Acusado de abuso sexual, Woody Allen diz que é "perfeitamente inocente"

Na primeira entrevista de Woody Allen na televisão americana em quase 30 anos, conduzida em julho e exibida neste domingo (28) no Paramount Plus, o cineasta mais uma vez negou que tenha abusado sexualmente de sua filha, Dylan Farrow.

A conversa, conduzida pelo correspondente da CBS News, Lee Cowan, para a "CBS Sunday Morning", ocorreu em junho passado, mas foi lançada após a conclusão da série documental da HBO, "Allen Vs. Farrow", em que sua ex, a atriz Mia Farrow, afirmou que o artista usou sua filha adotiva Soon-Yi Previn como "arma" contra ela após o polêmico divórcio, e que ele tentou fazer com que Previn, atual mulher do cineasta, se revoltasse com a mãe. Allen não participou dessa série.

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Allen, como sempre, nega as alegações específicas feitas por Dylan Farrow, insistindo que ela foi encorajada por sua mãe, que estava brava com o rompimento do relacionamento de 12 anos, em 1992, depois que a atriz descobriu que Allen estava tendo um caso com Soon-Yi Previn. Os dois se casaram em 1997.

"É tão absurdo, mas a mancha permaneceu e eles ainda preferem se agarrar, se não à acusação de que molestei Dylan, então à possibilidade de que eu a molestei", disse Allen a Cowan. "Nada do que eu já fiz com Dylan em minha vida pode ser mal interpretado assim."

Cowan diz ainda no programa que Allen já foi reverenciado, mas que "hoje é insultado por muitos". Depois de dizer como as entrevistas com Allen são raras, Cowan afirma: "Alguns meses atrás, Woody Allen lançou um livro e nos ofereceram a oportunidade de falar com ele no pátio de sua casa em Manhattan. Para ser honesto, com a polêmica turbulenta, a chuva de opiniões, tanto a favor quanto contra, consideramos cuidadosamente se deveríamos fazer essa entrevista. Mas você está prestes a ver. Quer você acredite ou não em Woody Allen, goste ou não dele, esperamos que você pelo menos queira ouvir o que ele tem a dizer. "

A atitude defensiva de Allen em face da magnitude das alegações de Dylan Farrow e as origens de seu relacionamento com Soon-Yi soa insensível e indiferente.

"Não havia lógica nisso", disse Allen sobre as acusações de Dylan Farrow. Ele também minimiza seu relacionamento com Mia Farrow: "Eu nunca morei com Mia, nunca dormi na casa de Mia em todos os anos que saí com ela. Tínhamos um relacionamento, mas nunca seria um relacionamento conjugal. "

"Allen v. Farrow" contradisse explicitamente essas afirmações que Allen fez durante anos, mostrando em filmagens e entrevistas com os filhos de Mia Farrow o quanto Allen era uma figura paterna para todos eles.

Quando Cowan o pressiona sobre seu relacionamento com Soon-Yi Previn e seu início, Allen diz: "Soube-se antes de estarmos prontos para torná-lo conhecido", referindo-se a quando Mia Farrow encontrou fotos de Previn na casa de Allen. "Allen v. Farrow" apresenta testemunhas de que a relação sexual com Previn começou quando ela ainda estava no colégio, em vez de depois que ela começou a faculdade.

Cowan ressalta que Allen não se desculpa pela situação em suas memórias. Ele também pergunta se era apropriado para ele começar um relacionamento com a filha de Farrow: "Não, nunca houve um momento que não fosse a coisa mais natural do mundo", diz Allen. "Não, isso não me fez pensar. A relação com Soon-Yi era muito natural. "

Ele também oferece como prova de sua inocência o fato de que ele e Soon-Yi foram autorizados a adotar duas meninas que agora são adultas. "Eles não dão duas meninas para alguém que acham que é um pedófilo", diz Allen.

Allen chama Dylan Farrow de "uma boa criança" e insiste que ela foi induzida a imaginar o abuso. Em "Allen v. Farrow", vários membros da família Farrow e amigos atestam encontros perturbadores entre Allen e Dylan, que ela descreve durante sua entrevista com King —que Allen era implacavelmente ligado a ela e também a pedia para ir para a cama com ele quando ele estava de cueca.

"Ela era uma boa criança", diz Allen a Cowan. "Eu acredito que ela pensa assim. Não acredito que ela esteja inventando. Ela não está mentindo. Eu acredito que ela acredita nisso. "

Cowan pergunta a Allen o que o cineasta pensa sobre atores que, nos últimos anos, expressaram publicamente seu pesar por trabalhar com ele. "Eu acho que eles são tolos, Allen afirma. "Eles são bem intencionados, mas são tolos. Tudo o que eles estão fazendo é perseguir uma pessoa perfeitamente inocente e estão permitindo essa mentira. "

O segmento ignora o fato de que a carreira de cineasta de Allen nos EUA está efetivamente encerrada. "A Rainy Day in New York", que a Amazon descartou após considerá-lo inviável na sequência do movimento #MeToo revivido, estreou na Europa em 2019 e teve um pequeno lançamento nos EUA no ano passado. Cowan lembra que Allen até completou seu trabalho seguinte, "Rifkin's Festival", mas que também é improvável de ter um lançamento significativo.

Allen afirma não se importar.

"Eu me importo que algum cara sentado em casa, ou alguma mulher, diga: 'Eu não me importo com o que os investigadores dizem, eu ainda acredito que ele é um pedófilo'? É tão significativo quanto uma pessoa sentada em casa dizendo: 'Eu acredito nele, e ele é uma pessoa maravilhosa, e ele foi maltratado'. Isso e 15 centavos me colocam no metrô. "