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Jornalista investigativa Andrea Dip estreia coluna em Universa

A jornalista Andrea Dip passa a escrever para Universa sobre direitos da mulher, política e fundamentalismo religioso - Arquivo pessoal/José Cícero da Silva
A jornalista Andrea Dip passa a escrever para Universa sobre direitos da mulher, política e fundamentalismo religioso Imagem: Arquivo pessoal/José Cícero da Silva

De Universa

21/05/2021 04h00

Direitos da mulher, da população LGBTQIA+, política e fundamentalismo religioso — esses são os temas que guiaram duas décadas de carreira da jornalista investigativa Andrea Dip e sobre os quais ela pretende falar em sua coluna semanal, que estreia nesta sexta (21), em Universa. "Esses assuntos não estão separados, pelo contrário, estão muito conectados, especialmente neste momento de perda de direitos no Brasil", diz.

Desde os 19 anos trabalhando na cobertura de direitos humanos, Andrea afirma que este é o período mais desafiador que já viveu como jornalista: "Tenho 39 anos e a minha geração nunca viu uma situação mais crítica. Por conta da pandemia, da maneira como o atual governo conduz essa crise e do fundamentalismo religioso que ameaça os direitos das mulheres e de outros grupos vulneráveis".

Diretora da Agência Pública de Jornalismo Investigativo, onde também atua como editora e repórter, Dip já recebeu 13 prêmios de jornalismo em Direitos Humanos, é autora do livro-reportagem "Em Nome de Quem? A Bancada Evangélica e Seu Projeto de Poder" (ed. Civilização Brasileira). E, em 2014, produziu ao lado do quadrinista Alexandre de Maio a primeira reportagem em quadrinhos feita no Brasil: "Meninas em jogo", que revela a teia da exploração sexual de meninas no Ceará durante a Copa do Mundo. Hoje, Dip também apresenta o podcast Pauta Pública.

"Eu sou leitora de Universa há algum tempo, acompanho principalmente as colunistas. E o UOL é parceiro da Pública, então sempre tivemos uma relação estreita", conta. "A ideia para a minha coluna é falar sobre temas que eu já pesquiso, como direitos humanos, política e fundamentalismo religioso, mas principalmente sobre como esses temas afetam a vida das mulheres."

Leia a coluna de estreia de Andrea Dip: Exploração sexual infantil: Até quando Damares vai agir como a tia do Zap?

Trabalho com direitos humanos a aproximou do feminismo

Dip lembra que foi trabalhando que começou a se aproximar de discussões como direitos da mulher: "Percebi que, em todas as reportagens que eu fazia sobre grupos em situação de vulnerabilidade, encontrava mulheres muito fortes, que foram capazes de transformar sua dor em luta, e isso me chamou atenção".

Fossem mães que perderam seus filhos para a violência policial e se organizaram para denunciar esses crimes, fossem indígenas que lutavam pelo direito à terra, encontrei mulheres muito fortes e isso me aproximou do feminismo.

"Entendi que todas as lutas são ou deveriam ser atravessadas pelo feminismo. E que o feminismo também deve ser discutido ao lado de questões de raça e classe", diz.

Andrea Dip entrevistando a ex-presidente Dilma Rouseff, em 2016, para a Agência Pública de Jornalismo Investigativo - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Andrea Dip entrevistando a ex-presidente Dilma Rouseff, em 2016, para a Agência Pública de Jornalismo Investigativo
Imagem: Arquivo pessoal

A jornalista conta que os momentos mais gratificantes da profissão são aqueles em que percebe que uma denúncia feita em uma de suas reportagens transformou a vida de uma mulher, de um grupo ou de uma região — o caso mais recente, ela lembra, foi a reportagem feita por ela e uma equipe de repórteres da Agência Pública que denunciou uma série de crimes sexuais envolvendo Samuel Klein, o fundador das Casas Bahia.

"Nosso trabalho jogou luz sobre um caso que foi encoberto por anos, porque envolvia pessoas muito poderosas. A denúncia teve diversos desdobramentos: ações judiciais, vereadoras pedindo que ruas que levavam o nome desses homens fossem rebatizadas e a própria família, inclusive, que decidiu fechar o Instituto Samuel Klein."

Outro desdobramento, ela cita, é a investigação feita por Universa sobre os escândalos envolvendo Saul Klein, filho de Samuel: "São histórias que caminham juntas e precisam vir à tona".

Banda punk feminista ajuda a "gritar" contra ameaças

A nova colunista de Universa conta que já recebeu diversos ataques, teve que trocar de celular algumas vezes e foi inclusive ameaçada de morte: "Essas coisas acontecem com quem faz jornalismo investigativo no Brasil, principalmente com mulheres".

"Desde a ditadura, a gente nunca viveu um período de tantas ameaças ao trabalho da imprensa — ameaças que são legitimadas pelo governo federal ou que partem do próprio presidente e de seus filhos."

Uma das formas que Dip encontrou de aliviar a pressão das ameaças e do trabalho com temas que tratam de violência contra a mulher, por exemplo, é cantar — ou gritar, como prefere dizer. Ela é vocalista da banda punk feminista Charlotte Matou Um Cara.

"Acho que a banda é o meu momento de grito", brinca. "Não é fácil lidar com esses temas e, enquanto jornalista, ser responsável, transmitir a informação e ainda receber ameaças. Com a Charlotte vivo esse momento de grito, literalmente, ao lado de outras mulheres."