 15 dessas histórias estão no livro — para falar sobre a vida dessas mulheres, os traumas psicológicos que carregam e a maneira como desenvolvem a sua sexualidade. De certa maneira, esses temas também fazem parte da narrativa sobre Elize.

"Marcos só namorava prostitutas e participava de fórum dando notas a elas"

Ao se casar com Marcos, Elize conseguiu provar que sua mentora estava errada. Uma grande festa de casamento, seguida de uma vida de luxos e excentricidades marcaram a história do casal. Um dos programas favoritos deles era a prática de caça. A sala da casa era repleta de bustos de animais, que eles capturaram, empalhados. Colecionavam armas e tinham uma cobra em casa, que alimentavam com bichos vivos.

O casal tinha coleção de armas, que eram usadas em caças Imagem: Netflix/Divulgação

Mas ele a tratava, ainda, como prostituta. E não admitia que ela se recusasse a ter relações sexuais. "Marcos era viciado em sexo. Se uma noite qualquer ele queria transar mas ela não estava disposta, ele dizia: 'mas e quando você era prostituta e não podia negar?'. Ela respondia que agora era diferente, pois era mulher dele. Mas ele insistia."

Foi quando ela engravidou, e passou a dizer que não queria transar por causa da gestação, que ele começou a traí-la, sempre com prostitutas. Ele havia namorado três garotas de programa antes de Elize e era só assim que conseguia se relacionar com mulher. "Marcos também era portador de uma síndrome chamada timidez amorosa, que causa ansiedade crônica e excesso de acanhamento na hora de se aproximar de alguém. Isso mais o impulso sexual o levava ao vício na prostituição."

Em um dos programas, conheceu a mulher que seria sua amante, e agiu com ela como havia agido com Elize: perguntou quanto queria para deixar de fazer programas, ofereceu R$ 27 mil e um carro e começaram a namorar. Ele havia feito uma espécie de resenha sobre a mulher em um fórum online, onde homens davam notas para prostitutas. "É o tipo de mulher para levar em uma reunião, os caras vão babar na frente das esposas", escreveu.

Elize já vinha sofrendo humilhações do marido, que relembrava seu passado e ameaçava tirar-lhe a guarda da filha. Em uma dessas brigas, revela saber que ele a traía. "Ele começa a ofendê-la mais. Diz que nenhum juiz daria a guarda de uma criança para uma prostituta, que ela ainda era uma e que o casamento é um programa sem fim. Ela vai se desequilibrando psicologicamente, pega a arma e atira nele."

Na prisão, pesadelos com o corpo sem braço e namoro com homem trans

No presídio de Tremembé, Elize recebe pouquíssimas visitas, entre elas a da tia Roseli de Araújo Camarotto, que ainda mora no Paraná. As assistentes sociais que foram entrevistadas para o livro dizem que a detenta costuma se queixar de pesadelos com o corpo de Marcos. "Ela contou que sonha com ele, sem o braço, correndo atrás dela, que é atormentada pelos bichos que eles matavam e até pela cobra que eles tinham", conta Campbell.

Depois de ter namorado mulheres na penitenciária, começou a se envolver com um homem trans antes do Natal de 2020, que cumpria pena na ala feminina porque corria risco de agressões se fosse para a masculina. Tiago Cheregatte Neves tem 23 anos e chamava a atenção entre as mulheres por ficar mais bonito à medida que a readequação de gênero avançava, conta o livro. Ele cumpre pena de cinco anos de prisão após tentar matar o avô porque a vítima reclamava constantemente do jovem, que não ajudava nos afazeres domésticos.

"Mesmo após matar marido, Elize ficou com R$ 900 mil"

Para a família de Marcos Matsunaga, o crime não foi uma resposta às ofensas que ele proferia constantemente e que traziam à tona um passado que Elize queria esquecer. Eles afirmam que ela queria dinheiro. "E mesmo tendo assassinado o marido, não saiu do casamento de mãos abanando. Ainda ficou com R$ 900 mil de uma adega milionária que os dois tinham", explica Campbell.

Num primeiro momento, Campell usou a palavra "herança". Mas após a publicação da matéria, se retificou. Ela foi deserdada, e o livro explica isso. Os R$ 900 mil citados não são herança, mas parte de um bem que estava no nome dela e de Marcos Matsunaga. Eles eram casados em regime da comunhão parcial de bens, ou seja, ela tinha direito de ficar com metade do patrimônio adquirido durante o casamento.

Quem herdou o resto da fortuna milionária de Marcos foi a filha do casal, hoje com dez anos e criada pelos avós paternos. "Ela descobriu aos sete que a mãe tinha matado o pai porque um coleguinha contou na escola. Começou a fazer terapia e soube tudo que tinha acontecido", diz.

Agora, a família briga na Justiça para tirar o nome de Elize da certidão de nascimento da menina. "Se ela matou ele por dinheiro, a criança, que herdou tudo, passa a ser um alvo também."

Segundo o autor, laudos de especialistas mostram também que o amor que Elize diz sentir pela filha pode ser visto como uma maneira de comover as pessoas. "As análises dizem que a mulher psicopata se aproxima das crianças para chamar atenção dos adultos. O que concluí depois das pesquisas que Elize viu sua vida vazia depois do crime, então, para manter uma narrativa, vive em função de reencontrar a filha", opina Campbell.

"Frieza em esquartejamento leva crime a outro patamar"

Uma das maiores revoltas que a família Matsunaga guarda em relação a Elize, além de ter matado Marcos, foi ter fingido por dias que não sabia o que tinha acontecido quando ele desapareceu. "Ela manteve-se calma, enviou e-mails se passando pela vítima, consolou os pais dele, foi ao shopping fazer compras", relembra o autor.

Segundo análises psicológicas feitas por especialistas, Elize não mostra arrependimento em ter dado um tiro na cabeça de Marcos, mas sim de ter desmembrado seu corpo, em uma ação que levou seis horas e que surpreendeu peritos pela precisão dos cortes. "Ela esquartejou o marido usando a mesma técnica que aplicava nos animais que eles abatiam nas caças", explica Campbell.

O autor conta que Elize chegou a escrever uma carta para Misako Matsunaga, mãe de Marcos, suplicando misericórdia. Mas ela ficou tão chocada com a audácia da ex-nora que rasgou o papel em pedaços, revoltada com a tentativa de comunicação da assassina confessa do próprio filho.

Defesa de Elize refuta informações

O advogado de defesa de Elize Matsunaga, Luciano Santoro, procurou a reportagem para rebater as informações coletadas pelo jornalista Ullissess Campbell. Em nota, o advogado nega as informações contidas no livro.

Afirma que "Elize foi deserdada e não recebeu absolutamente nada de Marcos Matsunaga". Diz também que "é a bobagem de acharem que matou seu marido por dinheiro, o que foi provado por mim no Júri que não foi".

Sobre o namoro na prisão narrado por Campbell, diz que "não haveria qualquer problema se fosse verdadeiro o fato, mas não é". Afirma que a informação coloca "em risco a integridade física dela, porque mora com outras 80 reeducandas em um único galpão na penitenciária feminina, sendo que o Tiago é namorado de outra presa".

Por último, rechaça a afirmação de que Elize é psicopata. "Há laudos oficiais (judiciais) que atestam o contrário (e reafirmo aqui que Elize não é psicopata)", e diz que os laudos que dizem que ela é foram pagos pela família Matsunaga.

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