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Cabeleireiras negras fizeram história com prêmio por filme de Viola Davis

Viola Davis e Mia Neal durante a caracterização do filme "A Voz Suprema do Blues" - Reprodução Instagram Viola Davis
Viola Davis e Mia Neal durante a caracterização do filme "A Voz Suprema do Blues" Imagem: Reprodução Instagram Viola Davis

Júlia Flores

De Universa

27/04/2021 04h00

As responsáveis pela maquiagem e cabelo do filme "A Voz Suprema do Blues" fizeram história no Oscar 2021. Mia Neal e Jamika Wilson foram as primeiras mulheres negras indicadas e vencedoras na categoria em 93 anos de premiação.

Mia e Jamika trabalharam juntas por meses para chegar ao resultado exibido na produção da Netflix. Neal criou mais de 100 perucas para o filme, sendo que duas delas foram usadas pela atriz Viola Davis, que interpretou a polêmica cantora de blues Ma Rainey; uma das peças, inclusive, foi produzida com crina de cavalo e toda feita à mão pela própria Mia Neal.

A cabeleireira Jamika Wilson e o maquiador Sergio Lopez-Rivera produzem Viola Davis - Reprodução Instagram Viola Davis - Reprodução Instagram Viola Davis
A cabeleireira Jamika Wilson e o maquiador Sergio Lopez-Rivera produzem Viola Davis
Imagem: Reprodução Instagram Viola Davis

Jamika Wilson por sua vez é cabeleireira pessoal de Viola Davis desde 2008. Ela foi a chefe do departamento de cabelo e penteado da série "Como se livrar de um assassino" ("How to Get Away With Murder"). Em "A Voz Suprema do Blues", Jamika trabalhou lado a lado com Mia para caracterizar Viola como Ma Rainey. Além das duas profissionais, Sergio Lopez-Rivera, maquiador pessoal de Davis, também recebeu o prêmio.

"Eu sei que um dia isso não será incomum"

Viola Davis - Reprodução - Reprodução
Viola Davis em "A Voz Suprema do Blues": perucas e maquiagem carregada para viver Ma Rainey
Imagem: Reprodução

Em entrevista para a Vogue americana, Neal revelou detalhes dos bastidores do filme. Disse que recebeu a "permissão" de Viola para focar na personagem e não na atriz. "Ela não estava preocupada em como apareceria nas filmagens. Ela queria que oferecêssemos ao público a mesma experiência que Ma Rainey sentia ao cantar", contou.

Já Wilson disse à reportagem, publicada antes do último domingo (25), que a indicação ao Oscar foi uma experiência surreal, com sair do próprio corpo. "Eu não consigo acreditar nisso. É uma grande honra e bênção. Não era o meu objetivo ser indicada para um prêmio, queria apenas trabalhar e fazer o meu melhor", explicou Jamika.

A vida nos bastidores

O processo de criação do filme começou quando a responsável pelo figurino, Ann Roth, compartilhou sete fotos da artista com a equipe. "Existem apenas sete fotos da verdadeira Ma Rainey e eu só consegui encontrar duas online. O resto delas nem mesmo estão na internet", informou Neal. "Agora percebo como trabalhar com uma equipe criativa foi importante. Tivemos que ter muitas conversas para garantir em que pé estávamos com a personagem", relatou à publicação.

Foi Roth quem informou Neal que Ma Rainey usava peruca de crina de cavalo. Os fios foram importados da Inglaterra e chegaram aos Estados Unidos cobertos de esterco e ovos de piolho. Mia protegeu-se com roupas de plástico, untou os cabelos com óleo inúmeras vezes e ferveu o material. Depois do processo, as mechas amoleceram, mas continuaram encaracoladas, explicando a razão da artista optar por este produto.

Ela era uma mulher negra que viajava durante os anos 20. Ela não poderia ser atendida em todos os salões, então ela tinha que ter algo em sua bolsa e estar sempre pronta para performar

Já não bastasse tanto trabalho, os fios ainda eram mais grossos que os convencionais e Mia levou o dobro de tempo para tecer os cabelos na renda. Ann Roth também ganhou a categoria para qual estava indicada (Melhor figurino) e se tornou, aos 89 anos, a mulher mais velha a levar uma estatueta para casa. Mais um quilate para abrilhantar a passagem de "A Voz Suprema do Blues" no Oscar 2021.