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Djamila Ribeiro: "Pandemia impacta todos, mas mulheres negras sofrem mais"

A filósofa Djamila Ribeiro falou em evento da IBM Imagem: Marlos Bakker

Mariana Gonzalez

De Universa, em São Paulo

22/03/2021 17h36

As mulheres são as mais afetadas pela pandemia, principalmente no campo econômico — e o quadro fica ainda mais grave no caso das mulheres negras, lembrou hoje a filósofa Djamila Ribeiro, em conversa com a presidente da IBM Katia Vaskys sobre inclusão e diversidade no mundo corporativo. Para ela, é papel das empresas perceber e reduzir essa desigualdade.

"A pandemia impacta toda a sociedade, mas as mulheres negras são as que mais sentem o impacto, especialmente num país em que o cuidado com a casa e outras pessoas da família é muito ligado ao feminino. E a população negra e pobre é a que mais depende do sistema público de saúde", disse. "As empresas também são afetadas pela pandemia, claro, mas também têm a oportunidade de refletir sobre essas questões. Se essa é a população que mais sofre, como podem contribuir para mudar essa realidade", questionou.

Djamila acredita que é importante levar debates de desigualdade para dentro das grandes empresas porque "o mundo corporativo faz parte da sociedade e reproduzo os valores da sociedade".

Katia Vaskys, presidente da IBM, concorda e acredita que a pandemia "exige das empresas um olhar flexível" para discutir novos modelos de trabalho remoto, que permitam que os profissionais, especialmente as mulheres que têm filhos, possam balancear melhor a vida pessoal e profissional.

"Diversidade vai ser o debate mais longo desse país"

Djamila Ribeiro defendeu que empresas tenham núcleos de diversidade, pensando medidas de inclusão e, principalmente, acolhimento de mulheres, pessoas negras, LGBTQIA+ e de regiões periféricas dentro da empresa.

"Se o ambiente corporativo permanece hostil, isso contribui para afastar as pessoas do mercado de trabalho, porque elas não conseguem permanecer. Além de garantir o acesso, as empresas têm que fazer um trabalho constante de acolhimento, inclusive com outros colaboradores da empresa", defendeu. "É importante que as empresas discutam diversidade para que a gente desaprenda o que já aprendeu e reconstrua uma outra forma de pensar, mais empática e que não ofenda e nem afaste ninguém".

A filósofa afirmou que esse é um trabalho constante, que deve ser feito de tempos em tempos, porque "diversidade vai ser o debate mais longo que esse país já teve", até que todos os ambientes reflitam proporcionalmente a sociedade.

Ela argumentou que, enquanto empresas e recrutadores não tiverem um olhar mais sensível para a diversidade e não desconstruírem estereótipos — ela cita, por exemplo, a ideia de que mulheres não são boas com números ou que pessoas LGBTQIA+ precisam trabalhar com estética — "muitos talentos serão perdidos".

Djamila argumentou, ainda, que quanto mais diverso um quadro de funcionários, mais a empesa ganha em inovação e criatividade:

"Quanto mais diverso o ambiente, mais criativo será. Pessoas que vêm dos mesmos lugares sociais e tiveram mais ou menos as mesmas experiências, têm mais dificuldade de inovar, porque têm uma visão de mundo restrita", falou. "Sem diversidade, a gente acaba achando que a nossa realidade é a realidade de todo mundo, e esquece outras possibilidades".

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