"Precisei retirar meu útero antes dos 40 anos por sangramento excessivo"
"Sigo a cantora Simone, da dupla com Simaria, nas redes sociais e, quando percebi que ela estava se queixando de sangramento excessivo após a chegada do segundo filho, minha vontade era de entrar em contato e dizer: 'sei bem pelo que você está passando'.
Se existe dor nas relações sexuais e um fluxo de menstruação bastante intenso, é preciso investigar, porque pode ser adenomiose, uma doença que causa exatamente esses sintomas. Não deu outra: algum tempo depois, aos 37 anos, ela anunciou que faria uma cirurgia para a retirada do órgão em razão do problema — e imediatamente me lembrei do que vivi no ano passado, quando fiz a mesma cirurgia, aos 36 anos.
Nossa história é bem parecida: assim como a cantora, demorei alguns meses para entender do que se tratava.
Mesmo eu sendo formada em enfermagem obstétrica e trabalhando como sexóloga, confesso que não quis admitir que estava passando por um problema após o nascimento do meu terceiro bebê
Logo que diminuí o espaçamento entre as mamadas, quando minha caçula estava com 6 meses, minha menstruação voltou a descer. Ela sempre durou exatamente sete dias, mas o fluxo começava a diminuir a partir do terceiro. Após essa última gravidez, no entanto, ele aumentou consideravelmente e veio acompanhado de muita dor.
No início achei que era algo normal, um pensamento típico da mulher que acha que precisa dar conta de tudo. O cenário mudou quando o sangramento e as dores começaram a interferir na minha qualidade de vida. Não conseguia ir para a academia, ter relações sexuais com meu marido e cheguei a lavar o banco do carro três vezes, porque o volume de sangue era tão intenso que nem o maior dos absorventes dava conta de segurar
Quando procurei um médico, descobri também que estava com anemia. Foi então que recebi o diagnóstico da adenomiose e recebi duas opções de tratamento: fazer uso de anticoncepcionais para tentar conter o problema ou passar por uma histerectomia parcial, ou seja, uma cirurgia a fim de retirar somente o útero.
"Sabia que decisão de retirar o útero era conjunta"
Estou com meu marido há 22 anos: ele foi meu primeiro namorado e temos uma história linda juntos. Temos o hábito de dialogar qualquer que seja a decisão e dessa vez não foi diferente. Sabia que, ainda que fosse uma questão sobre o meu próprio corpo, as consequências nos afetariam como casal, por isso a escolha deveria ser tomada de maneira conjunta.
Felizmente, não tivemos complicações para decidir. Poucos meses atrás, ele havia feito uma vasectomia e, após a chegada da nossa última filha, não desejávamos mais uma criança. Então entrei em contato com a equipe e agendei o dia da cirurgia
Acredito que por eu ser da área da saúde e já ter tido contato com muitas doenças, não tive tantos problemas em aceitar que este era o melhor caminho. Mas sei que, se eu fosse mais nova e ainda tivesse o desejo de engravidar, isso com certeza teria implicações mais profundas.
"Passei 20 dias sem pegar meus filhos no colo"
A operação foi realizada por uma técnica menos invasiva, chamada laparoscopia, por isso levei poucos pontos e tive uma recuperação bastante tranquila. Ainda assim, passei 20 dias sem pegar meus filhos no colo, o que foi a parte mais difícil para mim.
Como trabalho com produção de conteúdo nas redes sociais, decidi dividir essa experiência com mais mulheres e me surpreendi com o quanto o problema é comum. Como eu, muitas acreditam ser algo normal e nem chegam a comentar com seus médicos sobre o que estão passando.
Uma vez, chegaram a me perguntar se eu não me sentia 'mutilada' por causa da retirada do órgão, mas só o que eu consegui responder foi que não. O ser humano se adapta e, se era algo que afetava a minha qualidade de vida, minha saúde física e psicológica, não havia porque continuar estendendo o sofrimento. Hoje, com meus três filhos e com o fôlego em dia para cuidar deles, tenho certeza de que foi a melhor das decisões". * Gabriela Dias tem 37 anos, é enfermeira pós-graduada em obstetrícia e em sexologia. Trabalha como consultora materna e produtora de conteúdo sobre maternidade e relacionamentos.
Adenomiose: sintomas, causas e tratamento
O ginecologista Marcos Moura explica que a adenomiose acontece quando o endométrio (camada do útero que descama durante a menstruação) invade a musculatura do órgão, gerando uma irregularidade na região. "A condição provoca cólica, ciclo menstrual fora do padrão e dificuldade para engravidar", aponta.
Os motivos para o desenvolvimento do problema ainda são desconhecidos, mas sabe-se que fatores hereditários podem contribuir. "Normalmente, o tratamento é feito através de anticoncepcionais, que inibem o nível de estrogênio no organismo. Também é possível utilizar medicações que bloqueiam a hipófise e atuam nesse mesmo sentido", diz.
No entanto, caso não seja suficiente ou a mulher prefira outro tratamento, é possível optar pela cirurgia de retirada do útero.
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