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Sem libido no isolamento? Especialistas dão dicas para melhorar vida sexual

Casal frustrado na cama; casal sem sexo; homem e mulher - Westend61/Getty Images/
Casal frustrado na cama; casal sem sexo; homem e mulher Imagem: Westend61/Getty Images/

Rafalea Polo

Colaboração para Universa

17/05/2021 04h00

Tente buscar na memória como era sua vida em um período pré-pandêmico: acordar cedo, sair para trabalhar, ficar horas no trânsito, sair do trabalho, pegar mais horas de trânsito (ou transporte público lotado), chegar em casa e descansar. E no meio desse corre e corre, o sexo muitas vezes ficava em segundo plano ou para o final de semana. Bem, então agora que estamos o tempo todo dentro de casa a quantidade de relações sexuais deve ter aumentado, certo?

Errado! As sensações que a pandemia nos causa — de medo, insegurança e tensão — têm relação direta com nosso tesão e está fazendo muita gente esquecer que negócio é esse de transar. Se sua libido desapareceu no último ano, saiba que está longe de ser a única a se sentir assim.

Uma pesquisa chamada "Emoções em Quarentena", feita pela Wonderboom em parceria com a Huma Pesquisa e a Mar, em abril de 2020, bem no começo do período de isolamento, descobriu que 50% dos mais de 10 mil entrevistados de todas as regiões do Brasil não fizeram sexo quando passaram a ficar mais tempo em casa. Entre as pessoas que transaram, 22% admitiram que a quantidade diminuiu. E não foi apenas o prazer a dois que sofreu impacto: 30% afirmaram que seus hábitos de masturbação também caíram.

Notícias ruins e aumento da convivência afetam libido

"Tensão e cansaço não combinam com tesão. Toda vez que estamos preocupadas a libido é deslocada, não conseguimos relaxar e nos permitir. Nesse cenário, nos desconectamos das sensações boas e ficamos pensando só naquilo que nos aflige", diz a psicanalista e sexóloga Lelah Monteiro.

O constante medo de nos contaminarmos e perder alguém querido afeta, sim, a vontade de transar, mas o excesso de convivência também não ajuda. Ele é mais um vilão que nossos orgasmos estão enfrentando. "A principal reclamação que escuto ultimamente é o aumento de convivência do casal. Algo que só acontecia à noite ou aos finais de semana tornou-se disponível o tempo todo. Ao mesmo tempo que parece bom, já que podemos ficar mais tempo com o parceiro, gera mais conflitos. Invade-se o espaço do outro e aumenta-se os conflitos por coisas que antes passavam batido. Isso interfere na libido", diz a ginecologista e obstetra Evelyn Prete. Nesse cenário, lá se vai o encantamento e o espaço para o desejo.

"O relacionamento efetivo precisa de um pouco de manutenção da fantasia. Com a convivência ininterrupta isso acaba desconstruindo. A casa virou home office e o estresse do escritório fica dentro de casa. Com isso, nos deparamos com características que não gostamos tanto, que nos incomodam no outro. Além da pessoa não se vestir mais e nem apostar em lingeries sexys. Está acontecendo muito", diz a psicóloga e especialista em relacionamento Rafaela Fernandes. E aqui, vale lembrar: lingerie também inclui cuecas.

Quando vocês se dão conta, estão brigando por assuntos que sequer prestavam atenção antes e descontando todo o nervosismo do dia a dia um no outro. "Para a mulher, 70% da saúde sexual depende da saúde mental. Tendo em vista o conflito interno, o medo da doença e o desafio do trabalho online, a libido é muito afetada", diz Evelyn.

O Instituto do Casal fez um levantamento dos principais motivos que levam os casais a brigarem em tempos de isolamento. Para 33% dos entrevistados, o problema é o uso do celular (motivo que ocupava o terceiro lugar no ranking em 2018), em segundo lugar temos a divisão das tarefas domésticas, com 32%, e em terceiro a grande quantidade de críticas, com 31% das respostas. "O aumento de briga também acaba gerando a queda da libido. Convivendo mais, os casais acabam brigando por coisas pequenas que antes eram irrelevantes. E, logicamente, param de se estimular e procurar um outro", explica Rafaela.

Dicas práticas para recuperar o desejo

O cenário não é o dos melhores, mas tem, sim, solução. O primeiro passo é não se cobrar nem se sentir deslocada com seus sentimentos. Respire fundo e vamos lá: o primeiro passo é tentar se afastar um pouco de todo esse excesso de informação que está nos fazendo tão mal. "Não dá para se alienar, mas dá para filtrar um pouco do que está vendo sobre o mundo e sua região, para não somatizar e nem levar para o corpo", diz Lelah.

Tente retomar alguns hábitos saudáveis que você tinha antes de precisar ficar longos períodos trancada dentro de casa, como caminhar ao ar livre, fazer exercícios em casa, meditar, comer e até dormir melhor - as duas últimas atividades também foram muito impactadas pelo isolamento.

"Vale muito assistir um filme mais picante juntos. Não precisa ser necessariamente um pornô, mas algo que possa ser estimulante. Mesmo trabalhando no mesmo ambiente, apostem em mandar fotos em meio do expediente com uma mensagem como: 'Vamos ter um momento juntos mais tarde? O que você quer de diferente hoje?' em busca de despertar esse encantamento", explica Rafaela.

Ter manobras na manga para aumentar o tesão se tornará cada vez mais importante. Afinal, quantas empresas afirmam que vão adotar o home office permanente ou um modelo híbrido quando a pandemia acabar? É bom estarmos preparados para manter a vida sexual ativa em uma nova realidade.

Se a falta de ânimo está atrapalhando suas ideias, existem lugares que podem aflorar a sua imaginação, como os livros, por exemplo. "Leia um pouco de contos eróticos, eles são muito interessantes", diz Lelah. Autoras de livros eróticos Nana Pauvolih, Vi Keeland, Kristen Proby e Christina Lauren têm livros com cenas bem picantes que podem atiçar sua imaginação e também pode ajudar a mudar sua vida sexual. "Tirem a parte de baixo do pijama, durmam um pouco mais desnudos, rocem os corpos um no outro?", completa a especialista.

Só é importante ter algo em mente: a recuperação da libido toma tempo e não necessariamente quer dizer que você está doente. "Vai ter uma minoria com descontrole hormonal, que têm histórico de medicações orais, como pílulas e antidepressivos, que alteram a libido, mas que antes da pandemia não tinham esse problema. A grande maioria não", diz Evelyn. A médica ainda destaca que o tratamento é a longo prazo: não tem uma pílula mágica que você possa engolir e que o desejo sexual volte a explodir. "A solução é a longo prazo. Tratamento sexuais são complexos e demandam tempo. A paciente precisa da aderência e o casal da disponibilidade de solucionar o problema", completa Evelyn.

Paciência, calma (quando possível) e criatividade. Esse combo pode ajudar a salvar sua vida sexual.