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Com time feminino, ela faz reformas em tempo recorde e tem fila de clientes

"Minha Casa Transborda" começou como perfil no Instagram e se transformou em empresa - Acervo pessoal
"Minha Casa Transborda" começou como perfil no Instagram e se transformou em empresa Imagem: Acervo pessoal

Roseane Santos

04/05/2021 04h00

A carioca Camila Mendes de Souza, 31 anos, já tinha 10 anos de carreira como professora quando começou a questionar o sistema tradicional de ensino. As angústias se encontraram com momentos conturbados na vida pessoal — primeiro, um divórcio e uma mudança de casa, seguidos de um novo casamento com mais uma alteração de CEP. As transformações internas e externas levaram à criação de uma conta no Instagram chamada "Minha Casa Transborda" a fim de compartilhar dicas de decoração.

O que começou como um perfil puramente aspiracional logo se transformou em negócio. "Percebi que a conta crescia quando eu compartilhava as minhas decorações no meu apartamento", conta. Camila percebeu que, além de aumentar a frequência das postagens, também havia mercado para oferecer o mesmo tipo de serviço às pessoas. Largou as salas de aula e focou na carreira de decoradora com um curso na área. De janeiro até abril deste ano, já fatura 10 mil reais por mês e tem fila de espera de clientes. "Entendi que poderia viver do meu sonho", conta a Universa.

Camila Mendes - Acervo pessoal - Acervo pessoal
Camila Mendes de Souza: de professora a decoradora em tempo integral na pandemia
Imagem: Acervo pessoal

Uma crise pessoal que virou oportunidade

Camila Mendes de Souza já era professora há dez anos quando passou pelo divórcio. A grande mudança de vida somada à insatisfação com a carreira até então mexeram com a vida profissional da carioca nascida em Niterói, no Rio de Janeiro. "Desde 2008, era professora no ensino médio. Sempre fui muito apaixonada pela sala de aula, mas andava desapontada com as crises do sistema de ensino", conta.

Era 2018 e ela precisava mudar de casa para recomeçar. "Ao alugar um apartamento, me senti diante de uma página em branco. Poderia, finalmente, arrumar tudo do meu jeito. Já tinha aptidão em furar parede, decorar. Sempre fui uma pessoa muito criativa", relata.

Ela já havia começado a exercitar o lado inventivo quando, em 2019, se casou novamente. Empenhada na nova mudança de endereço, criou uma conta no Instagram para partilhar fotos de decoração e conteúdo relacionado ao assunto. Assim nasceu a conta "Minha Casa Transborda" (@minhacasatransborda). A conta ficou abandonada até que ela encontrou um propósito para alimentá-la.

"Depois de uma reflexão muito profunda, pensei em criar algo que pudesse apoiar as mulheres da mesma forma que fui apoiada quando eu me separei. Queria ajudá-las a ter autonomia nas questões domésticas por meio do perfil no Instagram. Comecei a ensinar a furar parede, a pintar, a usar produtos baratos para decorar. Na época, também abri o meu espaço para mulheres divulgarem os seus trabalhos e fiz lives com especialistas. Tudo isso priorizando e valorizando o trabalho da mulher negra", relembra.

Em 2020, em meio a pandemia, ela percebeu que a cada cômodo da casa que decorava e postava o "antes e depois", o perfil enchia de likes e chegavam novos seguidores. Foi quando teve o estalo de que poderia conciliar a educação, sua formação de base, com a decoração. "Era praticamente um caminho sem volta. Eu dava aula na parte da manhã e, à tarde, mexia na decoração do meu apartamento. Fiz um curso de design de interiores em dezembro e, no mês seguinte, comecei a atuar como decoradora. Quando voltaram as aulas, eu me vi diante de uma decisão extremamente difícil: seguir a ocupação de professora em meio ao caos ou abrir mão disso tudo, das minhas garantias e salário, para empreender. Decidi por abrir a minha empresa e percebi que poderia viver desse sonho", conta.

Bom preço, tempo recorde e criatividade são as chaves do sucesso

"Minha Casa Transborda"  - Acervo pessoal - Acervo pessoal
Pintura, instalações de marcenaria simples e troca de enxoval fazem parte dos pacotes da "Minha Casa Transborda"
Imagem: Acervo pessoal

Camila desempenha um trabalho conhecido como "fast décor", que ela chama de "organização decorada". Como o nome denuncia, os projetos exigem rapidez. "Eu vou até a casa da pessoa para uma visita, que custa, em média, 80 reais. Isso representa 10% do valor do meu projeto básico, que fica na casa dos 800. No início, o primeiro contato era gratuito, mas percebi que estava acumulando custos e, muitas vezes, as pessoas não seguiam com o contrato", diz.

Já na primeira vez na casa, ela faz um esboço do que seria a transformação e, na sequência, apresenta os custos. "Se o cliente concordar, vou às compras e a nova decoração do cômodo acontece na mesma semana, entregando o ambiente novo em apenas algumas horas, arrumado e limpo. Não dá tempo de encomendar nada pela internet", conta.

Ela garante que vender praticidade é a alma do negócio. "Acho que a pedagogia também me dá suporte, porque sempre trabalhei com ideias e soluções", argumenta. Para conseguir dar conta de cumprir a entrega rápida com excelência, Camila mantém uma equipe treinada, composta exclusivamente por mulheres. "Seria até hipocrisia da minha parte exercer um trabalho de empoderamento feminino no Instagram e contratar homens para executar meus projetos. Acredito muito na potência feminina", afirma.

As reformas são superficiais, com instalações de marcenaria e pinturas. Qualquer área pode receber o serviço, de quartos de bebê até espaços ao ar livre com piscina. "Não quebramos parede, trocamos piso ou mexemos em elétrica. Atendemos em média 15 projetos por mês. Todo serviço é terceirizado", conta.

A empresa tem faturamento líquido de, em média, 10 mil reais por mês. Atualmente, ainda acumula cerca de 40 clientes em fila de espera. Ainda assim, não é raro quando a equipe do "Minha Casa Transborda" é subestimada. "Ainda olham para a gente com desconfiança, como se não fôssemos dar conta do trabalho. Topamos com homens que não estão acostumados com mulheres de furadeira na mão. Só que, no final, todos sempre saem satisfeitos com o trabalho que realizamos", finaliza.