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Aos 19 anos, ela virou sócia da avó e vende 5.000 peças de roupas por mês

Bruna Fiorot, que criou uma empresa com a avó Imagem: Arquivo pessoal

Marcelle Souza

Colaboração para Universa

18/02/2021 04h00

Bruna Fiorot, 19, era estudante do ensino médio de uma escola pública do Espírito Santo quando decidiu juntar dinheiro para conquistar um sonho: fazer um intercâmbio fora do país. Nessa época, ela tinha 16 anos, nunca tinha viajado de avião e seus pais não tinham dinheiro para bancar uma faculdade.

Pensou um pouco, olhou o guarda-roupa e decidiu falar com a avó, Zilda Vicentini, 63, que era costureira havia muitos anos. "Eu tinha dificuldade de encontrar as roupas que eu queria porque sou muito pequena, e minha avó sempre fazia uns tops que as minhas amigas amavam", conta.

Ela pegou parte da bolsa de R$ 435 que recebia como jovem aprendiz e comprou tecidos para produzir algumas peças como as que tinha em casa. Colocou tudo em uma sacola e passou a mostrar para as colegas na hora do intervalo. Em uma semana, os tops acabaram.

O lucro naquele momento foi de aproximadamente R$ 1.000. "Ver aquela quantidade de dinheiro já foi muito para mim. Fiquei impressionada com a rapidez com que consegui vender tudo", conta. O valor das primeiras vendas nem foi para o cofrinho, porque ela decidiu reinvesti-lo, usando tudo para comprar mais tecidos e fazer novos modelos.

A empreendedora Bruna Fiorot na fábrica em que produz as peças com a avó Imagem: Arquivo pessoal

Avó e neta passaram então a trabalhar por encomenda: recebiam pedidos pelo Whatsapp e faziam, elas mesmas, as entregas pela cidade. "Nessa época, eu era a única da minha sala que não tinha celular, mas a minha avó me deu um para trabalhar. Abri um perfil no Instagram e comecei a divulgar as peças", conta. Só tinha um detalhe: ela mesma não sabia publicar na rede social. "Aprendi tudo pesquisando na internet", diz.

Em três meses, os pedidos aumentaram tanto que a avó deixou o emprego na confecção onde trabalhava para se dedicar integralmente ao novo negócio, que passou a se chamar Loja da Bruna.

Logo depois, foi a vez da neta deixar o estágio como jovem aprendiz para mergulhar de cabeça na vida de empreendedora. "Tomei coragem e pedi demissão. Meu chefe, com quem eu tinha uma ótima relação, ficou surpreso e achou que eu estava grávida", ri a jovem.

Hoje, três anos depois, o negócio tem uma loja física no município de Serra (ES) e uma virtual, e comercializa cerca de 5.000 peças por mês. Avó e neta viraram sócias e, além delas, a empresa conta hoje com mais 13 costureiras, três funcionários da área administrativa e duas empregados no setor de expedição e estoque. Ela não divulga o faturamento.

Bruna veste as roupas de que vende para ajudar a divulgar os produtos Imagem: Arquivo pessoal
Ela mesma cria estratégias de divulgação da marca nas redes Imagem: Arquivo pessoal

Ela trabalha 12 horas por dia e aprende tudo na prática

Desde o começo, é Bruna quem indica modelos, tecidos e cores das peças, define estratégias de divulgação e de reposição, além de cuidar da parte administrativa da empresa. "Eu amo roupa, tocar em tecido, e acho que isso vem da relação com a minha avó. Quando era criança, vivia no ateliê, me enrolava em um pedaço de pano e saía desfilando. Até hoje é assim", diz.

Ela também figura como modelo das peças da loja e gerencia as redes sociais da marca. Desde 2019, quando terminou o ensino médio, dedica ao menos 12 horas por dia à empresa. As peças são escolhidas de acordo com o gosto de Bruna, que aos 19 anos, diz entender bem o que as clientes querem, mas também capta ideias que chegam pelas redes sociais.

Na fábrica, Zilda, responsável pela modelagem e o processo de confecção, faz as ideias virarem realidade. "Minha avó nasceu para a costura, mas nunca teve alguém para alavancar o seu negócio. Eu cheguei para fazer essa confusão na vida dela", diz Bruna.

Desde o começo, o trato é esse: a avó entraria na sociedade desde que não precisasse mexer com a parte administrativa e financeira do negócio. Sobrou para a neta, que, sem nenhuma experiência na área, precisou se virar. "Eu tive que aprender toda a parte burocrática na marra: finanças, notas fiscais, natureza de operação, mexer no sistema, todo o processo de contabilidade, organização da loja, por exemplo. Nunca fiz curso, vi tudo na prática. Ficava até as 22h na fábrica lendo manuais e estudando", diz.

Bruna Fiorot posa com a matéria-prima da fábrica Imagem: Arquivo pessoal

"Eu era muito novinha, um dia surtei"

Em alguns momentos, ela se sentia sozinha e, apesar de tanta dedicação, o rápido crescimento da loja foi muita pressão para uma adolescente. "Eu era muito novinha, tinha 17 anos. Um dia eu surtei, falei que não aguentava mais. A gente foi na contadora para avisar que ia fechar o negócio, mas ela me convenceu de que valia a pena continuar", conta.

A prova veio quando as clientes começaram a fazer fila na porta da loja nos dias de liquidação e os produtos esgotaram na Black Friday. "Eu chorava. Dizia para a minha avó que não estava acreditando."

Novos planos

No início da pandemia, elas tiveram que se adaptar à nova realidade. A confecção parou por um tempo e houve falta de matéria-prima. Bruna então reforçou as publicações nas redes sociais e chegou a buscar as costureiras em casa para que não tivessem que se deslocar no transporte público.

O resultado foi que, apesar de as vendas na loja física caírem 46%, as do site aumentaram 90% só no primeiro mês do isolamento social. O plano agora é ampliar a loja, investir mais em marketing e na plataforma de e-commerce, além de melhorar a logística de entrega dos produtos. "Eu ando feliz na rua, adoro o que eu faço, estou cheia de sonhos e quero botar tudo em prática. Eu não paro", diz a jovem, que desistiu do intercâmbio e agora quer fazer faculdade de marketing.

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