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Caso Saul Klein: mulheres relatam oferta financeira para "mudar de lado"

Pedro Lopes

De Universa

10/03/2021 15h14

Pelo menos duas mulheres dentre as 32 que acusam Saul Klein, filho do fundador das Casas Bahia, Samuel Klein, de aliciamento e estupro relatam terem recebido ligações de números desconhecidos com ofertas em dinheiro para que "mudem de lado". O conteúdo das ligações foi gravado (você pode ouvir os áudios no vídeo acima) e faz parte do inquérito que investiga a conduta do empresário. Por meio de seus advogados, Klein afirma que não fez nem autorizou ninguém a fazer os telefonemas em seu nome.

A reportagem apurou que foram feitas ligações para duas mulheres que constam como vítimas de aliciamento e estupro no processo, na tarde da sexta-feira (5). Em uma delas, um homem não se identifica e orienta a garota a "vir ao condomínio e pedir para falar com o caseiro". Sem dar maiores detalhes, avisa que "não adianta você retornar nesse número. Só precisa mudar de lado, você vai ser muito bem recompensada", e desliga o telefone quando a mulher pergunta com quem está falando.

Em outra ligação, a mesma voz masculina chama outra mulher pelo nome, e diz que "o patrão pediu para te passar o recado. Quer saber se está disposta a mudar de lado. Vai ser muito bem recompensada, só tem que dar um jeito de vir ao condomínio, e pedir para chamar o caseiro. Você vai ser muito bem recompensada". A mulher pergunta, repetidamente, com quem está falando, mas a voz responde "não trabalhamos com nomes", e repete as instruções.

Um grupo de 14 mulheres denunciou Klein ao Ministério Público em novembro do ano passado por aliciamento de mulheres e estupro. A Justiça, ainda em 2020, concedeu medida protetiva às mulheres, retendo o passaporte do empresário e concedendo ordem que o impedia de contatar ou se aproximar das supostas vítimas.

Em fevereiro deste ano, outras 18 mulheres solicitaram entrada no processo. No último dia 2, entretanto, ao analisar a inclusão de novas denunciantes, o juiz Fábio Calheiros do Nascimento, da 2ª Vara Criminal de Barueri, revogou as medidas protetivas concedidas às 14 autoras originais da ação. A advogada Gabriela Souza, que representa as 32 mulheres, entrou com pedido para reestabelecer a proteção.

As ligações recebidas pelas duas mulheres já foram relatadas às autoridades responsáveis pelo inquérito policial. A defesa de Saul Klein, liderada pelo advogado André Boiani, negou à reportagem que o empresário telefonou ou mandou que alguém telefonasse para as autoras da ação. Boiani afirma que não faria sentido que seu cliente adotasse uma atitude como essa após a revogação da medida protetiva.

A advogada Gabriela Souza afirmou que não pode comentar o assunto porque as investigações correm em sigilo de Justiça.

UOL publicou detalhes dos eventos e rede de aliciamento em dezembro

No dia 25 de dezembro, o UOL publicou reportagem detalhando o funcionamento de um esquema de prostituição e aliciamento mantido pelo empresário Saul Klein por uma década —a reportagem manteve, por meses, contato com mulheres que não estão entre as 32 que levaram a denúncia ao MP.

De acordo com os relatos, a rede funcionava desde 2008, com festas e eventos que duravam dias e reuniam dezenas de garotas na casa de Klein, em Alphaville, e em seu sítio, em Boituva (SP). Nesses locais, dizem as mulheres, elas foram vítimas de estupro.

A defesa afirma que Klein contratava uma empresa para agenciar mulheres para festas e está sendo "vítima de um elaborado esquema de extorsão depois de cessar a contratação dela".

As mulheres relataram ao UOL que eram submetidas a controle de peso, pressionadas por terceiros a realizarem procedimentos estéticos e a manter relações sexuais com Klein, sempre sem o uso de preservativos, mediante remuneração de R$ 3.000 a R$ 4.000 por semana. Neste processo, várias delas tiveram problemas de saúde e doenças sexualmente transmissíveis.

A defesa de Klein sustenta que o empresário era um "sugar daddy" - termo que designa homens mais velhos que têm o fetiche de sustentar financeiramente mulheres mais novas em troca de afeto e/ou relações sexuais - mas negam que tenha havido, nos eventos, qualquer tipo de relação sexual não consensual. *Colaborou Camila Brandalise

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