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CPI da Covid: Simone Tebet diz que convenceu Luis Miranda "pelo emocional"

A senadora Simone Tebet, durante sessão da CPI da Covid - Pedro França/Agência Senado
A senadora Simone Tebet, durante sessão da CPI da Covid Imagem: Pedro França/Agência Senado

Isabella Marinelli

De Universa

27/06/2021 17h28

Na última sexta-feira (25), o deputado Luis Miranda (DEM-DF) narrou uma conversa que diz ter tido com o presidente Jair Bolsonaro no momento em que foi entregar a denúncia sobre possível corrupção no governo, relacionada ao contrato da compra da vacina Covaxin, produzida pelo laboratório indiano Bharat Biotech. Segundo o parlamentar, o presidente teria dito: "É mais um rolo desse... Você sabe quem", mas Miranda afirmava não se lembrar do nome citado.

Ele foi pressionado por vários dos integrantes da comissão, incluindo o senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE), que chegou a dizer que ele não era corajoso como o irmão — o servidor público Luis Ricardo Miranda, que trabalha no Ministério da Saúde e foi quem inicialmente denunciou as supostas irregularidades.

Na sequência, depois de horas de depoimento, quem assumiu a condução foi a senadora Simone Tebet (MDB-MS), líder da bancada feminina no Senado. Na abordagem, a parlamentar argumentou que a opinião pública ficaria ao lado dele e que ele não precisaria temer retaliações do Conselho de Ética da Câmara dos Deputados. O deputado Luis Miranda, então, entregou. "A senhora também sabe que é o Ricardo Barros que o senhor presidente falou. Foi o Ricardo Barros", declarou Miranda, revelando o nome do líder do governo no Congresso.

"Foi um misto de emoção dele e minha. Era preciso que um deputado bolsonarista pudesse anunciar aquela informação. Havia um desejo dele de citar toda a verdade. Sabia que, após o tom enfático do senador Alessandro Vieira, faria diferença tocar o lado emocional", afirma a Universa. A seguir, conta detalhes do episódio e comenta sobre a participação da bancada feminina na CPI.

UNIVERSA: Nenhuma senadora compõe a CPI, apesar do direito de participação da bancada feminina, e a senhora teve papel importante para o desfecho do depoimento do deputado Luis Miranda (DEM-DF). Acredita que isso deixa algum recado sobre participação feminina nesses espaços e a necessidade de mecanismos para barrar a violência política de gênero?

SIMONE TEBET: A Bancada Feminina do Senado tem dado uma grande contribuição na CPI da Covid — e falo de todas as senadoras. Quando percebemos que não teríamos nenhuma cadeira de titular ou suplente no colegiado, partimos para a luta e conseguimos garantir o nosso direito à voz.

O timbre feminino tem de ser ouvido. Temos demonstrado com resultados o quanto podemos agregar não apenas na situação específica da CPI, mas em todos os espaços da vida pública

Já a violência política é muito mais frequente do que se imagina. Muitas vezes, nas entrelinhas, ela ocorre por meio do assédio moral, do preconceito, do machismo, chegando até às ameaças. Já é difícil para a mulher romper a barreira eleitoral. Quando chegamos às esferas de poder, percebemos que, muitas vezes, temos de chutar a porta para garantir o nosso protagonismo, para conquistar postos de comando e até relatorias de matérias importantes. Estamos analisando um projeto de lei (PL) no Senado que trata justamente deste assunto. Ele estabelece normas para prevenir, sancionar e combater a violência política contra a mulher. Vamos solicitar a inclusão dele na pauta.

A senhora iniciou as perguntas depois de uma série de questionamentos incisivos do senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE). Foi uma alternância estratégica? O que veio antes te ajudou?
Foi o resultado do trabalho em conjunto. O deputado Luis Miranda já vinha há horas sendo questionado. Todos nós "batemos bola" e eu fiquei "na cara do gol". O senador Alessandro foi enfático, duro. Eu acabei tocando mais pelo lado emocional. Ao final acabou dando certo e o Brasil ganhou. O que queremos é a verdade. O próximo passo é interpelar o líder do governo na Câmara, deputado Ricardo Barros, e levantar documentos e informações.

Acredita que algo específico do que disse foi responsável por convencer o deputado Luis Miranda (DEM-DF) a citar o nome do líder do governo Ricardo Barros (PP-PR) durante o depoimento?
Foi um misto de emoção dele e minha. Era preciso que um deputado bolsonarista pudesse anunciar aquela informação. Havia um desejo dele de citar toda a verdade. Pedi para o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) para sentar mais perto quando fosse interpelar o deputado.

Sabia que, após o tom enfático do senador Alessandro Vieira, faria diferença tocar o lado emocional dele

De que forma um maior número de mulheres presentes poderia contribuir na condução da CPI da Covid?
Homens e mulheres são diferentes e se complementam. Somos 52% da população e queremos ampliar a representatividade feminina na política. Ainda somos muito poucas. Temos conseguido bons resultados na CPI. Fazemos um rodízio entre as parlamentares da bancada para garantir, ao menos, a participação de duas senadoras em cada reunião. O certo é que mulheres têm muito a contribuir em qualquer esfera, seja na política, na educação, nas ciências, no mercado de trabalho em geral.

A repórter Camila Brandalise, de Universa, entrevistou a senhora em janeiro deste ano e questionou o que faria com os pedidos de processo de impeachment do presidente Jair Bolsonaro, caso estivesse no lugar de Rodrigo Maia na presidência da Câmara dos Deputados. Na ocasião, a senadora respondeu que "não era hora de trazer problemas ao Brasil". Ainda acredita nisso?
Temos visto crescer a insatisfação da população com o governo e o movimento pró-impeachment. O ambiente realmente mudou, mas ainda não sabemos, porque estamos no meio da pandemia, qual serão as repercussões da CPI assim que as pessoas puderem voltar às ruas sem o medo da contaminação, ou seja, quando pelo menos 70% da população adulta estiver imunizada. O impeachment depende, obviamente, de manifestação e vontade popular e o Congresso Nacional terá de responder essa questão mês a mês, enquanto perdurar a pandemia.