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"Fui descoberta na fila da cesta básica e agora quero desfilar no exterior"

Rebeca viu o sonho de virar modelo depois que seu vídeo viralizou entre famosas - Divulgação/@waymodel/@ffw/ @t_borba
Rebeca viu o sonho de virar modelo depois que seu vídeo viralizou entre famosas Imagem: Divulgação/@waymodel/@ffw/ @t_borba

Rebeca Farias, em depoimento a Nathália Geraldo

De Universa

19/02/2021 04h00

"Sou de Salvador, da comunidade do Pé Preto, e em novembro do ano passado cheguei da casa do meu pai, no interior da Bahia, para morar com minha mãe, que tinha acabado de ter um bebê. A gente mora nessa comunidade, que é simples e ninguém dá nada por ela, mas gosto porque é tranquilo.

Há três meses, eu fui buscar a cesta básica para gente no projeto Quabales. Ali, na fila de espera, o Marivaldo dos Santos, responsável pelo projeto, ficava conversando com todo mundo. Ele me perguntou minha idade e qual era meu sonho de vida. Eu disse que tinha 15 anos e falei na hora que queria ser modelo.

Quando eu era bem pequena, me lembro de ver umas mulheres desfilando em uma campanha de TV. Com uns 8 anos, vi a Gisele Bündchen na passarela. Passei a admirá-la. Eu até fazia algumas poses de modelo em casa para ensaiar, e durante um tempo, falei para minha mãe que queria ser modelo.

Ela e minha tia tentaram correr atrás desse sonho por mim. Foram ver curso de modelo, agência, e até book. Só que ele custava uns R$ 1.200, a gente não tem condição de pagar.

O Marivaldo falou para eu gravar um vídeo falando sobre meu sonho, pedindo ajuda para fazer o book. E ele não tem relação nenhuma com o mundo da moda. Só que algumas pessoas que o conhecem mandaram para a Regina Casé, que agora eu falo que é minha madrinha, e aí foi para Taís Araújo, Ivete Sangalo. Fiquei sem acreditar! Logo eu?

Depois de chegar no pessoal "top" da moda, o Paulo Borges, da São Paulo Fashion Week, viu minha mensagem. E me chamou para um ensaio fotográfico na minha comunidade mesmo, para mostrar de onde eu vim. O maquiador e fotógrafo Fernando Torquatto, de quem eu já conhecia o trabalho pelas redes sociais, também fez outro comigo.

Ali, eu me senti modelo, parecia que eu já ia sair para desfilar numa passarela. Eles me conduziram nos ensaios para fazer as poses e eu só conseguia pensar: esse é meu sonho realizado.

Sempre fui vaidosa, cuidava bastante do cabelo, faço fitagem para ele ficar mais definido. Da pele, nem tanto, mas agora dou mais atenção. E também faço maquiagem para gravar videos no Instagram, em que interajo com o público. Estou até fazendo um curso de mídias sociais para produzir esse conteúdo.

Mas antes de chegar aqui, eu já sofri muito bullying. Foi uma fase bem dura, porque eu tenho 1,88 m e as pessoas falavam que eu era muito alta, muito seca. Também comentavam da minha cor e me chamavam de tudo que é nome. Isso atingiu bastante meu psicológico, mas não deixei me abalar tanto. Se eu deixasse, poderia estar hoje com depressão.

Se duvidar, até hoje eu sofro bullying. E isso afeta quem não tem uma mente boa. Também fico triste com os episódios de racismo com pessoas negras.

O racismo é uma coisa tão desnecessária, e tem gente que faz por diversão, para chamar atenção. Por outro lado, fico feliz que várias mulheres como eu estão conseguindo rebater isso, sem ficar deprimidas, reconhecendo que é da raça negra e se aceitando do jeito que é. E é para a pessoa falar que é linda, que é maravilhosa, o que quiser.

rebeca farias - Divulgação/Fernando Torquatto - Divulgação/Fernando Torquatto
Rebeca Farias fez ensaio fotográfico com Fernando Torquatto, o maquiador queridinho das famosas
Imagem: Divulgação/Fernando Torquatto

As meninas nas redes sociais e aqui mesmo no meu bairro me dizer que sou uma inspiração. E eu dou conselho para elas seguirem no sonho, para ter fé e pé no chão. Passei a ser agenciada pela Way Model, e me vejo trabalhando daqui a uns anos pelo mundo, viajando por aí, com várias marcas que abram portas para a diversidade.

Ficaria feliz em representar o Brasil em passarelas, em campanhas, de marcas famosas. Não sei quais, mas sei que existem muitas e quero estar com aquelas que acreditem no meu potencial.

Com o primeiro dinheiro que eu ganhar, quero dar uma casa para minha mãe, que é diarista. Eu comecei a carreira por causa dela. Depois, ajudar minha comunidade, porque eu quero dar muito orgulho para o lugar de onde eu vim e mostrar para onde eu vou."