Topo

Retratos

Instantâneos de realidade do Brasil e do mundo


"São meus 15 segundos de fama", diz locutora de aviso da CPI da Covid

Marluci Ribeiro, a dona da voz dos "15 segundos" da CPI da Covid - Arquivo pessoal
Marluci Ribeiro, a dona da voz dos "15 segundos" da CPI da Covid Imagem: Arquivo pessoal

Nathália Geraldo

De Universa

26/05/2021 04h00

As figuras políticas e o tom dos depoimentos na CPI da Covid, instaurada há um mês para apurar ações e omissões da gestão Bolsonaro durante a pandemia do coronavírus, mudam com frequência. O que não muda é o marcador de tempo que indica o quanto falta para cada senador fazer perguntas a quem está depondo: "15 segundos".

O aviso sonoro — que, spoiler, sequer foi gravado especialmente para a Comissão — virou meme. E a dona da voz, a locutora Marluci Ribeiro de Oliveira, falou para Universa sobre a sensação inexplicável de, com uma pequena participação, ter virado sensação nas redes sociais: "Meus amigos falam que são meus 15 segundos de fama".

"15 segundos": a locutora do Senado por trás do aviso sonoro

Marluci Ribeiro é uma carioca que mora em Brasília, por conta do trabalho como locutora da Rádio Senado, onde trabalha concursada há 11 anos. Apaixonada por rádio, entrou na locução em 2003, ao fazer um curso pela entidade Fundação Rede Amazônica, em Manaus, quando a família morava lá por conta de uma mudança de trabalho do marido.

Rádio era um sonho antigo. Ouvia Haroldo de Andrade, Valdir Pereira e a Voz do Brasil sempre com minha mãe. Minha brincadeira de criança era pegar um pedaço de mangueira no jardim e apresentar programas sozinha.

Cultura, eleições e o impeachment de Dilma

marluci ribeiro - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Há 11 anos na rádio pública, locutora informa sobre eventos da política brasileira e apresenta programas culturais
Imagem: Arquivo pessoal

Na rádio pública, Marluci apresenta programas culturais, faz cobertura de sessões na Plenária, atua como mestre de cerimônias de eventos no Senado. E também grava avisos e outros produtos que a área de comunicação da Casa precise. Aí entram os 15 segundos.

"O anúncio foi gravado em abril do ano passado, quando já estávamos nos preparando para as sessões remotas. Como não teria a campainha de praxe para os senadores, era preciso uma sinalização. E, no começo, achei que iriam me detestar. Ouvia minha própria voz e pensava: 'Nossa, que repetitiva'. Mas achei divertido quando me passaram que tinha virado meme no Twitter", conta a locutora.

Quando não é objeto de curiosidade, a voz de Marluci desperta a empatia dos brasileiros que acompanham a CPI e se preocupam com o respeito por vezes em falta ao comando da locutora:

Além do sucesso com o breve texto na CPI, Marluci, claro, conta que coleciona a cobertura de momentos históricos da política brasileira.

"Cobri o impeachment de Dilma Rousseff e gosto de trabalhar quando há votações, como do Orçamento, vetos presidenciais. São coisas com muito interesse envolvido. Além disso, sempre que posso me ofereço para trabalhar nas eleições. As últimas também foram transmitidas pelo YouTube do Senado, tem comentarista ao vivo... Adoro a adrenalina".

Nessas oportunidades, diz, se vale das informações para aumentar o repertório sobre as decisões tomadas pelos políticos que impactam na vida da população. "Aprendo sobre muitos assuntos que eu ignorava."

Marluci ainda faz a locução de eventos (agora, suspensos por conta da pandemia) presenciais e apresenta e produz programas musicais na Rádio Senado. "Tenho um quadro em que leio poemas de pelo menos três autores e, no final, tocamos uma música cuja letra tem a ver com as poesias."

CPI e dupla jornada

Marluci está trabalhando home office, com softwares de gravação da voz instalados em seu próprio celular. "Às vezes, passa um avião, um passarinho começa a cantar, a campainha toca. Mas, estamos conseguindo manter o padrão dos áudios", comenta.

A locutora conta que acompanha a CPI pela TV Senado, sim, mas não tanto como gostaria por encarar o acúmulo de obrigações em casa. "Tenho que conciliar com as tarefas domésticas e as demandas da rádio. Aliás, não vejo discriminação de gênero na área da locução, mas, agora, estou como muitas outras trabalhadoras em função remota: às vezes, tem que desligar o forno, suspender uma faxina para fazer algo; até porque rádio é tempo e, quando chega um pedido, é necessário gravar imediatamente."